Por Paulo Nogueira no Diário do Centro do Mundo
O objetivo é aprender com eles.
Não deu no Brasil, mas é bom saber para uma discussão vital para a saúde pública nacional.
A Arábia Saudita acaba de firmar um contrato de importação de médicos cubanos.
É um programa de três anos, ao longo dos quais os médicos cubanos
levarão aos sauditas sua “mundialmente reconhecida” excelência.
Fora clinicar, eles funcionarão também como professores para os médicos locais.
Note.
Estamos falando da conservadora Arábia Saudita, aliada incondicional dos Estados Unidos.
A cultura médica cubana – uma prioridade da Revolução desde seu
início – acabou ficando ao largo do processo de mercantilização da
medicina em todo o mundo nas últimas décadas.
O foco é na saúde, e não no lucro esperado pelos fabricantes de remédios e equipamentos.
Os cuidados preventivos são os mais fortes em Cuba. O objetivo é que a pessoa não fique doente.
A medicina, em quase todas as partes, degenerou: lucra na doença.
Pessoas saudáveis, e este é um paradoxo cruel, destruiriam fábricas de
medicamentos que florescem quando médicos receitam mais e mais remédios.
Laboratórios não apenas patrocinam bocas livres de médicos para
apresentar-lhes novidades como, muitas vezes, dão a eles uma espécie de
comissão pelas receitas que os convidados passam a seus pacientes.
É o império da moeda, e não da saúde.
Cuba, pelas circunstâncias em que viveu com o isolamento imposto
pelos Estados Unidos, pátria da medicina empresarial, passou ao largo
disso.
Ali, você tem uma medicina “pura”, ou o mais perto disso.
O resultado é que a expectativa de vida lá é uma das maiores do mundo, e a mortalidade infantil uma das menores.
Há um médico para cada 200 pessoas, uma das melhores taxas
internacionais. Faça exercícios, coma saudavelmente, beba com moderação,
procure relaxar a mente: é este tipo de coisa que os médicos cubanos
recomendam antes que você adoeça por levar uma vida que é a negação de
tudo aquilo.
O médico acaba acompanhando o paciente porque a medicina lá, como na
Inglaterra, é comunitária. Você vai à clínica e ao médico mais próximo
de sua casa.
Isso quer dizer que o médico acaba conhecendo você.
Uma vez por ano, uma visita surpresa do médico é feita na casa do
paciente. O objetivo é verificar se a pessoa está levando uma vida
saudável.
Compare tudo isso com o que vê no Brasil.
E diga se não é bom que essa cultura se instale entre nós.
Para a saúde pública, com certeza. Para os interesses econômicos associados à doença, nem tanto.
Mas em algum momento em nosso desenvolvimento social a saúde pública
tem que prevalecer sobre a coluna de lucros dos que se locupletam na
doença das pessoas.
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