Por Juan Manuel Karg
Quando na segunda-feira (28), em Santiago, culminou a II Cúpula da
Celac (Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos) uma notícia
foi exemplo do momento político do nosso continente: Cuba, a pequena
ilha sempre desdenhada pelos poderes da vez, passará a presidir um
organismo continental que reúne 33 nações - todas, com excessão dos
Estados Unidos e Canadá.
Essa foto - a de Raul Castro recebendo a presidência pró-tempore -
significa uma vitória não só cubana, mas também do grupo de países que
fazem parte da Alba (Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa
América). E, especialmente, -é necessário dizê-lo com clareza - da
Venezuela, Bolívia e Equador, cujos governos privilegiaram uma relação
política e ideológica com a ilha, de irmandade anti-imperialista.
O que significa a presidência da Celac em mãos de Cuba?
Em primeiro lugar, significa uma profunda reivindicação histórica do
papel da Revolução Cubana. Cuba foi expulsa da Organização dos Estados
Americanos (OEA) em 1962 porque, segundo a resolução: a "adesão de
qualquer membro da Organização dos Estados Americanos ao
marxismo-leninismo é incompatível com o Sistema Interamericano e a
afinidade de tal Governo com o bloco comunista quebranta a unidade e a
solidariedade do hemisfério". Daí em diante, começou uma "caça às
bruxas" contra a ilha, política mas com consequências diretas em outras
esferas. O bloqueio econômico, comercial e financeiro estabelecido pelos
EUA foi -e é- a ponta da lança, mas também devemos falar do virulento
-e permanente- ataque contra Cuba e seu governo pelos multimeios de
(des)informação com capitais norte-americanos e europeus (CNN, El País
da Espanha, Miami Herald, entre outros).
Quem poderia imaginar que essa pequena ilha fustigada constantemente
pelo poder político, econômico, comercial, financeiro e até midiático,
teria a presidência de um organismo que reúne uma população global de
uns 550 milhões de habitantes e cuja extensão territorial supera os 20
milhões de quilômetros quadrados? Quem, em sã consciência, teria dito,
durante o esbanjamento neoliberal dos anos 90 em nosso continente, que
essa ilha digna ia ter tal papel no acordo das nações da América Latina e
do Caribe, duas décadas depois?
O papel da Alba na "resignificação" de Cuba
Devemos mencionar, sem dúvida, o papel da Alba e seus governos nesta
"resignificação" de Cuba. Primeiro, a Venezuela, depois a Bolívia e o
Equador, tiveram -e têm- um papel protagônico em mostrar a realidade da
ilha, longe de qualquer manipulação midiática. Como fazem isso? Com a
cooperação cotidiana em educação, através do sistema "Sim eu posso", que
já alfabetizou 6 milhões de pessoas em 28 países; e com a ajuda
permanente em matéria de saúde, as missões humanitárias cubanas já
chegaram a quatro continentes - e têm especial relevância na Venezuela
(Missão Barrio Adentro) e Bolívia (Operação Milagre)-.
Com a presidência pró-tempore da Celac, Cuba encerra um ciclo em
nosso continente: aquele que começou com o "Não à Alca" em Mar del Plata
2005. Aquele que construiu a Unasul e a própria Celac. É indubitável e
objetivo o avanço de nossos povos desde então. Estamos em melhores
condições, claro. Mas também está a "outra cara": os golpes em Honduras e
Paraguai (2009), a constituição da Aliança do Pacífico - com os
governos mais retrógrados em seu interior -, o aumento de bases
militares norte-americanas em nosso território. Nesse cenário, de
disputa entre o que não termina de morrer e o que não termina de nascer -
parafraseando Gramsci - a notícia de que essa digna ilha vai presidir
um organismo como a Celac é de uma enorme importância.
É que, como disse José Martí - lembrado pelo 160 aniversário de seu
nascimento -" escassos, como os montes, são os homens que sabem olhar
desde eles, e sentem com entranhas de nação, ou de humanidade". E Fidel e
Hugo Chávez, quando em 2004 planejavam a criação da Alba, com certeza
não imaginavam até onde podia chegar esse ato de profunda criação
humanitária - com entranhas de nação e Pátria Grande -que hoje é um dos
principais impulsos da Comunidade de Estados Latino-americanos e
Caribenhos.
Traducão para o português: Equipe da redacão em português da TeleSUR.
Nenhum comentário:
Postar um comentário