sábado, 15 de janeiro de 2011

O discurso de Obama no Arizona

Reflexões do Companheiro Fidel
 
ONTEM o escutei quando falou na Universidade de Tucson, onde se prestava homenagem às seis pessoas assassinadas e às 14 feridas na chacina de Arizona, de maneira especial, à congressista democrata por esse Estado, gravemente ferida por um tiro na cabeça.

O fato foi levado a cabo por uma pessoa desequilibrada, intoxicada pela prédica de ódio que existe na sociedade norte-americana, onde o grupo fascista do Tea Party tem imposto seu extremismo ao Partido Republicano que, sob a liderança de George W. Bush, colocou o mundo onde hoje se encontra, à beira do abismo.

Ao desastre das guerras aderiu a maior crise econômica na história dos Estados Unidos e uma dívida do governo, equivalente já a 100% do Produto Interno Bruto (PIB), unido a um déficit mensal que supera os US$ 80 bilhões e novamente o incremento das moradias que se perdem por dívidas hipotecárias. O preço do petróleo, dos metais e dos alimentos, aumenta progressivamente. A desconfiança no papel-moeda incrementa as compras de ouro, e não poucos auguram que nos finais do ano o preço deste metal precioso atingirá os USS$ 2 mil a onça troy. Inclusive, alguns acham que chegará a US$ 2.500.

Os fenômenos climáticos se têm agravado, com perdas consideráveis nas colheitas da Federação Russa, Europa, China, Austrália, norte e sul da América, e noutras áreas, ameaçando os fornecimentos de alimentos a mais de 80 países do Terceiro Mundo, criando instabilidade política num número crescente deles.

O mundo enfrenta tantos problemas de caráter político, militar, energético, alimentares e do meio ambiente, que nenhum país deseja o retorno dos EUA a posições extremistas que incrementariam os riscos de uma guerra nuclear.

Foi quase unânime a condenação internacional ao crime de Arizona, onde se evidenciava uma expressão desse extremismo. Não se esperava do presidente dos Estados Unidos um discurso exaltado nem confrontador, que não se corresponderia com seu estilo nem com as circunstâncias internas e o clima de ódio nacional que está prevalecendo nos Estados Unidos.
As vítimas do atentado foram indiscutivelmente valentes, com méritos individuais, e em geral cidadãos humildes; caso contrário não tivessem estado ali, defendendo o direito ao atendimento médico de todos os norte-americanos, e opondo-se às leis contra os imigrantes.
A mãe da menina de nove anos que nasceu em 11 de setembro, tinha declarado, com valentia, que o ódio desatado no mundo devia cessar. Não tenho nenhuma dúvida de que as vítimas eram credoras do reconhecimento do presidente dos Estados Unidos, bem como dos cidadãos de Tucson, dos estudantes da Universidade e dos médicos que como sempre quando acontecem fatos dessa natureza expressam sem reservas a solidariedade que os seres humanos levam dentro. A congressista gravemente ferida, Gabrielle Giffords, merece o reconhecimento nacional e internacional que se lhe tributou. A equipe médica continuava hoje informando notícias positivas sobre sua evolução.

Contudo, ao discurso de Obama lhe faltou a condenação moral da política que inspirou semelhante ação.

Tentava imaginar como tivessem reagido homens como Franklin Delano Roosevelt ante um fato semelhante, para não mencionar Lincoln, que não hesitou em proferir seu famoso discurso em Gettysburg. Qual outro momento esperará o presidente dos Estados Unidos para expressar o critério que, tenho a certeza, compartilha a grande maioria do povo dos Estados Unidos?

Não se trata de que não haja uma personalidade excepcional à frente do governo dos Estados Unidos. O que converte em histórico um presidente que foi capaz de chegar por seus méritos a esse cargo, não é a pessoa, mas sim a necessidade dele num momento determinado da história de seu país.

Quando ontem começou seu discurso notava-se tenso, e muito dependente das páginas escritas. Rapidamente recobrou a serenidade, o domínio habitual do cenário, e a palavra precisa para expressar suas ideias. O que não disse foi porque não quis dizê-lo.

Como peça literária e elogio justo aos que o mereciam, se lhe pode outorgar um prêmio.
Como discurso político deixou muito a desejar.

Fidel Castro Ruz
13 de janeiro de 2011
19h38

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