sexta-feira, 23 de julho de 2010

‘Presos políticos’ liberados têm pouco de político

Por Lorenzo Gonzalo*
Fonte: MONCADA
Tradução: Robson Luiz Ceron - Blog Solidários.

Os prisioneiros cubanos recém-liberados, que chegaram à Espanha, disseram que desaprovam as medidas tomadas pelo governo daquele país para que os membros da União Européia redefinam a sua política para com Cuba. Esta política foi chamada de "posição comum" e sua aplicação data da época em que o primeiro-ministro espanhol José María Aznar se juntou a Washington, aceitando cada centímetro da agressividade dos EUA contra a Ilha.

Esta política consiste em interferir nos assuntos internos de Cuba e mediante pressões de diversas formas, obrigar o governo cubano a adotar um sistema político e econômico a imagem e semelhança dos Estados Unidos.


É difícil entender as pessoas, que se auto-intitulam “presos políticos”, advogando a razão de ser outros que lhes resolve seus problemas

As lutas políticas sempre presumiram um interesse pelos assuntos internos do país. Geralmente, estas lutas vêm acompanhadas, inclusive, de certo chauvinismo e ciúmes de uma interferência ou participação de terceiros.

As causas que os presos políticos defendem, embora busquem a identificação dos vizinhos e a aprovação mundial, pretendem sempre que tais apoios não venham acompanhados de compromissos ou condições duvidosas.

Os Estados Unidos possuem uma política para com Cuba bem definida. Não hesitam em colocar claramente sua intenção de ocupar a Ilha. O plano de "democratização" desenhado por Washington prevê, entre outras coisas, a nomeação de um "Coordenador para a Transição em Cuba". Entre as medidas previstas na "Comissão para a Assistência a uma Cuba Livre", (uma agência dentro do Departamento de Estado dos Estados Unidos) estão a atribuição de fundos estadunidenses da ordem de US$ 59 milhões e um roteiro do que um governo "não precedido por qualquer um dos Castro" deve cumprir.

Não existem maneiras de criar um clima verdadeiramente dinâmico e eficiente de debate em Cuba, enquanto os Estados Unidos sustentam atitudes colonialistas e paternalistas deste tipo.

A atitude dos cubanos recém liberados e acolhidos benevolentemente pela Espanha, no meio de uma crise econômica, que obriga seus cidadãos emigrar pela primeira vez em mais de trinta anos, é uma demonstração clara de que esses grupos chamados dissidentes não entendem a problemática cubana ou são oportunistas incentivados pelo orçamento aprovado por Wshington. Teriam que ser uma coisa ou outra e, em alguns casos, ambos.

É inconcebível que essas pessoas desqualifiquem os esforços feitos pela Espanha, precisamente para descongelar uma política de ingerência, contrária a todos os princípios dos procedimentos internacionais.

A Espanha não faz isso para defender o governo cubano, com toda certeza, suas intenções são exatamente opostas. Porém, evidentemente, dentro do contexto de respeito mútuo pela soberania de outras nações, a política é justa e aceitável.

Essas pessoas [chamadas de forma manipulada de "presos de consciência", porque, supostamente, teriam propagandeado e divulgado idéias contrárias aos princípios do discurso oficial cubano] demonstram, com esta atitude, que o trabalho que advogam não é compatível com um debate de idéias, senão que preferem recorrer à força e à pressão dos mais poderosos, para perseguir seus objetivos.

Desqualificar a política espanhola de distensão com Cuba não cabe em um pensamento que tenha compreendido plenamente o dano que causou a ação dos EUA para com o Estado cubano durante mais de cinqüenta anos.

Os reclamos materiais feitos por estas pessoas a um país, que com grande benevolência os acolheu, em meio à dificuldades provocadas pela crise econômica e sua oposição à racionalidade da abordagem espanhola para com Cuba, mostra que de políticos têm muito pouco. Aquele que duvida que tome algum tempo para fazer um estudo da história política de Cuba, de sua luta pela independência, e mesmo, a história dos seus próprios países.

Miami, 22 de julho de 2010

*Lorenzo Gonzalo, é um jornalista cubano residente nos EUA e  vice-diretor da Radio Miami (www.radio-miami.com)

Um comentário:

  1. Caros leitores,

    Este texto também possui uma tradução na página do PCB:
    "Cubanos em Madri: os dissidentes se rebelam"
    http://pcb.org.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=1827

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