por Paulo Jonas de Lima Piva
Fonte: O PENSADOR DA ALDEIA
Dez dias, dez meses, uma década que seja, o tempo é sempre insuficiente para conhecermos a fundo a realidade de um país.
Entretanto, um simples tour com aqueles ônibus de turistas de dois andares por uma grande capital do planeta pode revelar detalhes desanimadores de um lugar. Em Paris, por exemplo, os mendigos estão por toda parte. São homens, mulheres, idosos, franceses, argelinos, imigrantes do leste europeu, todos entregues à própria sorte. Os SDF (“Sem Domicílio Fixo”) lotam as belas praças da “cidade luz”, sem falar no racismo explícito da polícia francesa contra os negros da periferia. Em Nova Iorque, os índices de desemprego e violência são incompatíveis com o conceito de uma cidade de primeiro mundo. Nos Estados Unidos inteiro, mais de 50 milhões de pessoas não têm acesso à saúde porque não podem pagar uma Unimed da vida. E como lá não existe um sistema público e gratuito de saúde, a situação dos pobres é desesperadora. Saúde e liberdade na maior potência do mundo só mesmo para a minoria endinheirada. O presidente Obama tentou amenizar esse problema com a intervenção do Estado, porém, foi hostilizado pela iniciativa e acabou sendo taxado de “comunista” pela imprensa conservadora do seu país. O que dizer das bárbaras taxas de mortalidade infantil no México, da alta porcentagem de analfabetos na Colômbia, da absurda concentração de terra no Brasil, do insuportável custo de vida na Inglaterra e da epidemia de suicídio no Japão e na Finlândia?
Dez dias em Havana, a capital cubana, perambulando por todos os cantos, de dia, sob um sol implacável, e de noite, conversando com todo tipo de gente, à procura da Cuba que a grande mídia brasileira alardeia nos seus noticiários e nada: nenhum mendigo, nenhum morador de rua ou menor abandonado; também nenhuma criança subnutrida, nenhum desempregado (quase todo cubano é funcionário do Estado), nenhuma favela tampouco sirenes histéricas atrás de criminosos. Com a máquina fotográfica em punho para registrar as provas de que o povo cubano viveria num inferno de fome e opressão sob o regime dos irmãos Castro, o que o real me permitiu fotografar foram apenas pessoas vivendo uma vida simples e decente, tendo à disposição toda uma rede de proteção social inexistente em outros países da América Latina e nos EUA, que inclui educação pública, gratuita e de qualidade, do maternal ao doutorado, além de um dos melhores sistemas de saúde do mundo, este também absolutamente gratuito. Ironicamente, de acordo com a própria CIA, o centro de espionagem e terrorismo do governo norte-americano, 99,8% dos cubanos sabem ler e escrever. E tudo isso apesar das privações provocadas sobretudo pelo bloqueio econômico imposto à ilha por Washington desde 1962. Enfim, foram dez dias à caça de uma Cuba que só existe como ficção caluniadora na cabeça dos seus detratores, a menos que Fidel Castro tenha o hábito de mandar jogar os miseráveis da ilha no mar, tese que, apesar de esdrúxula, não teria dificuldade de ser endossada pelos ideólogos de direita e outros jagunços da grande mídia brasileira.
(Publicado no jornal A Gazeta Itapirense em 14 de agosto de 2010)
Bom texto, objetivo e conciso.
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