sábado, 2 de julho de 2022

Voo direto entre Brasil e Cuba pode ser retomado

Avião de companhia cubana de aviação | Foto: Cubana de Aviación/Facebook 

Por Sturt Silva 

Em entrevista ao site Diplomacia Business, o Embaixador de Cuba no Brasil - Adolfo Curbelo Castellanos - disse que estuda a possibilidade de retomar com um voo direto entre Brasil e Cuba. 

Em julho de 2013 a empresa Cubana de Aviación tinha inaugurado um voo semanal, porém ele foi cancelado em fevereiro de 2015. As viagens de Havana para São Paulo era nas quartas-feiras, e de São Paulo para Havana, nas quintas-feiras. A companhia também tinha operado a conexão entre os anos de 1993 e 2005. Em 2019 a retomada do voo chegou a ser anunciada, mas não foi concretizada. Atualmente o brasileiro que quiser visitar Cuba é obrigado a fazer escala no Panamá. 

O diplomata de Cuba também falou que seu país pretende atrair 7 milhões de turistas/ano até 2030. O recorde de visitantes é de 4,7 milhões, alcançado em 2018. Porém, com o aumento das sanções por parte dos EUA e o início da pandemia da Covid-19, em 2020, o turismo cubano decresceu. No ano passado apenas 350 mil pessoas visitaram à ilha. Este ano, segundo dados da versão portuguesa do jornal Granma, mais de 1 milhão de pessoas já visitaram o país. 

O chefe da diplomacia cubana no Brasil ainda defendeu aprofundamento das relações comerciais entre empresas brasileiras e cubanas e reafirmou o impacto negativo do bloqueio econômico dos EUA contra seu povo. 

"Cuba coloca à disposição das empresas brasileiras um portfólio de oportunidades de negócios que inclui 678 projetos em todos os setores da economia do país, onde são priorizados a produção de alimentos, turismo, energia, indústria e mineração. Além do tabaco e da cachaça, produtos conhecidos e apreciados no Brasil, há interesse pelo mel cubano. O Brasil é um grande produtor de alimentos e Cuba é um importador interessado em reduzir essa dependência do mercado externo para alcançar a soberania e segurança alimentar. As várias experiências do Brasil nessa área são de grande interesse", disse Curbelo. 

"Cuba continua enfrentando uma guerra econômica [causada pelos EUA]. É uma política genocida concebida para causar fome, privações de todo tipo, mal-estar e desespero na população [cubana]", denunciou o cubano. 

Por fim ressaltou as riquezas naturais e culturais cubanas, os avanços do socialismo, principalmente na biotecnologia e a tranquilidade/segurança que o visitante encontrará na ilha socialista. 

Lembrando que as relações diplomáticas entre Cuba e Brasil estão a nível de Encarregado de Negócios desde 2016. Adolfo Curbelo substituiu Rolando Gómez no final de 2021. 

 Leia a entrevista completa realizada pela jornalista Súsan Faria: 

Como é a relação diplomática hoje entre o Brasil e Cuba?

É do interesse de Cuba e do Brasil, de nossos povos, manter uma relação fluida e dinâmica em todas as áreas: econômica, acadêmica, cultural, esportiva, científica e técnica. A embaixada trabalha com esse propósito. Temos relacionamentos com muitas empresas brasileiras, tanto comercialmente quanto em investimentos. Existem ligações científicas e acordos de cooperação entre várias universidades. As manifestações culturais como a literatura, a música ou o cinema, por exemplo, desempenham um papel relevante. Incentivamos a cooperação e os vínculos também ao nível estadual.

Os laços entre Cuba e Brasil são de longa data e se baseiam em laços fortes e profundos. A proximidade cultural entre nossos povos é inegável. A simpatia é mútua. Cuba ofereceu e recebeu a solidariedade do Brasil e dos brasileiros. Os colaboradores cubanos que prestaram serviços neste país deixaram uma marca profunda que fortaleceu uma amizade carinhosa. Em quase todos os estados existem associações de amizade e solidariedade que contribuem para o fortalecimento das relações entre nossos países e exigem o fim do bloqueio econômico, comercial e financeiro dos Estados Unidos contra Cuba.

O que o Brasil pode oferecer a Cuba e o que Cuba tem a oferecer ao Brasil?

