quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Cuba não é colônia dos EUA como no tempo da ditadura de Batista

Outdoor em Cuba: "Revolução é sentido do momento histórico" | Foto: La Demajagua

Por Davis Sena Filho

O bloqueio econômico, financeiro e comercial a Cuba, imposto pelos Estados Unidos, é um dos bloqueios mais longos que se tem notícia no mundo contemporâneo, além de ser considerado cruel pelos organismos internacionais como a ONU. No dia 7 de fevereiro, o bloqueio completou 49 anos, ou seja, quase meio século e foi transformado em lei em 1992 e 1995. O ex-presidente, Bill Clinton, ampliou o embargo comercial ao pequeno país caribenho em 1999, no que acarretou a proibição de filiais estrangeiras de empresas do país yankee de comercializar com Cuba valores que ultrapassem a US$ 700 milhões.

A Assembléia das Nações Unidas rejeita, reiteradamente, a política isolacionista promovida pelo governo estadunidense e o seu Departamento de Estado contra Cuba, que é objeto de críticas internas contundentes por parte de entidades norte-americanas, contrárias ao bloqueio, ao argumentarem que não existe norma no direito internacional que justifique um embargo tão radical em tempo de paz.

Cuba enfrenta quase cinco décadas de guerra econômica. Para se ter uma idéia do que é isto, ao longo de 49 anos a ilha cubana teve prejuízos que chegam a U$ 100 bilhões, valor este elevado para um país tão pequeno. É algo incompreensível, com o fim da Guerra Fria, os Estados Unidos ainda não mudarem sua política externa para com Cuba.

As contradições da política estadunidense no que tange a Cuba são questionadas pela comunidade internacional. Lembro que, ao tempo em que Cuba é boicotada por um tempo de 49 anos, os Estados Unidos se constituíram nos principais parceiros comerciais da China comunista, além de retomarem o diálogo com a Coréia do Norte e o Vietnã, seu arqui-inimigo do passado, com o propósito de criarem uma nova fronteira de negócios com o país que, juntamente com o Laos e o Camboja, formam a Indochina.

É necessário salientar também que representantes da Coréia do Norte e dos Estados Unidos vão se reunir na próxima semana, em Genebra, na Suíça, para desbloquear as conversações sobre o desarmamento nuclear dos coreanos, considerados à revelia pelos yankees como um dos países formadores do “eixo do mal”, juntamente com o Irã e o invadido Iraque, que desde 2003 está ocupado pelas forças militares dos EUA, que têm interesses geopolíticos na região, além de controlar o petróleo de um país como o Iraque que tem cinco mil anos de história.

Se a questão fundamental fosse somente ideológica, os estadunidenses não negociariam com a China, que é comunista como Cuba e muitas vezes contrária, por exemplo, aos interesses dos estadunidenses no Conselho de Segurança da ONU. Negócios são apenas negócios. Os Estados Unidos, mesmo na Guerra Fria e em alta escala, sempre negociaram com a extinta União Soviética, e nem por isso o mundo acabou. O bloqueio comercial a Cuba não tem mais sentido, tanto é verdade que muitos países, inclusive o Brasil, negociam com aquele país e pedem o fim do embargo.

Além disso, considero o Brasil, que tem uma das diplomacias mais avançadas do mundo, um grande mediador. Com o fortalecimento do Mercosul e o reconhecimento por parte dos grandes países ocidentais de que o Brasil é o principal País da América Latina, o Governo Federal, por meio do Ministério das Relações Exteriores, deveria se empenhar de forma mais assertiva junto à OEA, à ONU, aos blocos econômicos como a Comunidade Européia, para que os Estados Unidos façam uma revisão de suas políticas públicas e diplomáticas em relação a Cuba, país independente e que se recusa a ser tutelado por quem quer que seja, como bem demonstra a história cubana desde 1959, quando os revolucionários, à frente Fidel Castro, assumiram poder político na ilha caribenha.

Considero fundamental que o Governo Federal procure efetivar a inserção de Cuba no mercado econômico e financeiro internacional, por intermédio de negociações do Itamaraty na OEA, na ONU, na OMC e nos bancos internacionais como o Banco Mundial (Bird), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Cuba tem de ser integrada, bem como a Palestina, à comunidade internacional e com celeridade. Nenhum país deve ser tratado como se fosse de segunda categoria, porque nenhum povo é de segunda categoria. A humanidade pode até diferir na cor da pele e na textura dos cabelos, mas ela é uma só, única e indivisível, porque vivemos em um planeta do qual somos filhos, e, quando da nossa morte, voltamos para o útero dele em forma de pó. Existem, sim, países poderosos, com força econômica incomensurável e bélica e que se aproveitam de sua posição para impor sanções e, se puder, invadir militarmente.

