domingo, 5 de fevereiro de 2012

A verdade sobre a emigração cubana!


Fonte: OUTRO LADO DA NOTÍCIA (não deixe de visitar)
Do livro Biografia a duas vozes

Fidel Castro: Mais de 90 por cento dos que emigraram foi, como os mexicanos ou outros, por razões econômicas e não porque não tinham emprego, ou porque não tinham acesso à educação, ou porque não tinham serviços médicos, ou não tinham acesso a alimentos a preços justos.

Ignacio Ramonet: E por que emigraram então?

Fidel Castro: Emigraram porque queriam um automóvel; porque queriam viver em uma sociedade de consumo, muito divulgada. Seria possível perguntar também aos chineses: por que emigram? Todo mundo fala dos grandes avanços que têm a China, reais, objetivos, melhorias consideráveis, não só com a revolução tiveram terras e outros direitos e possibilidades; refiro-me à China que avança a um ritmo de crescimento de 10 por cento ao ano, e, no entanto, vez ou outra vem um navio carregado com oitocentos ou mil chineses que emigram clandestinos.

Há uma pressão migratória mundial, como a que vocês conhecem na Europa, para onde emigram da Argélia, emigram do Marrocos, de toda a África emigram. Segundo a Europa, o Marrocos é uma maravilha, um aliado; no entanto, os marroquinos atravessam o estreito de Gibraltar e há acidentes também, mesmo a distância sendo mais curta.

Ignacio Ramonet: Há muito acidentes.

Fidel Castro: Lá?

Ignacio Ramonet: Lá há dezenas de mortos a cada ano, que atravessam o estreito.

Fidel Castro: Mesmo?! Mais que aqui?

Ignácio Ramonet: Provavelmente mais.

(Uma nota explicativa de Ramonet diz: Estima-se que mais de 110 mil marroquinos e subsaarianos tentam, a cada ano, atravessar clandestinamente o estreito de Gibraltar. Poucos conseguem. Segundo dados das autoridades de Madri, nos nove primeiros meses de 2003 foram detidos 15.985 estrangeiros na costa espanhola, a bordo de balsas, procedentes do Marrocos. De acordo com a Associação de Amigos e Famílias de Vítimas da Imigração Clandestina (Afvic), entre 1997 e 2001 cerca de 10 mil emigrantes clandestinos procedentes do Marrocos perderam a vida ao tentar atravessar o estreito.)

Fidel Castro: Mesmo estando tão perto?

Ignacio Ramonet: Mesmo assim.

Fidel Castro: E os mexicanos, apesar do Nafta? Na fronteira do México morrem já cerca de quinhentos por ano. Não só do México, mas também da América Central, que resolvem ir para os Estados Unidos, mas a maioria são mexicanos; outros costumam ir por mar.

Da República Dominicana emigraram, nos últimos vinte anos, mais de 1 milhão de dominicanos, e atravessam o canal da Mona, que é muito perigoso, e onde muitos morrem. Percebe? E vão para Porto Rico. Desse modo, há mais de 1 milhão de dominicanos emigrantes. E a maior renda que tem esse país é a proveniente das remessas.

Ignacio Ramonet: Enviadas pelos emigrantes?

Fidel Castro: Sim. Mas é muito maior do que qualquer outra renda, maior que os salários de muitas maquiladoras da República Dominicana.

Ignacio Ramonet: Vocês reivindicam a suspensão dessa Lei de Ajuste porque é desumana?

(Nota minha, Osvaldo Bertolino: A máxima expressão da política migratória criminosa, imoral e discriminatória dos Estados Unidos contra Cuba é a Lei de Ajuste Cubano, engendro legislativo adotado em 1966, com o deliberado propósito de incentivar as saídas ilegais de cidadãos cubanos para esse país. Única deste tipo no mundo, oferece aos cubanos que chegam aos Estados Unidos por vias ilegais privilégios que não recebem cidadãos de nenhuma outra nacionalidade nem país.)

Fidel Castro: A Lei de Ajuste ocasionou a perda nem sei de quantas vidas, milhares de vidas. Até mesmo nunca chegam a informar quem foi para lá, se alguém morreu — nunca! É o único país no mundo.

Se fizessem isso com o México... Não peço a Lei de Ajuste para os demais países, porque essa é uma lei assassina; mas sustento que, se defendem, em virtude do neoliberalismo, o livre trânsito de capital e de mercadorias, deveriam permitir, como têm os europeus no espaço Schengen, o livre trânsito de pessoas. É o que eu defendo e defenderei, e não uma Lei de Ajuste que leve a vias ilegais e cause a morte de muitas pessoas.