Embaixador Adolfo Curbelo Castellanos – O desenvolvimento alcançado pela Ilha no setor da saúde permite estabelecer uma cooperação mutuamente benéfica. Cuba alcançou alguns avanços notáveis ​​em biotecnologia que motivam o interesse no Brasil em estabelecer vínculos de cooperação. Atualmente quase 80% das vacinas incluídas em seu programa de imunização são fabricadas na ilha. As cinco vacinas desenvolvidas por cientistas cubanos contra o Covid 19 permitiram imunizar toda a população cubana.

Cuba coloca à disposição das empresas brasileiras um portfólio de oportunidades de negócios que inclui 678 projetos em todos os setores da economia do país, onde são priorizados a produção de alimentos, turismo, energia, indústria e mineração. Além do tabaco e da cachaça, produtos conhecidos e apreciados no Brasil, há interesse pelo mel cubano. O Brasil é um grande produtor de alimentos e Cuba é um importador interessado em reduzir essa dependência do mercado externo para alcançar a soberania e segurança alimentar. As várias experiências do Brasil nessa área são de grande interesse.

Hoje importamos alimentos do Brasil, produtos industriais como partes e peças para instalações industriais, cabos coaxiais, entre outros insumos. Entendo que a cultura e o esporte oferecem possibilidades praticamente inesgotáveis ​​de cooperação.

Houve um tempo em que nós brasileiros tínhamos que ir ao México para poder chegar a Cuba. Como é hoje?

 A ausência de uma conexão aérea direta entre Brasil e Cuba limita a chegada de um maior número de visitantes brasileiros à Ilha. Após o início da pandemia houve uma depressão nas viagens de turistas brasileiros a Cuba. Agora observa-se um processo gradual de recuperação. Esse mercado está se recuperando e promete aumentar nos próximos dois anos. A principal maneira de chegar a Cuba hoje é através do Panamá. No entanto, estamos explorando a possibilidade de que um voo direto entre Brasil e Cuba possa ser retomado.

O que é preciso fazer para visitar a ilha?

Viajar para Cuba é muito fácil. O viajante pode ir diretamente a qualquer um de nossos consulados, aqui em Brasília ou em São Paulo, e adquirir o visto de turista. A aquisição do visto de turista também é possível em diversas agências de viagens. O procedimento é ágil. Neste momento não é necessário apresentar PCR, nem portar o cartão de vacinação para entrar no país. Graças à aplicação de vacinas cubanas eficazes e seguras, a maioria da população foi imunizada contra o Covid 19, o que possibilitou o controle da pandemia

O que o turista pode fazer em Cuba?

Em termos de capacidade instalada para o turismo, Cuba conta com 10 aeroportos internacionais, 10 marinas internacionais e três terminais de cruzeiros. Dezesseis empresas hoteleiras internacionais administram 111 hotéis com 64% dos quartos do país. Atualmente temos mais de 70 mil quartos e aspiramos chegar a 100 mil até 2030. Setenta por cento dos hotéis em Cuba são de 4 e 5 estrelas. O recorde de visitantes é de 4,7 milhões turistas e o trabalho está sendo feito para atingir entre 6,5 e 7 milhões de turistas até 2030.

Cuba tem vários sítios declarados Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco. Mas a principal atração do país é seu povo, a alegria dos cubanos e sua cultura. Mais de 40% dos turistas internacionais que chegam a Cuba repetem sua visita. O país é seguro e estável; proporciona uma estadia de prazer, tranquilidade e felicidade. Além de suas praias exclusivas e de seu patrimônio histórico e cultural, os visitantes costumam admirar a segurança e estabilidade do destino e a hospitalidade e o nível cultural do povo.

Não são poucos os que optam por passar férias em Cuba porque é um destino onde não existe crime organizado, nem sequestros, e você pode sair na rua com calma a qualquer hora; uma distinção que, apesar das campanhas de difamação, tem sido reconhecida em todo o mundo. Cuba tem um patrimônio natural e urbano de especial importância. Visitar esses lugares é um verdadeiro privilégio.

O bloqueio econômico ainda prejudica?

Lester D. Mallory, vice-secretário de Estado adjunto para Assuntos Interamericanos, em um memorando secreto do Departamento de Estado, definiu há 60 anos a essência dessa política que prevalece até hoje: “A maioria dos cubanos apoia Castro. A única maneira previsível de minar o apoio doméstico é através do desencanto e da insatisfação decorrentes do mal-estar econômico e das dificuldades materiais.  Todos os meios possíveis devem ser empregados rapidamente para enfraquecer a vida econômica de Cuba. Uma linha de ação que consiga maiores avanços na privatização, reduza os recursos financeiros, os salários reais, provoque fome, desespero e a derrubada do governo”.

