terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Soviéticos e Cubanos (ou como Cuba resistiu ao fim da URSS)

Conferência do PCC
Por Breno Altman

Muitos se indagam o porquê de Cuba ter resistido ao colapso do socialismo, apesar de sua fragilidade econômica.

Uma das razões, penso, é que o discurso de Fidel e seus companheiros sempre expôs ao povo cubano, com clareza, frequentemente de maneira ríspida, os problemas e erros cometidos.

Mesmo enfrentando sacrifícios dramáticos, os cidadãos aprenderam a confiar em sua direção. Nem tanto por sua capacidade para resolver os estrangulamentos provocados pelo bloqueio, a falência da URSS e os graves equívocos cometidos, mas por estarem seguros que seus líderes não faltavam com a verdade e não os tratavam como audiência passiva.

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Ao contrário do que propagam os inimigos da revolução cubana, o Partido Comunista sempre incentivou, dentro de suas instâncias e na população, processos amplos de crítica e auto-crítica, cujo ápice ocorreu exatamente nestes 25 anos depois da quebra soviética.

Tudo isso apesar da situação de cerco e pressão provocada pelo embargo norte-americano.

Os soviéticos, ao menos desde Krushev, preferiram outro caminho, marcado pela linguagem do contente. Até os anos finais da crise, os cenários dos relatórios eram maravilhosos: pleno emprego, conquistas sociais e culturais formidáveis, desenvolvimento incessante, tremenda pujança em comparação ao capitalismo supostamente doente e terminal.

A população e parcelas expressivas da própria militância comunista, que tinham travado batalhas de vida ou morte para construir o socialismo e derrotar o nazismo, foram desacreditando de uma direção que propagava os logros revolucionários sem enfrentar com franqueza os evidentes problemas em curso.

Meu temor é que, na esquerda brasileira, venhamos a ter cada vez mais "soviéticos" e menos "cubanos"...

Breno Altman é jornalista brasileiro, direitor editorial do site Opera Mundi e da revista Samuel.

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