quinta-feira, 15 de abril de 2010

Por que a informação sobre Cuba continua sendo incorreta

Por que a informação sobre Cuba continua sendo incorreta?
Por Gianni Miná* - Adital - de Roma


A morte de um homem sempre é triste, em particular quando quem deveria cuidar dele não deu a devida atenção àquela vida.

Assim, a morte, após 85 dias de greve de fome do operário cubano Orlando Tamayo Zapata, preso por diversos delitos comuns, mas, também por vilipêndio do ex-presidente Fidel Castro e que protestava pelas condições carcerárias, deu margem a que nossos meios de comunicação se interrogassem acerca da qualidade da democracia da Revolução.


Em minha opinião, as críticas sempre são legítimas, mesmo quando se esquece capiciosamente, por exemplo, que na Itália, em 2009, os suicídios nas prisões alcançaram cifras vergonhosas e que aqui, também, como demonstra o caso de Stefano Cucchi, pode-se morrer durante a detenção não somente por falta do socorro adequado, mas também depois de uma ‘surra’ por parte das que se denominam forças de segurança.

Evidentemente, esse é um costume de nossa democracia: de fato, todavia hoje - e já se passaram nove anos -, o que um fiscal definira como "uma noite de carniceria chilena" convenceu ao fiscal do julgamento da segunda instância a pedir uns 100 anos de prisão para os assassinos de uniforme. Supostas forças de segurança que, nesses dias difíceis do G8 de Gênova, no colégio Díaz sufocaram em sangue e moeram os ossos de muitos jovens indefesos, cuja única culpa era a de haver marchado e protestado contra a desapiedada lógica do neoliberalismo.

Detenho-me nesse detalhe não insignificante porque na quinta-feira, 25 de fevereiro, esta desconcertante página da vida italiana deveria ter aparecido na nossa imprensa ao lado da crônica da trágica morte de Orlando Tamayo Zapata: porém, somente um jornal de meu país, Il Manifiesto, teve a sensibilidade e sentiu-se no dever de não esquecer-se dessa obrigação.

O problema reside na honradez da informação sobre Cuba e sobre todos os demais países que, por sua política, não convém aos interesses dos Estados Unidos e do Ocidente.

Assim, uma vez mais, não quiseram explicar, nem recordar, de onde nasce um caso como o de Orlando Tamayo Zapata, que não era exatamente um dissidente, mas um cidadão que durante anos havia tido problemas com a justiça e que havia se tornado cada vez mais intolerante sobre a condição carcerária, inclusive acumulando diversas condenações mais.

Na prisão, Zapata havia se aproximado às ideias das Damas de Branco, que representam uma das almas mais equivocadas da reduzida dissidência cubana. Porém, somente o Estado cubano foi assinalado como o ‘lobo mau’ da história, apesar de que desde a época do ex-presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan é notório que muitas dessas associações contrarrevolucionárias são subvencionadas por grupos terroristas de Miami, a fim de levar à ilha uma "estratégia da tensão" contínua, também em detrimento da mesma possível e séria oposição à Revolução, continuamente confusa e desgarrada por este assédio incessante.

Somente a título de exemplo: qualquer jornalista sério que deseje conhecer o que acontece e não somente o que compraz ao Departamento de Estado norte-americano sabe que recentemente (e é fácil encontrar testemunho disso na rede), durante um julgamento na Flórida, Santiago Álvarez, um velho terrorista a serviço da CIA - como Posada Carriles e Orlando Bosch -, admitiu ser um dos subvencionadores das Damas de Branco, a cuja líder, Marta Roque, enviava a cada mês uma generosa quantidade de dólares. Quando o surpreenderam com um carro repleto de armas e explosivos se justificou, explicando que semelhante situação servia para realizar alguns atentados em Cuba e revelou também que, para que não se interrompesse esse fluxo de dinheiro, Michael Parmly, antigo responsável pela Oficina de Interesses dos Estados Unidos em Havana, havia oferecido adiantar pessoalmente o vitalício das Damas de Branco na espera de que o próprio Santiago Álvarez pudesse voltar a fazê-lo pessoalmente. Um gesto generoso, apesar de imprudente desde o ponto de vista diplomático, já que Santiago Álvarez foi condenado a uma pena de quatro anos, sucessivamente reduzida para 30 meses.

