por Ivet González
Fonte: IPS
Havana, Cuba, 27/1/2011, (IPS) - Embora seja um dos motivos mais comuns de consulta médica no mundo, o tratamento da dor na infância é, em geral, desconhecido.
Diante desta situação, pessoal da área de saúde de diversas partes do mundo se reuniram na capital cubana para debater o assunto.
“No caso de uma criança, toda dor é importante”, afirmou o médico II Painel de Qualidade de Vida sem dor, dor pediátrica e sua reabilitação, realizado na semana passada em Havana.
O encontro foi organizado pela Cátedra de Qualideade de Vida, Saúde e Felicidade da Universidade de Ciências Médicas de Havana, entre outras entidades, para promover um enfoque integral sobre o assunto, que inclui os contextos psicossocial e médico.
Entre 5% e 8% das crianças no mundo sofrem de dor crônica, acrescentou Finley em sua conferência. Para este especialista, há barreiras que impedem enfrentar o problema, como o conhecimento, recursos, sociais e institucionais, estas últimas engrossadas por errôneas concepções e práticas médicas.
País e mães que levam seus filhos à consulta por esta causa esperam encontrar soluções, disse Finley. Com frequência, os procedimentos do pessoal da saúde provocam mais angústia nos pequenos pacientes, acrescentou, baseando-se em estudos a respeito feitos em nações como a Jordânia.
Nos países em desenvolvimento tem impacto a escassez de recursos humanos e de materiais, quando apenas 10% da população mundial recebem 90% dos benefícios dos estudos em medicina. Mas, prevalece o “medo” na prescrição de drogas como morfina e alguns medicamentos de fácil acesso, afirmou.
“As pesquisas precisam gera ações. Temos de começar já”, destacou Finley, coordenador do projeto ChildKind, que oferece acompanhamento de unidades de salde com áreas de tratamento da dor infantil e as avalia com um certificado internacional, após o cumprimento dos requerimentos exigidos. Um olhar no entorno social revela outros fatores para a compreensão integral da dor na infância.
Para o representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em Cuba, Juan Ortiz Brú, é urgente eliminar dores mais “emocionais’, causadas por uma ordem discriminadora na sociedade, na economia e na política. A injustiça, a escravidão infantil e o acesso limitado à educação e à saúde, imprescindíveis “motores do desenvolvimento pessoal”, também prejudicam uma satisfatória qualidade nas primeiras fases da vida, acrescentou. “Não é uma questão de recursos, mas de prioridades políticas”, ressaltou.
Além da indicação de terapias, enfrentar a dor implica adentrar nos preceitos da bioética. “O paciente é um ente moral e jurídico, por isso o mais importante é sua dignidade e seu projeto de vida”, acrescentou o médico cubano Ubaldo González, que qualifica a assistência médica em crise mundial pela “excessiva tecnologização”.
Recuperar a tradição da clínica e o contato emocional, bem como eliminar falsas ideias entre o pessoal médico, como a não aplicação de determinados anestésicos em crianças ou pensar que estas não sentem dor, lideram as prioridades, a seu ver. Nos planos de estudo de carreiras de saúde deve ser mais abordado o tema da dor, disse González.
Em Cuba há vários desafios. “Temos como dificuldade o acesso à informação”, explicou à IPS o imunologista Emigdio León. Por esta razão, concretizar atividades como este encontro internacional repercute em grande parte para o desenvolvimento de estudos e tratamentos da dor pediátrica nesta ilha. “Apesar de haver desconhecimento (em Cuba e no mundo), temos um capital humano profissional com bom preparo e interessado no tema, o que oferece um pouco de segurança e esperança”, disse León.
Este país vive um processo de atualização de seu modelo econômico, que se definirá no VI Congresso do Partido Comunista de Cuba, em abril. Essa reforma está resumida no Projeto de Diretrizes da Política Econômica e Social do Partido e da Revolução, e prevê impactos na saúde pública. Racionalizar o uso e o alcance destes serviços gratuitos para a população cubana e ampliar o emprego da medicina tradicional e natural figuram entre as propostas, que estão em debate nas comunidades e sindicatos de todo o país.
Segundo León, o enfoque seguido no país para tratamento da dor incorpora esta especialidade da medicina, que reivindica conhecimentos de culturas milenares na cura humana. Mas, “o primeiro que precisa ser feito é uma mudança de mentalidade” entre um povo ocidental, de elevada cultura médica.
Por sua vez, a neonatologista Roxana del Monte insistiu em quanto resta por se conhecer sobre a dor nos recém-nascidos. Ela indicou à IPS práticas para minimizar o mal-estar nos bebês diante de procedimentos médicos, como colocá-los antes no peito da mãe, uso de açúcares e educar a família na importância das carícias
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