quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Na luta contra o Terrorismo Midiático em relação a Cuba!

Reproduzimos abaixo o texto da jornalista e presidente do Conselho Deliberativo da Associação Cultural José Martí do Rio grande do Sul, Vânia Mattos, publicado no site da própria ACJM-RS, assim como do Portal Cuba Viva.

Vânia participou em Cuba, no mês de novembro ultimo, da I Brigada Internacional Contra o Terrorismo Midiático.O evento contou com a participação de 60 representantes de 21 países. Do Brasil além de Vânia outros treze solidários marcaram presença na Brigada e lá eles criaram o endereço  brig_medios@listas.mmsc.laneta.apc.org, para que pudessem enviar e receber notícias relativas a Cuba e/ou outros países da América Latina.

Caso queiram participar do grupo, basta encaminharem para esse endereço o seu pedido de inclusão com o nome e entidade que representam.



Basta de Hipocrisia!

 Por Vânia Mattos Barbosa*

“Liberdade é o direito que todo homem tem de ser honrado, e a pensar e falar sem hipocrisia”. (José Marti)

Lutar pela liberdade! Este foi, sem dúvida, um dos maiores ideais defendidos por José Marti e sempre presente nas reflexões e ações pela independência de Cuba.  Marti compreendeu a dinamicidade da história e compreendeu também que toda a guerra pela liberdade é uma batalha de ideias.

A liberdade de pensar e falar sem hipocrisia a que José Martí faz referência é, nos dias atuais, um poderoso instrumento que possibilita tanto a resistência quanto o protagonismo daqueles e daquelas que se opõem às tiranias. Tiranias – que sabemos – por vezes se disfarçam em roupagem de “Democracias”.

Atento, o governo revolucionário cubano, inspirado nos ensinamentos de José Marti, se empenha permanentemente em combater e desmascarar a tirania e as farsas capitaneadas pelo imperialismo e seus seguidores, que encontram na grande mídia, o amparo para tentar desestabilizar governos reconhecidamente democráticos e, de maneira mais escancarada e raivosa, o de Cuba. O chamado terrorismo midiático, esse infeliz e subalterno dispositivo não recolhe em nenhum minuto seus tentáculos para intervir nas sociedades, desinformá-las e disseminar sua visão equivocada de mundo, ou seja, impor os valores que interessam às classes dominantes e à Washington.

É neste contexto que podemos abordar o acirrado debate sobre “liberdade de expressão X censura” que se faz hoje em Cuba, no Brasil, na Venezuela, no Equador, na Bolívia e em tantos outros países do mundo. Nesta abordagem é necessário observar, antes de tudo, de  onde partem os protestos de “censura” e em qual momento eles se manifestam. E mais: perceber que quando as vozes que eles desdenham se voltam contra eles, isso não é entendido como defesa da democracia, e sim como ditadura e cerceamento da “liberdade de expressão”.

Vamos aos fatos

Recebi com preocupação correspondência eletrônica de um jornalista brasileiro, indignado e convencido das informações publicadas pelos Repórteres sem Fronteiras, que denunciavam a proibição de Havana para que o dissidente Guillermo Fariñas viajasse a Estrasburgo para receber o premio Sakharov do Parlamento Europeu. À correspondência, foi acrescentada, ainda, reportagem semelhante publicada no blog do jornalista Ricardo Setti – também brasileiro -, acompanhada de um link com matéria da Revista Veja que traz a seguinte manchete: “Por trás das restrições de viagens impostas aos cubanos, uma verdadeira indústria migratória alimentada pelos Castro”. E é claro, suas fontes são apenas a blogueira Yoani Sánchez e Fariñas, ambos ferrenhos opositores do governo cubano.

A réplica

“A calúnia é o discurso que divide os amigos”. (Platão)

Se o governo cubano se empenha para desmascarar a farsa é porque compreende a liberdade não apenas como um processo político, mas também como um processo civilizatório e cultural. Cuba sabe reconhecer como herois revolucionários aqueles que lutaram e ainda lutam para defender a pátria e não para traí-la.

Mas  a grande mídia não querer aceitar sociedades críticas que aprenderam a usar o conhecimento e as tecnologias para informar e auxiliar a cidadania na tomada de decisões. Também não querer aceitar, que perdem força e credibilidade os governos ou as pessoas que insistem em ignorar a dívida social construída pelo modelo de desenvolvimento concentrador de renda e pelo passado escravocrata.

De onde vêm os protestos de que em Cuba há censura? Certamente vêm dos governos opositores da democracia, vêm dos grandes empresários de comunicação e seus subalternos. Vêm daqueles que visam a privar a cidadania do direito constituído à informação.

Esse grupo tem medo que o cidadão esclarecido questione o que está por traz da manipulação midiática. Eles sabem que a sua prática temerária e inconsequente pode acabar com a própria seriedade da imprensa. Eles têm medo do prejuízo que causam quando são desrespeitados os direitos individuais da cidadania. E sabem, também, que a realidade é o ponto de partida para a informação e que a mentira “os levará da violação ética para o terreno da criminalidade”.

