domingo, 11 de março de 2012

A Ilha e Os últimos soldados da Guerra Fria – jornalismo de verdade sobre Cuba

Por Alexandre Haubrich no Jornalismo B
 
“Cospem em nós, e os jornais dizem: chove”. Assim escreveu Eduardo Galeano. Esqueceu de contar que, quando chove, alimentando a plantação, os jornais dizem: cospem. A deseducação é a tarefa cumprida pelos donos da mídia a serviço dos donos do mundo. E os ataques aos bastiões de defesa popular são estratégia básica.

 Sobre Cuba, por exemplo, a velha mídia brasileira mente, distorce e omite. Entrevista Yoani Sánchez, blogueira desmascarada dia após dia. Não entrevista o povo, não fala sobre o criminoso bloqueio econômico perpetrado pelo governo norte-americano, não fala sobre os cinco prisioneiros políticos cubanos trancafiados nos EUA.
 
Há pouco tempo vem surgindo a internet (cada vez mais popular) como alternativa para furar o outro bloqueio sofrido por Cuba: o bloqueio midiático.  Mas em 1976 não era assim, e Fernando Morais foi um dos próceres dessa grande derrubada de muros que é a chegada de informações reais sobre Cuba. O livro A Ilha é a mais importante obra de um brasileiro sobre o governo revolucionário e o povo cubano, e foi publicado no Brasil quando a repressão da Ditadura Militar ainda estava em alta.


A obra dialoga perfeitamente com o mais recente livro de Fernando Morais, Os últimos soldados da Guerra Fria, onde o escritor toca em um dos temas que parecem proibidos por aqui – sim, ainda há censura no Brasil, mas ela é, sobretudo, a censura do dinheiro: os cinco cubanos que são presos políticos nos EUA.

Os últimos soldados é escrito com a sensibilidade à flor da pele, retratando os personagens como os seres humanos complexos que são, personagens “redondos”, com fraquezas, fortalezas, defeitos e qualidades. E os insere em um contexto de agressão à Cuba partindo sempre de Miami, sob as barbas do governo norte-americano e, não raro, com apoio da CIA.

O livro complementa A Ilha no sentido de que ultrapassa as fronteiras de Cuba sem ignorar a experiência do povo cubano, enquanto a obra de 1976 é um retrato impressionante e cheio de detalhes da vida desse povo. Se A Ilha retrata uma população que, mesmo nas dificuldades, luta por sua revolução e por sua sobrevivência, Os últimos soldados da Guerra Fria mostra o desrespeito norte-americano à soberania dos cubanos e os riscos a que estes se submetem para defender o que conquistaram.

Nos dois livros, Fernando Morais faz um registro histórico da Revolução Cubana em todo o seu significado – as conquistas do povo cubano e a afronta à ordem capitalista encabeçada pelo governo norte-americano. E mostra que o jornalismo pode, sim, ir além do fugaz e pode, sim, ir além das obviedades.

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