"Como cobrir Cuba e evitar os clichês?" É o que pretendem duas jornalistas ao oferecer uma oficina na Universidade de Campinas (UNICAMP).
Câmera da TV cubana na Praça da Revolução. Por Cubadebate |
Por Sturt Silva
As jornalistas Amanda Cotrim e Juliana Sangion, com experiência em Cuba no campo do jornalismo e do cinema, tentarão contribuir para que coberturas jornalísticas sobre/em Cuba evitem serem baseadas em percepções equivocadas e cheias de clichês. Para isso estão organizando a oficina: Como cobrir Cuba e evitar os clichês?
A oficina, que faz parte da programação do XXI Seminário de Teses em Andamento, vai ocorrer no dia 26/10/2015, das 16h30 às 18h30, no Mini-auditório do Centro Cultural do Instituto de Estudos da Linguagem IEL/UNICAMP.
Além de ser grátis, a atividade, apesar de ser dentro de um evento acadêmico, também é aberta para a comunidade externa à universidade. Para participar o interessado (a) deve fazer a inscrição aqui.
Em entrevista ao blog Solidários, Amanda Cotrim - que foi correspondente internacional em Cuba em 2012, estudou cinema na Escola Internacional de Cinema e TV de Cuba e, atualmente, investiga Cuba em sua pesquisa de mestrado -, disse acreditar “que mostrar para os alunos como o discurso sobre Cuba foi construído, ajudará a compreender porque alguns sentidos sobre Cuba perpetuaram”.
Confira a entrevista completa abaixo:
Solidários: A oficina faz parte da programação do XXI Seminário de Teses em Andamento. Ou seja, um evento para a comunidade acadêmica. E a oficina ficará restrita também à academia?
Clique na imagem para se inscrever |
Amanda Cotrim: Não. A oficina se realiza dentro de um evento acadêmico, mas seu conteúdo pode e deve ser compartilhado com qualquer pessoa que se interesse por Cuba e pelo Jornalismo. Essa é uma oportunidade que surgiu dentro do ambiente universitário, mas há pelo menos três anos eu realizo atividades relacionadas a Cuba nos sindicatos, fábrica (a exemplo da Fábrica Ocupada Flaskô, em Sumaré/SP), coletivos políticos e etc.
A universidade pública, como é o caso da Unicamp, é (ou deveria ser) um espaço aberto a todos. Por uma questão espacial, é natural que as pessoas que se inscreverem na oficina tenham alguma relação com a vida acadêmica, mas não necessariamente terão.
Solidários: A Oficina visa contribuir com os jornalistas que vão fazer reportagens sobre/na ilha. Pensam em desconstruir (pré) conceitos do tipo "ditadura cubana", "ilha do Fidel", etc?
Amanda Cotrim: Inicialmente, o objetivo é esse, mas a depender do público inscrito (se a maioria for não-jornalistas) tentaremos compreender como algumas “verdades inquestionáveis” foram construídas e quais os efeitos de sentido que elas têm no imaginário dos jornais sobre Cuba. Na verdade, é muito difícil “desconstruir” algo que foi construído historicamente. Ou seja, não temos a intenção de mudar o imaginário das pessoas (isso seria ilusão), mas acreditamos que mostrar para os alunos como o discurso sobre Cuba foi construído, ajudará a compreender porque alguns sentidos sobre Cuba perpetuaram.
Tentaremos atravessar a interpretação para chegar à compreensão. Porque interpretar é continuar preso às evidências já construídas, imaginárias. Com a compreensão, no entanto, conhecemos os processos de produção de um discurso, a historicidade concreta, materializada na linguagem.
O nosso foco é mostrar as condições de produção da notícia, como a imprensa funciona, o papel do sujeito-jornalista na produção da reportagem, entre outros. Eu fui correspondente internacional em Cuba em 2012, estudei cinema na Escola Internacional de Cinema e TV de Cuba e, atualmente, investigo Cuba no meu mestrado, na Unicamp. Então, tive acesso a um material interessante, o qual fomentará a oficina. Também estará comigo a Jornalista e Professora de Jornalismo, Juliana Sangion, que estudou cinema em Cuba e nos ajudará a compreender os meandros do jornalismo.
Os jornais- documentos/discursos- tiveram atuação relevante sobre a memória (aquilo que se sabe) sobre Cuba. Nosso objetivo é realizar um embate entre os enunciados dos jornais sobre Cuba e o movimento histórico.
Solidários: Na página oficial do evento aparece a seguinte frase: “Nesta oficina, vamos tratar a escrita por outro caminho. Não sendo ela o reflexo da realidade, mas sim a materialização da relação do sujeito/jornalista com o conhecimento, que é mediado pela escrita”. Pode explicar melhor?
Amanda Cotrim: Nossa oficina se baseará em alguns referenciais teóricos, um deles é a teoria da análise de discurso- materialista, que se apresenta como uma teoria crítica da linguagem. Isso quer dizer que o texto (no caso o jornalístico) não é um conjunto de palavras já dadas, absorvidas pragmaticamente pelos sujeitos (sejam os leitores ou os próprios jornalistas). Não consideramos que o sentido da palavra seja da ordem da língua (que teria um significado intrínseco), por isso, atribuímos os sentidos a uma construção sócio-histórica. Ou seja, o sentido nunca é um, ele sempre pode ser outro, mas não qualquer um. Os sentidos podem ser outros porque vivemos em uma sociedade de classes, onde há divisão social, conflito, contradição e disputa de sentido.
Os sentidos mudam, entre outras, por aqueles que os empregam, uma condição de produção que intervém com força na produção e na dominação social dos sentidos sobre Cuba. A linguagem faz parte da superestrutura social, portanto, defendemos que os sentidos estão em disputa pelas formações sociais que as empregam.
O sentido sobre Cuba reside de onde Cuba é falada (a ilha é falada pelos jornais). Nessas condições de produção, não é o discurso de Cuba que define o cubano, é o discurso sobre Cuba. O texto jornalístico, portanto, não reflete a realidade, ele “apenas” materializa as relações de força e os embates ideológicos que subsiste a luta de classes. É a luta pelos sentidos sobre Cuba que está em jogo.
Eu gostaria de contribuir. Agradecimentos
ResponderExcluirOlá Norelys. Entre em contato com Amanda: https://www.facebook.com/amanda.cotrim.31?fref=ts
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