‘Sem Fidel, isso não seria possível. Capacidade para negociar em condições de igualdade com EUA é fruto da resistência cubana sob sua condução’, diz analista
Fidel Castro visita os EUA em 1959. Na imagem aparece ao lado de estudantes (Clayton High School). Por Estudios Revolución |
Era 3 de janeiro de 1961. Pensando que o rompimento das relações entre os Estados Unidos e Cuba seria resolvido rapidamente, uma mulher dobrou cuidadosamente a bandeira cubana e a levou consigo. Passados 54 anos do anúncio de rompimento com a ilha, feito pelo então presidente Dwight D. Eisenhower, não será essa que foi guardada por anos, mas a bandeira cubana voltará a tremular em Washington nesta segunda-feira (20/07), como fruto da retomada das relações diplomáticas entre ambos os países.
Às vésperas do acontecimento, cubanos lembram histórias relacionadas à ilha e à nação vizinha. Entre elas, está a viagem que o líder da Revolução Cubana fez aos Estados Unidos, meses após a vitória do levante armado. Em abril de 1959, Fidel falou com a imprensa, com estudantes, visitou pontos turísticos e até mesmo um zoológico no Bronx. Mas é uma frase dita na ocasião que tem sido rememorada.
Questionado, durante o primeiro encontro com jornalistas na embaixada cubana, se tinha ido aos Estados Unidos em busca de ajuda estrangeira, o jovem líder respondeu: “Não. Estamos orgulhosos de ser independentes e não temos a intenção de pedir nada a ninguém”. No dia seguinte, disse mais claramente ao Secretário de Estado Christian Herter: “não viemos pedir dinheiro”.
Fidel não irá a Washington, mas para o primeiro chefe da Seção de Interesses de Cuba nos Estados Unidos, Ramón Sánchez Parodi, “o principal protagonista desta saga, do começo ao fim, é Fidel Castro. Foi ele que concebeu desde o primeiro momento a importância e a necessidade de estabelecer relações adequadas entre Cuba e os Estados Unidos. Ele ensinou e educou o povo e os líderes cubanos que nossa confrontação era e é com o imperialismo norte-americano e não com o povo dos Estados Unidos”, como disse em declarações ao site CubaDebate.
Parodi classificou esta segunda como “o dia memorável da história do direito de uma pequena nação a falar com voz própria”. Ele ocupou o cargo entre 1977 e 1989 e estará presente durante a cerimônia de abertura da embaixada.
Vista da futura embaixada de Cuba nos EUA. Por Ismael Francisco/Cubadebate |
Sílvio Rodríguez, um dos mais importantes cantores cubanos da atualidade, também estará presente no ato desta segunda. Sobre esse passo que está sendo dado pelos governos, o artista diz ter dúvidas, mas estar otimista ao mesmo tempo.
Ele explica que “as dúvidas surgem da nossa larga história de abusos do grande contra o pequeno; da biologia; da natureza de muitas coisas. O otimismo, porque creio na razão, e, portanto, no diálogo. Os desencontros têm, acaso como nunca, a oportunidade de contatos reveladores de ambas as partes. Como quase tudo o que se propõe o homem, o que vem também é uma luta contra o escuro da natureza. É preciso crer na lucidez do espírito humano”.
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