E eles também  não desconhecem que o fazer  jornalismo requer um esforço de preparação sobre o tema e que o desconhecimento da fonte pode afetar a credibilidade da informação em razão das suas qualificações. E que o cuidado e o esforço devem ser exigidos na elaboração das informações que precisam ser contrastadas, documentadas e expostas com objetividade.

A Revista Veja atua como verdadeira porta–voz da exclusão social, política e cultural e é duramente criticada no Brasil pelos segmentos progressistas da sociedade organizada. E não foi necessário um maior esforço mental para perceber nas reportagens citadas fatos jogados em confusão e que visam a uma farsa montada intencionalmente para constranger e desqualificar o governo cubano, num momento em que debate mudanças importantes para o futuro do país.

Quem é Guillermo Fariñas?

Se nos indignarmos com a farsa é possível desmenti-la para desvendar o véu que encobre a sã e justa verdade.

Fariñas denomina-se partidário da luta “não violenta” contra a Revolução cubana. Porém, o enfrentamento que faz ao seu país é cruel: reconhecido como grande ator midiático da chamada “dissidência cubana”, alia-se à grande mídia internacional para disseminar a farsa de que ele e outros “presos de opinião” – como se intitula -, são vítimas da censura e da ditadura revolucionária.

Guillermo Fariñas tem estreita relação com pessoas e organizações da extrema direita em Miami e inclusive recebe delas financiamento, comprovado numa carta de agosto de 2009, encaminhada por ele a Ángel de Fana Serrano, terrorista de Miami vinculado à organização paramilitar Alpha 66.

Ativista da sua própria causa, tem ainda amplo relacionamento com a Secção de Interesses Norte – americana em Havana e com algumas sedes diplomáticas européias que exercem subversão contra Cuba recebendo para  sua atuação instruções, dinheiro e abastecimento.

Com a saúde fragilizada pelas sucessivas greves de fome, no final de 2003 Farinãs obteve licença extra penal do governo de Cuba, e em todas as greves recebeu assistência médica gratuita como qualquer cidadão cubano. Isso sem que o governo o discriminasse pela sua condição de mercenário e nem cedesse diante da sua chantagem.

Há alguns meses o governo espanhol ofereceu a Fariñas a possibilidade de emigrar para aquele País. E o “dissidente” que considera um inferno a vida em Cuba curiosamente se negou  a emigrar para uma potencia econômica mundial  e optou em permanecer vivendo num país bloqueado e de terceiro mundo.  Ocorre que ao abandonar Cuba Fariñas ficará privado das vantajosas ajudas financeiras que recebe e do prêmio milionário que lhe outorgou recentemente a União Européia.

Ao justificar o premio Sakharov para Guillermo Farinãs, o Parlamento europeu afirmou que as prisões do “dissidente” se deram em razão da sua “atuação política”. Então vejamos:

-           Em 1995 Fariñas foi julgado e condenado a três anos de prisão em liberdade e ao pagamento de uma multa no valor de 600 pesos, por agredir uma companheira do hospital onde trabalhava, causando-lhe múltiplas lesões no rosto e nos braços. A imprensa internacional silencia sobre o caso que certamente atingiria a imagem do seu protegido. Da mesma forma vários sites bem como a enciclopédia Wikipedia  minimizam o ocorrido, sustentando que a agressão se deu durante uma discussão na qual  Fariñas acusava a vítima de corrupção.

-           No ano de 2002, Guillermo Fariñas agrediu violentamente um ancião, na cidade de Santa Clara, em razão de uma discussão política. A vítima sofreu uma intervenção cirúrgica para retirada do baço e o agressor foi condenado a cinco anos e dez meses de detenção. Novamente a grande mídia silenciou  sobre o fato ocorrido.

Em síntese, Fariñas é um mercenário, traidor da sua pátria e do seu povo. E não é por acaso que inexiste qualquer registro na imprensa dita “livre” sobre dissidentes de outros países que traíram suas pátrias, mesmo sendo críticos de seus governos.

E quanto aos “presos de opinião” defendidos por Fariñas – muitos já libertados a partir de um acordo feito com a igreja católica e o governo espanhol – foram condenados em tribunais de Cuba por receber financiamento do imperialismo estadunidense que, entre tantas ações terroristas, submete a Ilha ao vergonhoso bloqueio condenado por toda a comunidade internacional.

O premio Sakharov

O premio à liberdade de consciência foi criado em 1988 pelo Parlamento Europeu e leva o nome do físico nuclear soviético, AndreiSakharov , transformado em ícone  da guerra fria e da desestabilização do socialismo pela propaganda dos governos e meios de comunicação do ocidente capitalista.

