A lista de pessoas que precisam e estão à espera dum órgão vital para sobreviver cresce a cada dia no mundo, de maneira acelerada, perante a pouca possibilidade dos sistemas de saúde de responderem à demanda, pois os receptores superam consideravelmente os doadores. Em consequência, em muitos países aumenta também o tráfico de órgãos — principal impulsionador do chamado turismo de transplantes, que arrasta milhares de pacientes necessitados cada ano a viajarem e comprar órgãos noutras nações, a preços exorbitantes. Entretanto, e apesar de ser um país subdesenvolvido e submetido a um ferrenho bloqueio, Cuba faz grandes esforços para fortalecer seu programa de doação e transplantes, que conta já com amplo prestígio internacional.
Em 1970, 16 anos depois de ter sido realizado o primeiro transplante renal no mundo desenvolvido, nosso país pôde incluir-se na lista dos que podiam praticá-lo, convertendo-se na terceira nação da América Latina em realizá-lo.
Em 1970, 16 anos depois de ter sido realizado o primeiro transplante renal no mundo desenvolvido, nosso país pôde incluir-se na lista dos que podiam praticá-lo, convertendo-se na terceira nação da América Latina em realizá-lo.
TRANSPLANTE RENAL EM CUBA: AVANÇOS E DESAFIOS
A insuficiência renal crônica (IRC), padecimento que obriga o paciente a recorrer a modos substitutivos da função renal, como as hemodiálises e os transplantes, é considerada hoje pelos especialistas uma doença epidêmica, por seu incremento representativo a cada ano; pois as principais causas que a produzem — a hipertensão arterial e a diabetes mellitus — também aumentam. Neste momento, Cuba tem 2.714 pacientes submetidos a diálise, o que se traduz em 242 pacientes em cada milhão de habitantes, número que cresce 10% anualmente.
O especialista de segundo grau em Nefrologia e funcionário da Organização de Transplantes (ONT) do ministério da Saúde Pública, doutor Alexander Mármol Sóñora, explicou ao jornal Granma que, segundo estudos realizados, para cada paciente com métodos substitutivos — os 2.714 mencionados —, Cuba tem que destinar US$ 20 mil por ano, o que equivale aproximadamente a US$ 54.2 milhões. Contudo, o transplante renal é um método mais econômico, pois custa em seu primeiro ano ao redor de US$10 mil, contando os medicamentos do primeiro mês (extremamente custosos), o uso de tecnologia, material gastável e eletricidade. Já no segundo ano do paciente ter sido transplantado, os custos estão abaixo dos US$5 mil.
"Além disso, o transplante renal tem para o paciente grande impacto na ordem biológica, psíquica, social e de reabilitação, ao não depender dum ‘rim artificial’ para sobreviver", precisou.
A ONT é precisamente a responsável, em Cuba, por garantir e controlar a doação e transplantes de órgãos, assim como de monitorar os resultados nos receptores, com a ajuda das comissões assessoras existentes. Por exemplo, o Centro Coordenador Nacional do Instituto de Nefrologia, regula a seleção do candidato ao transplante renal, sob bases eminentemente biológicas, segundo o grau de compatibilidade.
"Cuba exibe o programa mais forte de doadores de toda a América Latina (maior proporção de doadores mortos do que de vivos), relação similar à do mundo subdesenvolvido. A respeito dos doadores vivos, em nosso país apenas se aceitam os de primeira linha (irmãos, pais ou filhos maiores de 18 anos), por terem maior grau de compatibilidade imunológica e serem potencialmente mais bem-sucedidos. Até o momento, foram feitos 4.489 transplantes renais de doador falecido e 383 de doador vivo", explicou o doutor Mármol Sóñora.
No caso do transplante renal em crianças, Cuba conta com 20 anos de experiência, obtendo excelentes resultados no programa de doador vivo, que já soma um total de 29 transplantes, dos 105 realizados até o momento.
A ONT traçou estratégias encaminhadas a incrementar a doação, como única forma de garantir a sistematicidade do programa e a resposta rápida aos milhares de pacientes necessitados; e é que por cada doador, quatro pessoas no mínimo poderiam se salvar.
Atualmente, a sobrevivência do transplante renal cubano se encontra aproximadamente em 70% por ano, o qual é um avanço para um país como Cuba.
BLOQUEIO À VIDA
Para a realização correta dum transplante renal, é imprescindível praticar ao paciente a tipagem sanguínea HLA, a fim de verificar quão compatível é com o órgão doado. Cuba realiza esta técnica desde o ano 1973, por sorologia.
O doutor Mármol Sóroña explica que o único laboratório que produz sorologia no mundo atual é o "One Lamda", norte-americano; o qual declarou que não venderá mais reagentes a Cuba.
Em decorrência desta medida, fundamentada num injusto bloqueio de mais de 50 anos, os especialistas cubanos levam seis meses sem poder praticar a tipagem aos pacientes, que tiveram que ser transplantados sem esta técnica.
"Isto trouxe consigo que nossos pacientes façam maior rejeição aos órgãos transplantados, porque não se sabe exatamente a compatibilidade. No ano 1997, 2001 e 2002, também nos privaram deste reagente", enfatizou o especialista.
Na procura de alternativas e como resultado dum esforço econômico, o Estado cubano propiciará a aquisição dum laboratório que permitirá, em poucos meses, a passagem de sorologia a Biologia Molecular com a tipificação imunológica HLA de doadores e receptores, assim como a modernização de outras técnicas de imunologia para o transplante renal, e outros como o hepático, cardíaco e de células hematopoiéticas (medula óssea).
Mas o bloqueio do reagente para a sorologia não prejudica apenas a realização de transplantes renais, mas impede também a execução de outros como o de células hematopoiéticas, para o qual a tipagem imunológica é vital.
Atualmente, Cuba tem que enviar as crianças que precisam desta classe de operação a países como o México para que seja realizada a sorologia e o transplante, por carecer do reagente, o que acarreta elevados custos.
Por fortuna, a introdução do laboratório de Biologia Molecular possibilitará que, pela primeira vez, Cuba tenha um banco de doadores de células hematopoiéticas e possa tipificar a população, tanto doadores quanto receptores.
O governo cubano não duvida em gastar o necessário para que a população tenha acesso a uma saúde gratuita e de qualidade. Somente por conceito de compra dos medicamentos imunossupressores para todos os transplantados de Cuba, e que estes consomem de por vida para garantir sua sobrevivência, o país gasta anualmente US$ 5 milhões.
Cuba realiza entre 100 e 150 transplantes renais por ano, e apenas para conservar um rim são necessárias de três a quatro bolsas de líquido de preservação, a fim de manter o órgão à espera do receptor: cada uma custa aproximadamente US$110.
Consolidar o programa de doação e transplante em Cuba, que mostra além do transplante renal, resultados animadores em programas como o transplante de córnea, o cardíaco e o hepático, é uma prioridade do sistema de Saúde Pública, para continuar dando um sim à vida.
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