sábado, 25 de abril de 2009

Fidel Castro: Gestos que impressionam


Confesso que muitas vezes meditei sobre a dramática história de John F. Kennedy. Para mim correspondeu conhecer a etapa em que foi o maior e mais perigoso inimigo da Revolução. Era algo que não estava em seus cálculos. Via-se como o representante de uma nova geração de norte-americanos que enfrentava a velha e suja política de homens do tipo de Nixon e o havia derrotado com talento político.

Ele demonstrava sua história de combatente no Pacífico e sua ágil caneta.

Foi comprometido por seus antecessores na aventura de Girón (Baía dos Porcos) por confiar muito, já que não duvidava da experiência e capacidade profissional daqueles. Foi um amargo e inesperado fracasso, há apenas três meses de sua posse. Embora tenha estado a ponto de atacar diretamente à ilha, com as poderosas e sofisticadas armas de seu país, naquela ocasião, não fez o que Nixon teria feito: usar os caça bombardeiros e desembarcar os Marines. Rios de sangue haveriam corrido em nossa Pátria. Onde centenas de milhares de combatentes estavam prontos para morrer. Se auto-controlou e lançou uma frase lapidar de que não é fácil esquecer: "A vitória tem muitos pais, uma derrota é órfã”.

Sua vida continuou dramática, como uma sombra que o acompanhava o tempo todo. Pode mais o orgulho ferido, e de se viu arrastado à ideia de invadir-nos. Isso trouxe a Crise de Outubro e o maior risco, que houve até hoje, de uma guerra termonuclear. Emergiu como uma autoridade desta prova graças aos erros de seu adversário principal. Ele quis conversar sério com Cuba, e assim decidiu. Enviou Jean Daniel para falar comigo e voltar a Washington. Este cumpria sua missão nesse momento, quando chegou a notícia do assassinato do Presidente Kennedy. Sua morte e a estranha forma como foi planejado e realizado foi realmente triste.

Mais tarde, conheci os familiares próximos que visitaram Cuba. Nunca comentaram sobre as desagradáveis arestas da sua política contra o nosso país, nem mencionaram qualquer tentativa de me privar da vida. Eu conheci o seu filho já adulto, que era muito pequeno quando seu pai era presidente dos Estados Unidos. Compartilhamos como amigos. Ele morreu em um acidente trágico e triste. Seu irmão Robert foi também assassinado, multiplicando o drama em torno desta família.

Tantos anos de distância, chegou a informação de um gesto que impressiona.

Estes dias, em que tanto se falou do prolongado e injusto bloqueio contra Cuba, nas altas esferas dos países do continente, leio em La Jornada, do México, uma notícia:

"Em finais 1963, o então procurador-geral Robert F. Kennedy tentou revogar a proibição de viagens a Cuba e, hoje, sua filha, Kathleen Kennedy Townsend, disse que o presidente Barack Obama deveria levar isto em conta e apoiar as iniciativas legislativas para permitir a todo estadunidense o livre trânsito para a ilha".

"Em documentos oficiais desclassificados pelo Centro de Pesquisa National Security Archive, se registra que em 12 de dezembro de 1963, menos de um mês após o assassinato de John F. Kennedy, o procurador geral Robert F. Kennedy enviou um comunicado ao secretário de Estado, Dean Rusk, solicitando a retirada dos regulamentos que proíbem as viagens a Cuba para norte-americanos".

"Robert Kennedy argumentava que a proibição violava as liberdades dos estadunidenses. Segundo o documento, disse que as atuais restrições de viagem são incompatíveis com as tradicionais liberdades estadunidenses".

"... Essa posição não venceu a discussão dentro do governo de Lyndon B. Johnson, e o Departamento de Estado opinou que a suspensão das restrições seria entendida como um afrouxamento da política em relação a Cuba e que faziam parte de um esforço conjunto dos Estados Unidos e de outras repúblicas americanas para isolar Cuba".

"Em um artigo de Kathleen Kennedy, publicado hoje no Washington Post, a filha de Robert expressa seu desejo de que a postura de seu pai seja adotada pelo governo de Barack Obama, e que esta seja a posição defendida pelo procurador-geral Eric H. Holder, Jr., enquanto o governo de Obama considera seu próximo passo com Cuba, e qual deveria ser, avançar mais além de simplesmente permitir apenas aos cubano-estadunidenses, a maioria dos quais não têm a liberdade de ir".

"Kathleen Kennedy escreve que, como aprendeu Obama na Cúpula das Américas, do fim de semana passada, os líderes latino-americanos adotaram uma mensagem coordenada sobre Cuba: esta é o momento de normalizar as relações com Havana... Ao continuar tentando isolar Cuba, disseram essencialmente a Obama, Washington conseguiu isolar apenas em si mesmo".

"Assim, a sobrinha do presidente que tentou invadir e derrubar o governo revolucionário de Cuba e impor o bloqueio, se junta, agora, a um crescente coro em favor de reverter estas políticas em vigor a meio século".

Digno artigo de Kathleen Kennedy!

24 de abril de 2009.

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