Considerando esses antecedentes, por que não deveríamos duvidar do tipo de democracia que os Estados Unidos queriam impor a Cuba, há 50 anos, sem preocupar-se com as vítimas que produzem estas estratégias, como Orlando Tamayo Zapata?

Para quem esqueceu, em 2003, o governo de Bush Jr. tentou dar um golpe final à Revolução. Em somente duas semanas, houve três sequestros aéreos e uma tentativa de sequestrar o ferry de Regla, com um grupo de supostos opositores que queriam ir para Miami colocando navalhas na garganta dos turistas.

Três dos protagonistas dessa tentativa de sequestro foram condenados à pena capital. Uma sentença radical que interrompeu a moratória sobre a pensa de morte que a Revolução havia respeitado durante anos e que voltou a respeitar depois dessa dramática emergência, que havia posto em perigo a sobrevivência da Revolução.

Houve também 75 prisões de pessoas acusadas de subversão. Destes, 53 todavia estão presos.

Certamente, o responsável por essa dura intransigência é o governo de Havana; bem como o de Washington é responsável pelas centenas de desaparecidos após as leis antiterrorismo aprovadas por Bush Jr. depois do 11 de setembro e pelo que algumas revistas prestigiadas como The Nation, têm, repetidamente, pedido explicações ao próprio Bush, sem obtê-las. Além disso, é preciso saber quando o governo dos Estados Unidos, hoje liderado por Barack Obama, colocará um ponto final nesse Estado de Sítio contra Cuba, fato esse que não tem justificação alguma, nem política e nem moral?

E quando o governo norte-americano deixará de destinar fundos (US$ 140 milhões em 2008; US$ 55 milhões em 2009, apesar da crise econômica) para favorecer a subversão em Cuba, violando o direito à autodeterminação de um povo? Recentemente, Pierluigi Battista, no Corriere della Sera, assombrava-se com o fato de que a informação mais importante, ao se tratar de Cuba, não aprofunda suas críticas, enquanto que o faz quando, por exemplo, condena as repressões de junta militar birmanesa.

Já não sei qual o sentido da ética de Pigi Battista; porém, sim sei do grande prestígio social que Cuba goza no seio de todos os organismos internacionais e nunca ouvi falar de médicos birmaneses que salvam vidas de pobres seres humanos do sul do mundo, desde a África até o Himalaia, ou no Haiti, como fazem 70 mil médicos cubanos.

Deve-se ter coragem para sustentar certos argumentos, em particular, quando se esquece de escrever nem que seja somente uma reflexão sobre o último massacre de civis no Afeganistão, cometido no dia 22 de fevereiro na província de Uruzgán por um helicóptero dos Estados Unidos. Trinta e três vítimas; entre estas mulheres e crianças que tentavam fugir da ofensiva lançada pelas tropas da Aliança Atlântica contra os talebãs, precisamente para "proteger" aos civis, na teoria. E há que ser realmente cínicos quando, como fez Battista, não se pronuncia nem sequer uma palavra de indignação pelo assassinato a soldo de um dos fundadores do Hamás, Mahmoud Al-Mabouh, cometido em um hotel de Dubai, no dia 20 de janeiro, por um grupo de uns dez 007 israelitas que, para burlar os controles, usaram passaportes e cartões de crédito de cidadãos europeus, após roubá-los e cloná-los, provocando "inquietação e preocupação" por parte da União Europeia.

Para o Corriere della Sera, o único importante foi reprovar o imobilismo da Cuba de Raúl Castro, que continua sendo sempre igual.

Porém, é singular que poucos tenham percebido que nesse caso são precisamente os Estados Unidos, em troca, que não souberam mudar sua política, tal como se esperava. Obama assinou a renovação por um ano do bloqueio contra Cuba e seu aparato, evidentemente, todavia preso das lógicas de Bush Jr., incluiu, sem nenhuma vergonha, a ilha da revolução entre as nações terroristas, pese a que Cuba teve que lamentar três mil vítimas dos atentados organizados na Flórida e levados a cabo na ilha.

Uma atitude esquizofrênica que permite a Raúl Castro recordar que em Cuba nunca se assassinou a ninguém, nem, como a própria Anistia Internacional admite, ninguém foi torturado e nem foram praticadas execuções extrajudiciais. "Em Cuba - assinalou - tem havido torturas; porém, elas acontecem na base naval norte-americana de Guantánamo e não em território governado pela Revolução".

*Gianni Miná é diretor da Revista Latinoamérica, Itália.
Fonte: CORREIO DO BRASIL

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