Quanto estão morrendo nesse "muro"? Falava-se do Muro de Berlim, concordo, um acontecimento histórico. Todo mundo, se quiser, pode investigar quais foram as causas, em que condições, os perigos da Guerra Fria ali em Berlim, os tanques se enfrentando, a terrível guerra ideológica e de propaganda entre consumismo e os países da Europa industrialmente mais atrasados.

Não vou discutir as causas que levaram, em 1961, à construção do Muro de Berlim, mas posso perguntar: quais as causas desse "muro" de 3 mil quilômetros entre o México e os Estados Unidos? Estão morrendo umas quinhentas pessoas por ano na fronteira do México com os Estados Unidos, em terras que eram também território hispânico, e onde se sabe quem são os milhões de pessoas sem documento, milhões de ilegais! Muitos dos quais estão separados de suas famílias já há muito tempo.

Ignacio Ramonet: Você disse que os que vão embora de Cuba são emigrantes "econômicos", assim como os mexicanos, os dominicanos e os argentinos?

Fidel Castro: Isso mesmo. Você me fez uma pergunta: por que emigravam? E eu disse que as nossas emigrações são como as dominicanas, as mexicanas, países que não estão bloqueados, que não são socialistas, em que há automóveis aos montes. Têm muitas dessas coisas das sociedades de consumo, e não existe uma Lei de Ajuste, que lhes dê direito a entrar legalmente nos Estados Unidos, ainda que tenham acabado de cometer um crime, como roubar um barco. Uma Lei de Ajuste, que é o estímulo fundamental a esses emigrantes que saem ilegalmente daqui.

No México não há uma Lei de Ajuste; se houvesse, uns 30 ou 40 por cento da população mexicana emigraria para os Estados Unidos. Com as milhares de fábricas que estão montando ali que pagam salários um pouco mais altos que o salário nacional, se tivessem uma Lei de Ajuste, em torno de 30 ou 40 milhões de mexicanos estariam do outro lado. Não posso fornecer um dado exato, mas sei que na Argentina, e antes da crise...

Ignacio Ramonet: A de dezembro de 2001?

Fidel Castro: Sim. Mas já desde antes, por problemas e dificuldades, e também porque aquela foi uma nação que se formou com muitos espanhóis que emigraram, e italianos que emigraram depois da Segunda Guerra Mundial. Na Argentina, trinta por cento!

Emigraram também muitos profissionais, cientistas, intelectuais, eminentes professores, porque os norte-americanos levam o que há de melhor. Mesmo que essas pessoas costumem ir pela via legal. O roubo de "mentes" não se faz com pessoas roubando barcos e correndo riscos, ou cruzando a fronteira arriscando a vida.

Eu acho que a Argentina está em melhor situação econômica que o México, com nível de vida melhor que o México, só que tanto os mexicanos como os argentinos que saem de seus países são chamados de emigrantes.

Ignácio Ramonet: E não de refugiados políticos, como os cubanos.

Fidel Castro: Sim, todos que saem de Cuba são "exilados". Há mais de quarenta anos, todos os que saem daqui são "exilados", "inimigos do regime socialista". E acontece que os cubanos têm os níveis mais altos de educação entre os latinos, e, portanto, nos Estados Unidos, têm os mais altos salários entre os latinos, porque muitos dos que chegam de outros lugares aos Estados Unidos são analfabetos, semi-analfabetos, gente que não tem profissão, e só vão para colher tomates, vegetais, uma força de trabalho mais barata. Na realidade, se houvesse uma Lei de Ajuste para a América Latina, acho que mais da metade dos residentes nos Estados Unidos seriam latino-americanos.

Agora, imagine uma Lei de Ajuste para a China, para os países da Ásia, até mesmo da Europa? Nem dá para imaginar quanta gente das regiões pobres da Europa ou desempregados emigrariam para os Estados Unidos. Para cada norte-americano nativo, dos nascidos ali, haveria, pelo menos, dois ou mais vindos de fora. Em resumo: invadiriam os Estados Unidos, ocupariam esse país se houvesse uma Lei de Ajuste mundial, como há uma Lei de Ajuste para Cuba. Essa Lei de Ajuste já tem 39 anos, e dá esses direitos aos que seqüestram um barco ou um navio. É um estímulo ao crime.

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