quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Filme mostra volta de transexual a Cuba e avanços no respeito a direitos LGBT

Depois de 53 anos, Phedra, do grupo teatral Satyros, retorna ao seu país como sempre sonhou: uma diva. Documentário aborda os avanços da ilha no que diz respeito aos direitos dos homossexuais

Por Xandra Stefanel na RBA

“Parece mentira que quando saí de Havana eu era um artista comum e hoje em dia, já sou um pouquinho mais importante. Não para Cuba, que vai começar a me conhecer agora”, afirma a atriz transexual Phedra de Cordoba em uma paisagem tipicamente havaneira que ela não via há 53 anos: o Malecón. Esta é uma das primeiras cenas de Cuba Libre, documentário de Evaldo Mocarzel (À Margem da Imagem, Do Luto à Luta e À Margem do Concreto) que estreia nesta quinta-feira (18). 

Phedra saiu definitivamente de Cuba em 1955, ainda sob o governo do ditador Fulgêncio Batista, derrubado pela Revolução Cubana em 1959. Durante muito tempo, os homossexuais foram perseguidos no país. Antes de partir, Phedra (ainda Rodolpho) era um ator e bailarino quando decidiu fugir da implicância implacável da mãe, da perseguição do governo e do preconceito da sociedade cubana.

Em 1958, depois de conhecer, em Buenos Aires, o produtor e autor de teatro brasileiro Walter Pinto, ele decide vir morar no Brasil e não mais voltar à Cuba. No ano seguinte, adota sua nova identidade de gênero e passa a se chamar Phedra de Cordoba, na vida e nos palcos das boates e casas de show onde se apresentava.

Sua história e a problemática dos direitos homossexuais na ilha comunista fazem parte, na verdade, de uma trilogia que Mocarzel prepara sobre a companhia de teatro Satyros, do qual ela faz parte desde 2003. As visitas de Phedra a sua família e aos lugares de seu passado são entrecortadas por encenações dos atores do Satyros, entrevistas com cubanos e atividades de grupos homo-ativistas. Ao tentar mostrar e tratar sobre tudo, tem-se a impressão que o longa acaba ficando no meio do caminho entre contar a rica história de Phedra e apresentar os importantes avanços que a sociedade cubana viu nos últimos anos na questão dos direitos dos homossexuais.

A equipe do filme, convidada pelo grupo teatral, vai à Cuba exatamente no momento em que a filha do presidente Raul Castro, Mariela, também diretora do Centro Nacional Cubano de Educação Sexual, promove uma intensiva campanha de combate à homofobia. O filme começa com a recepção de Phedra no aeroporto de Havana e sua excitação de poder voltar ao seu país respeitada como mulher e artista.

No início do documentário, Phedra, em frente ao espelho se pergunta quem é aquela pessoa refletida: ela ou apenas sua representação material? É claro que não há uma resposta objetiva, mas o que a atriz faz, na maior parte do filme, é representar um personagem que foi obrigada a criar para se defender dos preconceitos que existiam e ainda existem, não apenas em seu país natal, mas em todo o mundo. A imagem que quer passar é de alguém forte, mas é exatamente quando sua emoção vence esta representação que se dão as cenas mais emocionantes do filme.

Quando se lembra do pedido do pai, Phedra não representa mais, simplesmente é. “Uma coisa que me lembro de 'papo' é a dignidade que ele sempre me deu, a educação que ele me deu. Ele me disse: 'Nunca se esqueça do seu nome'”, lembra, com olhos marejados. Mesmo com um nome diferente daquele que tinha quando deixou Cuba, fica claro que ela não esqueceu suas raízes, sua origem e, especialmente, a dignidade que seu pai pediu que mantivesse.

Talvez este seja o maior trunfo de Cuba Libre: ao buscar seu próprio passado, Phedra encontra, no presente, um país diferente do que deixou na década de 1950 e “se” celebra: “Eu sou aquilo que queria (ser)”.

Trailer oficial: 


Serviço:

Filme: Cuba Libre.

Direção: Evaldo Mocarzel.

Produção: Casa Azul, Satyros Cinema e Raiz Produções.

Produção Executiva: Assunção Hernandes.

Direção de fotografia: Fabiano Pierri.

Montagem: Willem Dias.

Edição de som: Miriam Biderman, Ricardo Reis, Ana Chiarini.

Assistente de montagem: Maysa Lepique, Sarah Girotto.

Direção de produção: Leonardo Mecchi.

Produção de finalização: Letícia Santos.

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