Contudo, faço uma ressalva: essas organizações financeiras têm de, urgentemente, reformular seus programas de financiamento, voltando-se mais para o desenvolvimento social dos países subdesenvolvidos e endividados e deixar em segundo plano as estratégias que visam apenas o lucro, fato este que ocorreu durante décadas com o Brasil, e agora, quando a Europa e os EUA estão em crise, seus povos se recusam a apertar os cintos e protestam nas ruas contra a falta de emprego, de renda e de esperança proporcionados pela crise de 2008 que até hoje perdura e que tende a piorar, segundo os ministros da Fazenda e os analistas europeus vinculados ao mercado financeiro e ao comércio.

A verdade é que o ex-presidente Lula tem razão. Ele criticou o FMI em evento nos EUA realizado há poucos dias quando recebeu prêmio de reconhecimento pelo seu governo ter combatido a fome e a miséria e inserido milhares de famílias brasileiras no mercado de consumo. O político trabalhista disse o seguinte: “O FMI tinha solução para tudo quando a crise era na Bolívia, no Brasil, no México. Quando a crise chega aos países ricos o FMI se cala, entrou num silêncio profundo. O BID, então, não fala mais nada”, criticou Lula, alto em bom som para quem quisesse ouvir, inclusive os neoliberais brasileiros e a imprensa comercial e privada que insistem em defender o indefensável, a justificar o injustificável e a dissimular o fracasso retumbante de governantes neoliberais e sem sensibilidade social como o tucano e ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que foi três vezes ao FMI com o pires na mão, o que fez milhões de cidadãos brasileiros se sentir humilhados.

Lula afirmou ainda que os países desenvolvidos deveriam seguir os passos do Brasil, tê-lo como exemplo quando se trata de combater a crise mundial. Para ele, os mais pobres é que tem de ser cuidados, porque não há nada mais barato do que cuidar deles, pois duro é cuidar dos ricos. Para o ex-mandatário, distribuir renda é a solução para que as pessoas pobres possam consumir e, conseqüentemente, fazer a economia girar, o que propiciará a criação de empregos e renda para os mais ricos, que poderão dessa forma contratar mais e com isso aumentar a força de trabalho. Por sua vez, a presidenta Dilma Rousseff disse na Turquia que “Desejamos à Europa uma saída rápida da crise por meio da busca por maior estabilidade macroeconômica, mas também e, sobretudo, assegurando a retomada do crescimento, da proteção ao emprego e dos segmentos mais vulneráveis das diferentes populações”.

Os neoliberais nunca compreenderam isso, não porque são ignorantes ou “burros”, como se define pessoas pouco espertas no jargão popular. Governaram para poucos porque usaram de má fé. E assim foi feito para, propositalmente, cuidarem dos ricos e governarem para 30% da população do País, como fez FHC em seus dois governos, controlados pelo PSDB e pelo DEM, o pior partido do mundo, pois tataraneto que é da UDN.

Voltemos a Cuba. A crise internacional é questionada fortemente por instituições nacionais de diversos países, bem como por ONGs e outros movimentos sociais que criticam, de forma ácida e até mesmo violenta, a atuação dos organismos financeiros internacionais perante aqueles que deles dependem ou que devem a eles. Se países inseridos em um contexto mais favorável têm enfrentado graves problemas no que concerne à inserção no mercado internacional, o que diríamos de Cuba que há décadas enfrenta um bloqueio econômico dos mais desumanos e cruéis que se tem notícia no mundo contemporâneo? Por isso, como cidadão e jornalista sou favorável ao fim do bloqueio imposto pelos Estados Unidos a Cuba.

A Guerra Fria, repito, acabou. O mundo se tornou globalizado. Globalização, como o nome indica, significa interação entre os países, que passaram a se comunicar e a realizar negócios em uma freqüência e grandeza nunca vista antes pela humanidade. Pois bem, em tempos de globalização, Cuba fica à margem do processo por questões muito mais mesquinhas do que políticas. Os Estados Unidos veem Cuba como um problema pessoal. Dá a impressão que os sucessivos governos estadunidenses teriam perdido um estado de sua federação, à força, o que não retrata a realidade. Os cubanos seguiram seus destinos de povo livre e independente e que tem o direito de fazer parte da comunidade internacional tal qual a qualquer outro povo que tem representação na ONU e em outros fóruns internacionais.

Cuba é soberana. E o Brasil, como um País tradicionalmente moderado, diplomaticamente competente, de vocação mediadora, deve sentar à mesa de negociações, com o propósito de inserir e incluir Cuba no contexto internacional. A Carta da ONU considera direito inalienável de todo povo e de toda nação ser livre, bem como participar dos processos de interação e integração entre os povos. O bloqueio econômico ao país do caribe não condiz com as realidades das Américas e muito menos com a democracia, tão defendida pelos Estados Unidos ao tempo que por eles negada ao povo cubano e a outros povos. O bloqueio é ideológico e injustificado.

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