Fidel Castro e Mandela | Foto: Granma/ Pátria Latina |
Por Jocka N'dinje no Blog de Angola
"Fidel havia encarregado o general Cintra Frias, veterano guerrilheiro de Sierra Maestra, do comando destas operações em território angolano. Na oportunidade, Castro teria confessado ao líder do Partido Comunista da África do Sul, o branquelão Joe Slovo, que a estratégia seria como a de um boxeador: "Enquanto seguramos o inimigo com a mão esquerda (Cuito Cuanavale) , vamos atacando com o punho direito".
A situação militar se inverte graças a esta massiva e preparada intervenção cubana, país que chegou a enviar a Angola, ao longo anos, cerca de 350 mil homens e mulheres internacionalistas, garantindo de fato a verdadeira independência na jovem nação africana.
Não suportando os golpes recebidos, em especial uma grande surra promovida pela atuação dos pilotos cubanos nos MIG-23, a Batalha decisiva ocorre no dia 23 de março de 1987, uma derrota fundamental das tropas da África do Sul que Nelson Mandela assim descreveria: "Cuito Cuanavale foi a virada para a luta de libertação do meu continente e do meu povo do flagelo do apartheid!"
Sem dúvida, a luta de libertação da Namíbia também recebia um grande impulso, e dois anos mais tarde, este país também declararia a sua Independência. Entretanto, o governo racista de Botha preocupava-se, pois pela potência e envergadura da estratégia armada por Cuba no sul de Angola chegou a imaginar que as tropas cubanas pudessem dirigir-se rumo ao sul, ou seja, rumo a Pretória.Na fuga, as tropas racistas bombardearam pontes, revelando medo de uma ofensiva rumo ao sul. Enquanto as batalhas ocorriam, com sucessivas derrotas impostas às tropas da África do Sul, ocorriam no âmbito da ONU as famosas negociações em busca de um acordo, negociações em que os representantes dos EUA exibiam toda sua hipocrisia. Mas, há um diálogo que merece ser relembrado, quando o representante do regime racista nestas negociações pergunta ao representante de Cuba, Jorge Risquet, se havia a intenção de uma ação militar rumo ao Sul, a resposta é dessas que entram para os anais de história militar: "Se eu lhe disser que vamos rumo ao Sul isto seria tomado como uma ameaça, se eu lhe disser que não vamos rumo ao sul, isto seria para vocês um calmante". Deixou o racista atônito e confuso. E em outra oportunidade deu o toque de realismo que a arrogância sul-africana não queria reconhecer. "A África do Sul não tem condições de impor na mesa de negociações uma situação de vantagem quando no campo de batalha está sendo fragorosamente derrotada." De fato, os negociadores sul-africanos diziam que se retirariam "para a Namíbia". A história foi diferente, tiveram que sair também da Namíbia.
Condolezza e o Ministro Negro
Exatamente quando a Secretária de Estado dos Eua, Condolezza Rice visitava o Brasil, onde, entre muitos temas mais importantes e nada divulgados, assinou um Plano de Ação pelo qual Brasil e EUA decidem atuar conjuntamente para "eliminar a discriminação racial", a TV Cidade Livre, o canal comunitário de Brasília, realizava um debate sobre a Batalha de Cuito Cuanavale, com participação de embaixadores de Cuba, Angola, Namíbia e África do Sul, agora livre do apartheid. O texto firmado por Condolezza e o Ministro da Igualdade Racial, Edson Santos, afirma que Brasil e EUA "partilham a característica de serem sociedades democráticas multi-éticas e multi-raciais", o que teria motivado um comentário de Fidel Castro em uma de suas Reflexões do Comandante: "É assombroso. Penso que é exatamente o contrário o que acontece nos EUA".....
Cuito Cuanavale deve servir também para os movimentos sociais, especialmente ao movimento negro brasileiro, para refletir que a solidariedade deve ter tradução real, pois não se tem notícia de que os nossos irmãos angolanos tenham recebido do movimento negro, em solidariedade, uma aspirina que fosse. Enquanto que Cuba enviou para Angola 350 mil homens e mulheres, de lá trazendo apenas seus mortos e as medalhas desta vitória que jamais poderá ser apagada da consciência da humanidade. Muito se exalta que o Brasil é o país como maior população negra fora da África, mas qual foi a nossa solidariedade concreta quando ela foi tão necessária? Quando vários estudos registram o seqüestro impiedoso de contingentes negros africanos para formar o escravagismo nas Américas, e isto é uma verdade cruel e inapagável, Cuba foi capaz de inverter o itinerário: negros, brancos e mestiços partiam do Caribe para a Mãe África que estava sendo estuprada pelo apartheid e pelos EUA para oferecer solidariedade, para lutar com armas nas mãos, ombro a ombro com angolanos e namibiamos e impor a primeira derrota, que tinha que ser militar, ao apartheid. Como disse Mandela, em Cuito Cuanavale se deu a virada. Mas, uma virada marcada pela consciência das tropas cubanas de serem a continuidade histórica do internacionalismo proletário, de fazerem reviver o brado heróico de Stalingrado, de retomarem o exemplo revolucionário das massas vietnamitas que também derrotaram os EUA. Para a África Cuba enviou negros, brancos e mestiços alfabetizados, cultos, um exército bem treinado, com consciência socialista, e que não esteve em Angola para rapinar petróleo ou de diamante, como hoje fazem de modo selvagem e assassino as tropas norte-americanas no Iraque. E a solidariedade cubana com a África não se esgotou naquela histórica epopéia militar: hoje milhares de médicos e professores cubanos trabalham em dezenas de países africanos. Segundo a Organização Mundial da Saúde, o contingente de médicos cubanos na África supera o número de médicos que todos países ricos somados têm hoje naquele continente que tanto rapinaram....Por isso, é indispensável um debate mais aprofundado sobre o papel de Cuba e Angola na luta contra o apartheid, pois, não faz nenhum sentido falar da luta contra o racismo desconhecer esta contribuição, ignorar a dimensão histórica da Batalha de Cuito Cuanavale e, ao mesmo tempo, tomar como exemplo de luta anti-racial o modelo norte-americano, quando foram os EUA os principais sustentadores do apartheid."
http://www.varican.xpg.com.br/varican/Bpolitico/Aintervcub.htm
ResponderExcluirA quem interessar conhecer um pouco da história da participação Brasileira, cubana, soviética e da Africa do Sul no conflito de Angola.