Cabe ao Parlamento, com sede em Estrasburgo, França, definir as propostas e decidir os critérios para a premiação que ocorre ao redor de 10 de dezembro de cada ano, quando se comemora o Dia da Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas.

Com exceções de outorgas como a concedida ao ex – presidente Sul – africano Nelson Mandela, em 1989, tanto as propostas quanto as  indicações  ao premio  têm primado pelo que podemos considerar como manipulação ideológica e política, o que tem garantido, nos últimos anos, a classificação de candidatos com posturas anticomunistas, anticubana e antivenezuelana.

Curiosamente o Parlamento Europeu concedeu o premio, pela terceira vez, nos últimos nove anos, no valor de 50 mil euros, a representantes da chamada “dissidência” cubana, a seguir: em 2002, a outorga foi para Oswaldo Payá Sardinas, outro mercenário que, entre outras facetas, contribuiu durante vários anos com as ofensivas dos EUA, da direita européia e da máfia de Miami contra Cuba. Payá também apoiou o golpe fascista contra o presidente Hugo Chaves da Venezuela. A segunda premiação, ocorrida no ano de 2005, foi para as Damas de Branco, velhas conhecidas da Oficina de Interesses e dos diplomatas de algumas embaixadas européias. As damas admitem publicamente que receberam financiamento de Santiago Álvarez e apoio público de Luis Posada Carriles, conhecidos e sanguinários terroristas. Em 2010, a candidatura de Fariñas foi defendida pelo Partido Popular Europeu, principal interlocutor da atual campanha do Parlamento contra Cuba  e seguidor da política agressiva que o governo estadunidense impõe a Ilha.

A indicação de Fariñas derrotou candidatos defensores dos direitos humanos do Vietnam, Etiópia, Eritrea e Síria, mostrando ao mundo que o Parlamento Europeu premia para violar o sagrado direito de autodeterminação e a  soberania da grande maioria do povo cubano.

Conclusão

No último mês de novembro participei, em Cuba, junto com companheiras e companheiros do Brasil e cerca de outros 20 países, da Brigada Internacional Contra o Terrorismo Midiático e reproduzo aqui parte da intervenção que fiz. Na ocasião, destaquei que os conceitos de democracia e direitos humanos – utilizados indiscriminadamente por tanta gente e por tantos governos – precisam estabelecer seus sentidos e que a clareza desses conceitos ajuda a desmascarar a mentira e a combater posturas distorcidas, maniqueístas e agressivas do imperialismo e do seu braço auxiliar, a grande mídia.

E se compreendo a liberdade como parte da essência de um regime democrático, reconheço como democrático o governo cubano por defender com bravura a soberania do seu País. Também, por empreender esforços para garantir os direitos econômicos, sociais e culturais do seu povo, sempre atento aos valores humanos diretamente associados a eles.

Por outro lado é clara a tirania do governo estadunidense, quando  impõe a Cuba um criminoso bloqueio econômico, comercial, social, cultural financeiro e tecnológico e, também, internacional. Pasmem! Eles chamam isso de “embargo” e afirmam que é apenas comercial.

A tirania também fica evidente,  quando o  imperialismo mantém, em cárceres privados, Fernando González, Ramón Labañino, Antonio Guerrero, Gerardo Hernández e René González, presos em setembro de 1998, ao tentar impedir que grupos extremistas cubanos nos EUA efetivassem ações terroristas contra o seu próprio país.

O mesmo governo imperialista destinou, para o ano fiscal de 2009, por meio da Agência para o Desenvolvimento Internacional dos EUA (USAID), a soma de 15,62 milhões de dólares para a denominada “dissidência cubana”, tudo para desestabilizar a ordem constitucional da Ilha. As quantias procedentes de outras instituições, bem como de organizações financiadas pelo governo estadunidense multiplicam essa soma. Do ponto de vista jurídico esse financiamento converte  “os dissidentes” em agentes a serviço de uma superpotência, o que é proibido em qualquer país do mundo.

Não são de agora as denúncias sobre as generosas quantias que “os dissidentes” recebem  dos Estados Unidos e se hoje intensificam  é para desmascarar a crescente e mentirosa campanha que o terrorismo midiático destila contra Cuba. Entre tantas  e informações, duas recentes podem ser encontradas nos seguintes endereços: Wikileaks, los mercenarios y el dinero de EE.UU e www.rebelion.org/, entrevista com Salim Lamrani, autor do livro ¨Cuba, Lo que los médios de comunicación no dirón nunca¨.

Chega de hipocrisia!  Aos verdadeiros heróis que lutaram e aos que ainda lutam para defender a pátria, o meu eterno respeito. À memória e à liberdade: resultado daquilo que vemos, escutamos, lemos e apreendemos com tantas e tantas pessoas que apreciam a verdade.

*Vânia Mattos é jornalista e presidente do Conselho Deliberativo da ACJM/RS.

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