Cuba continua enfrentando uma guerra econômica. É uma política genocida concebida para causar fome, privações de todo tipo, mal-estar e desespero na população. Os custos humanos e materiais do bloqueio são altos nos mais de 60 anos de sua implacável aplicação. A preços atuais, os danos acumulados durante seis décadas de aplicação somam 150.410,8 milhões de dólares. De 2020 a setembro de 2021, a economia cubana perdeu 13% de seu PIB como resultado do impacto combinado da pandemia de Covid 19 e do aperto do bloqueio.

O bloqueio é a principal causa de nossas dificuldades econômicas e o maior obstáculo ao desenvolvimento do país. Apesar disso, Cuba desenvolveu um sistema de educação e saúde que se destaca no mundo. As ciências têm o mais alto nível internacional, especialmente a biotecnologia

Quais são as expectativas agora com a mudança de comportamento do governo dos Estados Unidos em relação a Cuba ao flexibilizar o embargo?

As medidas recentes do governo Biden estão na direção certa, mas são insuficientes e seu alcance é muito limitado. Fundamentalmente, elas estão voltadas à emissão de vistos, migração regular, permissão para companhias aéreas norte-americanas voarem para províncias cubanas, flexibilização das remessas para familiares em Cuba e ajustes nas regulamentações para transações com o setor empresarial privado cubano. Os anúncios do governo dos EUA não modificam o bloqueio, nem a maioria das 243 medidas de cerco econômico adotadas durante a presidência de Trump.

O senhor acredita que esse bloqueio, criado por um mundo que já não existe, possa cair em breve?

A possibilidade de que o bloqueio seja levantado em pouco tempo é remota, apesar da rejeição que provoca e do fato de prejudicar também os Estados Unidos, cujo isolamento é notório, mesmo diante de seus aliados. Os propósitos do bloqueio, conforme definido pelo oficial Lester D. Mallory, permanecem intactos 60 anos depois. Apesar dos enormes prejuízos causados ​​pela sua aplicação, não conseguiu impedir o progresso nacional. Cuba continuará resistindo e, ao mesmo tempo, se desenvolvendo.

Cuba é famosa por sua medicina. Se um brasileiro deseja estudar na Ilha, ele pode? O que é preciso fazer?

Centenas de brasileiros concluíram seus estudos médicos em Cuba gratuitamente e hoje exercem a profissão em toda a geografia nacional. Atualmente, os estudos médicos são autofinanciados. Os interessados em estudar medicina em Cuba podem dirigir-se aos consulados cubanos em Brasília e em São Paulo para solicitar as informações necessárias e realizar os procedimentos correspondentes.

Fale-nos sobre o empreendedorismo cubano; médios e pequenos empreendedores e sua relação com os avanços tecnológicos e o mercado.

Os empreendedores fazem parte da realidade cubana há muitos anos. Como parte da atualização do modelo econômico e social cubano, foram criadas as primeiras micros, pequenas e médias empresas (MPMEs). A nova legislação permite que MPMEs estatais, privadas ou mistas sejam estabelecidas e adotem a forma jurídica de sociedade limitada.

Muitos desses empreendimentos estão focados nos processos produtivos industriais, nas novas tecnologias da informação (TIC) e na cadeia de processos produtivos da economia nacional que agregam valor aos bens e serviços exportáveis. No final de maio de 2022, mais de 3.500 desses novos atores econômicos já haviam sido criados.

Este é um setor que pode contribuir e enriquecer as relações entre Cuba e Brasil no comércio e no investimento, para o qual tem amplas possibilidades.

Que mensagem o senhor quer deixar aos brasileiros?

O povo cubano tem uma simpatia especial pelo povo brasileiro que sabemos ser recíproca. É uma relação enraizada no tempo e que olha para o futuro sem esquecer a solidariedade e a colaboração que tanto contribuem para o desenvolvimento das relações de amizade. É importante ampliar e aprofundar nossos laços em todas as áreas onde for possível: comercial, financeira, científica, cultural, esportiva, acadêmica ou educacional. 

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