sábado, 4 de abril de 2009

Fidel Castro: Por que excluem Cuba?


Ao meio-dia de ontem, sexta, 03 de Abril, tive um encontro de quase duas horas com com Daniel Ortega e sua esposa Rosario Murillo.

Como lhe expliquei em uma carta enviada ao Daniel, à tarde, fiquei impressionado com o encontro. Agradeci-lhe a oportunidade que tive de saber detalhes de sua luta na Nicarágua.

Eu lhe expressei tristeza pelos quadros que falharam e lembrei de Tomás Borge, Bayardo, Jaime Wheelock, Miguel D'Escoto e outros que se mantiveram fieis aos sonhos de Sandino e as idéias revolucionárias que a Frente Sandinista levou à Nicarágua.

Eu lhe roguei que me envie notícias com maior frequência possível para conhecer as vicissitudes de um pequeno país do Terceiro Mundo frente as ambições insaciáveis ambições do G-7.

A Rosário lhe enviei uma cópia do livro "Geologia de Cuba para todos” que recebi três dias atrás, uma excelente biografia sobre a natureza da nossa ilha, através de centenas de milhões de anos, ilustrados com belas imagens e fotografias, escritos por 12 cientistas cubanos, que, juntamente com as suas histórias e análise é uma joia literária. Havia lhe mostrado e ela revelou grande interesse.

Com Daniel conversei longamente sobre a "famosa" Cúpula das Américas, a ser realizada em 17, 18 e 19, em Puerto Espanã, a capital de Trinidad e Tobago.

Estas cimeiras têm a sua história e, por certo, bastante tenebrosas. A primeira foi realizada em Miami, a capital da contra-revolução, do bloqueio e da guerra suja contra Cuba. Esta cimeira teve lugar nos dias 9, 10 e 11 de Dezembro de 1994. Foi chamada por Bill Clinton, presidente eleito dos Estados Unidos em Novembro de 1992.

A URSS tinha desmoronado e nosso país estava no período especial. Contavam com a queda do socialismo em nossa Pátria, como havia ocorrido na Europa Oriental primeiro e, em seguida, na própria União Soviética.

Os contra-revolucionários preparavam suas malas para voltar vitoriosos à Cuba. Bush pai havia perdido a eleição, por conta da aventura belicista no Iraque. Clinton estava preparando para a época pós-revolucionário em Cuba na América Latina. O Consenso de Washington tinha pleno efeito.

A guerra suja contra Cuba estava prestes a se concluir com êxito. A Guerra Fria terminava com a vitória do Ocidente e uma nova era se abria para o mundo.

À Cúpula de Miami, em 1994, acudiram entusiastas Presidentes do Sul e da América Central incentivados pelo convite de Clinton.

O presidente da Argentina Carlos Ménen, encabeçava o topo da lista dos presidentes sul-americanos que acudiram ao evento; seguidos por Lacalle, o vizinho direitista do Uruguai; Eduardo Frei do Chile, da Democracia Cristã; Sanchez de Lozada da Bolívia; do Peru, Alberto Fujimori; de Rafael Caldera, da Venezuela. Nada estranho foi arrastarem Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, seu sucessor à presidência; Samper de Colômbia e Sixto Durán do Equador.

A lista de assistentes a Miami pela América Central foi liderada por Calderón Sol, do partido ARENA em El Salvador e Violeta Chamorro que, em virtude da guerra suja anti-sandinista, havia sido imposta por Reagan e Bush pai, na Nicarágua.

Ernesto Zedillo representava o México na Cúpula de Miami.

Atrás do mesmo objetivo estratégico: o sonho imperialista de um acordo de livre comércio desde o Canadá à Patagônia.

Hugo Chávez, presidente da República Bolivariana da Venezuela, ainda não tinha aparecido até em 2001 na cimeira de Québec. Nem George W. Bush com seu tenebroso papel na cena internacional.

Quis a a história que nosso herói nacional e paladino da independência cubana, José Martí, conhecera a primeira grande crise econômica do capitalismo nos Estados Unidos, que durou até 1893. Compreendia que a união econômica com os Estados Unidos significaria o fim da independência e da cultura dos povos da América Latina.

Em Maio de 1888, o Presidente dos Estados Unidos havia enviado aos povos da América e do Reino do Havaí, no Pacífico, um convite do Senado e da Câmara de Representantes daquele país, para uma conferência internacional em Washington para discutir, entre outras coisas "a adoção por cada um dos governos de uma moeda comum de prata, que seja de uso obrigatório nas transações comerciais recíprocas dos cidadãos de todos os Estados da América. "

Sem dúvida os membros do Congresso devem ter estudado bem as consequências daquelas ações.

Quase dois anos após a Conferência Internacional Americana, que faziam parte os Estados Unidos, recomendou o estabelecimento de uma união monetária internacional e que, como base desta união, foi cunhado uma ou mais moedas que puderam ser utilizadas nos países representados.

Finalmente, depois de um mês de prorrogação, como conta o próprio Martí, a delegação dos EUA no Comitê Monetário Internacional declarou, em Março de 1891, que “era um sonho fascinante que não se realizar sem o compromisso de outros países do globo". Também recomendou a utilização de ouro e prata nas moedas que se cunhassem.

Foi uma premonição do que aconteceria 55 anos depois, quando em Bretton Woods, foi concedido o privilégio de emitir papel moeda a divisa internacional, a usar ouro e prata.

Aquele fato, sem engano, levou Martí a desenvolver a análise política e econômica mais impressionantes que li na minha vida, publicado na Revista ilustrada de Nova Iorque, no mês de Maio de 1891, que se opõe firmemente à ideia.

Durante a reunião com Daniel, ele me deu um grande número de pontos que se discutem sobre a declaração final da próxima Cimeira, em Puerto Espanâ.

A OEA dá orientações como secretária permanente da Cúpula das Américas: é o papel que lhe é atribuído por Bush. Ela contém 100 parágrafos, parece que a instituição gosta dos números redondos para dourar a pílula e dar-lhe mais força para aos documentos. Uma legenda para cada um dos 100 melhores poemas do belo idioma.

Havia por certo muitos conceitos inadmissíveis. Será um teste decisivo para os povos do Caribe e da América Latina. Trata-se de um retrocesso? O bloqueio e exclusão após 50 anos de resistência?

Quem vai suportar essas responsabilidades? Quem já exigem a nossa exclusão? Não percebem que os dias de acordos exclusivos contra nosso povo caíram muito para trás? Haverá reservas significativas nessa declaração assinada pelos chefes de Estado para que se compreenda que, apesar das alterações feitas em duras discussões, há idéias que são inaceitáveis para eles.

Cuba esteve sempre disponível nas novas condições de oferecer um máximo de cooperação para as atividades dos serviços diplomáticos dos países da América Latina e no Caribe. Sabemos bem quem deve saber, mas não podemos ficar calados sobre pedir concessões desnecessárias e inaceitáveis.

Mesmo as pedras irão falar!

4 de abril de 2009.

Nenhum comentário:

Postar um comentário