domingo, 11 de dezembro de 2011

SALINAS BRITO: Um paraíso de aves... e para o homem


Fonte: GRANMA
por Rouslyn Navia Jordán - Fotoe Einier Dávalos Peña


Saímos antes de raiar o dia, logo após tomarmos o café da manhã com muita pressa, pois não queríamos entorpecer os planos para a jornada. O entusiasmo se apropriou de nossa equipe, sabíamos, por referências, que estávamos a ponto de conhecer uma das mais belas paisagens do pantanal de Zapata

Contatamos previamente com um guia para que nos mostrasse a zona, Ángel Martínez, "Angelito", que nos esperou no local combinado, com os binôculos pendurando do pescoço. Como pessoa habituada a visitar o local, ele foi com os meios necessários para a observação da fauna em todo seu esplendor.

INICIANDO O PERCURSO

Um rústico cartaz nos anuncia que nos estamos adentrando numa zona protegida do Parque Nacional Pantanal de Zapata. A marcha pelo aterro torna-se um tanto difícil, inclusive em carro, mas pela ausência de chuvas nesta semana não está tão alagado como esperávamos.

São cerca de 22 quilômetros dum caminho que, no início, se mostra povoado de árvores, uma floresta tão espessa que a vista não consegue ultrapassar mais além dos dez metros de distância.

Aos poucos, a vegetação vai mudando, de repente a ambos os lados nascem manguezais (existem aqui quatro espécies: vermelho, preto, branco e plano) associados a um incrível sistema de lagoas interiores de água salobra, que se comunicam com o mar, muito distante. O carro se desloca pelo único pedaço de terra firme. Segundo nos explica Angelito, "durante o verão quase sempre está alagado, apenas no inverno é possível o acesso".


Com ao redor de 32 mil hectares de extensão, as salinas Brito se encontram no sul da província de Matanzas, no que muitos identificariam no mapa como o salto do famoso sapato da Ilha.

"Devem seu nome a José Brito Santos, antigo proprietário da região, que antes do triunfo revolucionário explorava a produção de sal, mediante a técnica de evaporação da água em pequenos locais estanques".

Naquela época, não existiam muitos caminhos no pantanal, daí que um rústico caminho de ferro fosse utilizado para transportar o sal e sua posterior comercialização.

Brito abandonou o país, após janeiro de 1959, e a salina foi fechada. A política do governo cubano desde aquela data foi convertê-la em local de conservação e atualmente se integra ao Sistema Nacional de Áreas Protegidas.

A MAGNÍFICA FAUNA AVÍCOLA DAS SALINAS

A cerca de metade da viagem vemos os mais inquietos de seus habitantes. Suas plumagens de variadas cores destacam no verde-azul do entorno. Não em vão as salinas são consideradas pelos especialistas um santuário para as aves cubanas.

Além de ser hábitat permanente duma imensa fauna local, as características da região fazem com que seja um excelente refúgio para as mais de 65 espécies migratórias que veem aqui durante o inverno, entre os meses de outubro e março.

Ornitólogos informam da presença ali de carquejas-de-bico-manchado, colhereiros, mariquitas-de-rabo-vermelho, patos, cormorões, garças, pelicanos brancos, e outros. "Estes últimos começaram a chegar durante migrações invernais e seu número foi aumentando gradualmente, até chegar quase aos 80 membros da espécie", esclarece o guia.

Os postos de observação, que se encontram a cada certo trecho, são paragens quase obrigada. De sua altura pode apreciar-se melhor a natureza e especialmente os flamingos cor-de-rosa (Phoenicopterus ruber), espécie protegida e protagonistas principais do local. Segundo estimam os especialistas, sua população nas salinas está entre 10 mil e 15 mil exemplares.

Os mais jovens destacam por suas penas ainda desprovidas da cor característica, agora são duma cor branca que, aos poucos, irá tornando-se vermelha. Esses, quase com certeza, ficarão aqui, por não poderem enfrentar os rigores da longa viagem, enquanto os adultos se marcham, ao concluir a temporada mais fria.

Jovens e adultos passeiam lentamente, com suas longas patas procurando comida. De vez em quando, assustados pela nossa presença, levantam voo e se afastam um pouco... "com os estranhos é preciso manter a distância", parecem dizer com sua atitude esquiva.

UM PARAÍSO NATURAL EM PERIGO

"As atrações não se localizam apenas acima de nossas cabeças", esclarece Angelito, "mas também debaixo destas águas se encontram também sardinhas, barracudas, ubaranas-ratos, sargos, tarpões atlânticos, sáfias, raias lengas... um sem-fim de peixes".

As duas espécies de crocodilos do pantanal, o americano (Crocodylus acutus) e o cubano (Crocodylus rhombifer) também são visíveis durante os períodos de enchentes. Com a chegada do inverno e a descida do nível das águas, deslocam-se e afastam-se da vista.

"Os efeitos do aquecimento global poderiam fazer com que toda esta zona seja coberta pela água". Invade-nos a tristeza só de imaginar isso. Segundo advertem inúmeros especialistas, talvez em 20 anos não seja possível voltar aqui, como agora.

O alerta foi lançado a tempo, a ação do homem causou a ameaça e apenas ela pode desfazê-la.

Fãs do ecoturismo, a pesca esportiva, a observação de aves, o percurso por trilhos e outras manifestações do turismo de natureza se sentem atraídos com frequência.

Não é raro então que, quando começamos a viagem de retorno à civilização, deparamo-nos com novos visitantes que, câmara na mão, dispuseram-se a flagrar, para sempre, as imagens desta sorte de paraíso natural que pode não existir para as gerações futuras.

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