segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Agricultura urbana e suburbana: experiência cubana em avanço!

Fonte: PRENSA LATINA
Por Lourdes Pérez Navarro*

Com os primeiros raios do sol, o agricultor cubano Pablo Hernández abre o portão da Poli espuma e percorre atencioso os canteiros de couve, feijão, espinafre, cebolinho, pepino e de muitos outros vegetais e hortaliças que começou a cultivar oito anos atrás.

Poliespuma nasceu de seu esforço, quando em 2005 a vida mudou e passou de professor universitário para agricultor e administrador deste organopônico, pertencente à Cooperativa de Créditos e Serviços "Frutuoso Rodríguez" e encravado em Mulgoba, no município Boyeros, da capital.

Hernández orgulha-se de quanto pôde fazer com pouco pessoal e mínimos recursos, pois a experiência destas áreas de cultura, nascida na década de 80 e tempo depois consolidada em um movimento nacional de agricultura urbana e suburbana, utilizando matérias da localidade.

Sob esse conceito, este engenheiro em mecânica aproveitou as lâminas de poli - espuma deitadas fora por uma fábrica de equipes eletrônicas próxima ao local, para erguer as grades do organopônico e dos canteiros de pedra.

Com o tempo sua ideia foi tomada por outros agricultores, quem tem apreciado os benefícios deste material descartável, um polímero derivado do petróleo não poluente, duradouro, leve, manejável e que guarda a umidade, por isso as culturas necessitam menos rega, assegurou Hernández para Prensa Latina.

O resultado é a produção contínua de 30 espécies de vegetais e hortaliças, a partir do uso de abono orgânico, que permanecem o ano inteiro no soalho do ponto de venda do organopônico, frescas e ao alcance da população.

"É uma afluência diária de pessoas, que, terem começado a consumir vegetais que conheciam pouco, como acelga, couve chinesa e, por isso ajudamos a elevar a cultura alimentar", sublinhou Hernández.

Significou que o impacto social desta experiência, que recebe todo o apoio do Governo, do Ministério da Agricultura e outros organismos, vai mais à frente, pois o organopônico assegura de graça a presença de vegetais e hortaliças nos lares de anciões, jardins da infância e escolas da área.

EXPLORAR OS RECURSOS DA LOCALIDADE

Atualmente a agricultura urbana e suburbana em Cuba constitui um dos sete programas principais do Ministério da Agricultura, explicou para esta Agência o doutor Nelso Companioni, diretor de Agricultura Urbana e Suburbana do Instituto de Pesquisas Fundamentais na Agricultura Tropical (Inifat). "Se noutros países a agricultura urbana é tratada como ação de subsistência, cá é um programa oficial, de caráter popular, onde o objetivo principal é produzir alimentos e cuidar os recursos naturais que têm a ver com essa produção, para o fornecimento local", ressaltou o especialista.

Recordou que o programa iniciou no fim da década de 80 do passado século, quando se organizou o Movimento Nacional do Organopônicos, tão utilizado no país que foi preciso constituir o Grupo Nacional do Organopônicos. Uma década depois foi criado o Grupo Nacional de Agricultura Urbana e Suburbana em 2009.

Sempre sobre uma base popular e com uso dos recursos das próprias localidades, terras abandonadas e lixos viraram em organopônicos, áreas semi- protegidas e terrenos familiares.

O que começou com o propósito de cultivar vegetais, hortaliças e outros, se espalharam até abranger 30 subprogramas, entre eles: frutíferos, bananas, florestais, café e cacau, flores, medicinais, apicultura, sementes, capacitação, avícola e aquicultura.

Segundo Companioni o país conta com um sistema de produção de alimentos que se afasta do uso dos fertilizantes químicos, a partir do uso de abonos orgânicos que ajudam à restituição da fertilidade das terras na obtenção de produtos de alta qualidade e não poluídos.

"Esta é a agricultura do futuro no mundo. Hoje temos um forte movimento agroecológico que nos permite ir deitando fora os insumos industriais que são caros e são fatores de contaminação", frisou.

FORTE IMPACTO SOCIAL

Hoje este programa se fortalece como fonte de emprego, com forte impacto social, pois centenas de milhares de pessoas encontram nele seu sustento, afirmou Companioni, quem é também secretário executivo do Grupo Nacional de Agricultura Urbana e Suburbana.

Nos últimos 10 anos, disse, o programa da agricultura urbana gerou empregos que flutuam entre os 340 mil e 380 mil.

Entretanto, disse, a suburbana prognostica finalizar o quinto ano do programa com 143 mil imóveis, modalidades que hoje se potencializam e são localizadas numa área de 10 quilômetros à redonda das capitais provinciais.

Quanto às culturas, Companioni mencionou que existem oito mil e 232 hectares nas que se apanham mais de um milhão 52 mil toneladas de vegetais, hortaliças e artigos importantes do programa.

O objetivo- disse- é chegar aos 10 mil hectares e atingir um milhão 200 mil toneladas desses alimentos, visando que cada morador do país consumir 300 gramas diárias, cifra média estabelecida no mundo como a requerida para o melhor desenvolvimento humano.

Tais experiências dos especialistas cubanos são compartilhadas com vários países, no intuito de impulsionar a agricultura familiar ou sustentável em pequena escala, dentre esses países, Venezuela, Uruguai, México e nações das Antilhas Menores, enquanto se desenha um programa para o Haiti.

O desenvolvimento e consolidação da agricultura urbana e suburbana ao longo desta ilha caribenha foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), que o destaca como um modelo para ser usado no mundo, impactado por eventos climatológicos e a adiada crise econômica e alimentar.

Contudo a ONU nomeou o ano 2014 como Ano da Agricultura Familiar, tema no que, em opinião de Companioni, Cuba pode desempenhar um papel de grande impacto.

Estamos convencidos -acrescentou-de que Cuba vai contribuir imenso com esse esforço. Temos muito que contribuir e o mais importante é que existe uma decisão política no país, a todos os níveis, de apoiar estes sistemas produtivos que repercutem no objetivo de obter a independência alimentar.

*Jornalista da redação de Economia de Prensa Latina.

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