Pacientes atendidos por médicos cubanos na Bolívia | Foto: Xico Nery |
Por Xico Nery na Agência Amazônia
Parece fila do SUS (Sistema Único de Saúde) brasileiro, mas o que se vê aqui é a cara da medicina social na sua essência. Todos têm direito a se consultar gratuitamente com médicos cubanos e, se precisar, poderão retornar depois.
Até agora não há um número exato e oficial de brasileiros por eles atendidos. Segundo a brasileira Ana Maria, 38 anos, mais de dois mil brasileiros já passaram pela clínica instalada no Hospital Geral desta cidade. Há um ano e meio ela facilita o acesso de pacientes vindos do interior do Estado de Rondônia e da faixa de fronteira entre o Brasil e a Bolívia.
– Eles atendem com boa vontade, muita paciência e com a dignidade que toda pessoa merece. A maioria dos doentes procura tratamento de visão, cirurgias de catarata (doença causada pelo escurecimento do cristalino), ortopedia e cardiologia – conta Ana Maria, conhecida por Ana da Linha 8. É a referência ao Projeto de Assentamento Sidney Girão, no município de Nova Mamoré, a 322 quilômetros da Capital, Porto Velho, onde ela trabalha.
O convênio assinado entre os governos de Cuba e da Bolivia na área de saúde não restringe o tratamento apenas a bolivianos das províncias locais (Riberalta ou a Guayaramerín). O acordo entre os dois países exige, excepcionalmente, que o atendimento seja feito neste território e nas instalações do hospital onde os cubanos instalaram seus equipamentos médicos e operacionais. Ali são feitas as consultas e os encaminhamentos às cirurgias.
Triagem na aduana
Numa área reservada do Hospital de Guayaramerin, Ana Maria organiza as pessoas para serem atendidas. Diariamente, do lado brasileiro da fronteira entre os dois países (Guajará-Mirim oeste do Estado de Rondônia), os pacientes que com ela conseguem consultas aglomeram-se na Aduana Brasileira, onde são submetidos a uma triagem.
Após a confirmação das consultas, as pessoas atravessam para o outro lado do Rio Mamoré, em Guayaramerin, cidade do Departamento (estado) de Beni. Em grupos, elas são conduzidas para um hotel da cidade e logo nas primeiras horas do dia seguinte recebem atendimento.
Todos viajam de ônibus ou de carro para chegar à Bolívia, mas estão livres dos tradicionais problemas enfrentados pela rede pública de saúde em Rondônia e noutros estados onde faltam profissionais no SUS.
Ninguém paga
O atendimento a brasileiros e bolivianos faz parte do acordo entre os dois países (Cuba e Bolívia). São especialistas em áreas estratégica da medicina (preventiva e curativa). A maioria dos casos presenciados pela Agência Amazônia são de pacientes "desenganados" por médicos brasileiros nas áreas de oftalmologia, cardiologia, ortopedia, clínica geral, geriatria e até oncologia.
A predominância de casos é do setor de cirurgia da visão, constata-se.
– Casos de cataratas crescidas aparecem todo dia. Chegam também pessoas com "carne crescida" – informa a especialista em Clínica Geral e Medicina Interna (do corpo), mestra em saúde pública, Yasmin Bermudes. "Carne crescida é uma pequena membrana avermelhada na superfície do olho, que prolifera em direção à córnea.
Nesse caso, segundo explica Yasmin, as cirurgias são feitas imediatamente e os pacientes, se brasileiros ou os nacionais bolivianos ainda são "reagendados", no caso de confirmação de novos procedimentos.
– Além de deixarem o hospital, na volta para o Brasil, com os remédios prescritos, na bagagem totalmente de graça.
Yasmin é coordenadora das equipes de médicos cubanos. Fala pouco. O tempo todo ela está envolvida com esse trabalho solidário.
– Fazemos os procedimentos que todo o sistema de saúde deveria proporcionar aos cidadãos do mundo – ela diz.
Outra médica que não se identificou por questão ética, observa:
– Em resumo, ela quer dizer que nós, em nosso país, atuamos em todas as áreas da medicina. Todo cidadão merece esse tipo de atendimento, e gratuito.
A reportagem não pôde registrar a atuação das equipes nos centros cirúrgicos à disposição dos médicos cubanos que atuam no Hospital Geral de Guayaramerín. Isso se deve a uma das cláusulas do convênio entre Bolívia e Cuba. O acordo se estenderá por mais dois anos.
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