terça-feira, 5 de agosto de 2014

EUA enviaram jovens disfarçados a Cuba para desestabilizar governo cubano


Por Felipe Amorim no Opera Mundi 

Um programa secreto do governo norte-americano de Barack Obama tentou por quase cinco anos fabricar uma revolta política em Cuba usando jovens latino-americanos, enviados à ilha sob o falso pretexto de participarem de programas sociais e de saúde no país.

Com base em documentos, reportagem publicada nesta segunda-feira (04/08) pela agência de notícias AP revela que a Casa Branca não só bancou a ida de jovens peruanos, venezuelanos e costa-riquenhos a Cuba, como os colocou em perigo, já que não havia uma rede segura para ajudá-los caso fossem capturados.

O projeto dos "viajantes" foi lançado em outubro de 2009 pela Usaid (Agência dos EUA para o Desenvolvimento Humanitário), escritório do governo norte-americano que gerencia a verba bilionária que os EUA destinam a programas sociais e de ajuda humanitária ao redor do mundo. É a mesma agência que havia criado, também sigilosamente, a plataforma online "ZunZuneo", espécie de "Twitter cubano", visando estimular agitação e dissidência política que desestabilizassem o governo do presidente cubano, Raúl Castro.

Segundo a investigação da AP, as autoridades norte-americanas acreditavam que os "jovens espiões" ajudariam a provocar rebeliões em Cuba, viajando pelo país para recrutar pessoas que julgassem ser potenciais ativistas políticos.

Um dos casos incluiu a formação de um grupo de trabalho para a prevenção da Aids, célula que os memorandos da Usaid classificaram como "a desculpa perfeita" para atingir os objetivos políticos da investida. Não é a primeira vez que os EUA tentam, por meios escusos, se aproveitar de programas humanitários de saúde para obter vitórias no campo da geopolítica: quando tentava localizar no Paquistão Osama bin Laden, líder da Al Qaeda e autor dos ataques de 11 de Setembro, a CIA chegou a criar uma falsa campanha de vacinação contra a pólio para pôr as mãos em material genético que confirmasse o paradeiro do terrorista — prática que foi duramente condenada e posteriormente abolida.

Táticas de defesa

A investigação da AP também detalha como os membros do programa faziam para se comunicar entre si e evitar serem descobertos. Além de cartões de memória criptografados, usados para esconder arquivos e enviar mensagens cifradas, os viajantes também preenchiam seus laptops com "conteúdo inocente" para tentar ludibriar as autoridades cubanas em caso de suspeita.

Quando escreviam "estou com enxaqueca", queriam comunicar a suspeita de que o governo cubano estivesse monitorando suas atividades. "Sua irmã está doente" significava que tinham vontade de terminar prematuramente a viagem.

As medidas, entretanto, não impediram que os jovens espiões quase fracassassem na sua tarefa de "identificar potenciais atores de mudança social". De acordo com um dos agentes latino-americanos, eles receberam apenas uma palestra de 30 minutos para aprender como burlar o serviço de inteligência cubano. Além disso, não havia redes de segurança confiáveis para os inexperientes membros do programa caso fossem capturados.

"Embora não haja certeza absoluta, confiamos que as autoridades não tentarão machucá-los fisicamente, apenas assustá-los", relata um memorando obtido pela AP. E acrescenta: "Lembrem-se de que o governo cubano prefere evitar repercussões negativas na imprensa, então um estrangeiro machucado não é conveniente para eles".

De acordo com a AP, a Usaid — e sua empresa privada prestando serviços terceirizados no projeto, a Creative Associates International — continuou com o programa mesmo depois de Alan Gross, também funcionário terceirizado dos EUA, ter sido preso em 2009 sob acusações de espionagem.

Posição da Usaid

"A Usaid e o governo Obama estão comprometidos com o apoio ao desejo do povo cubano de determinar livremente seu próprio futuro", respondeu a agência dos EUA, procurada pela AP.

"A Usaid trabalha com grupos independentes de jovens em Cuba nos projetos de serviço comunitário, saúde pública, artes e outras oportunidades de engajar-se publicamente, consistentes com programas democráticos mundo afora", completa a declaração da agência norte-americana.

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