A parada assinalou o 50.º aniversário da vitória cubana na batalha da Baía dos Porcos, sobre os Estados Unidos (Desmond Boylan/Reuters) |
Fonte: Por Dulce Furtado / Público
Centenas de milhares de cubanos assistiram esta manhã em Havana a uma aparatosa parada militar, celebrando a “união” no país entre o povo e os soldados horas antes do arranque do VI Congresso do Partido Comunista Cubano, onde as autoridades querem, apenas com a economia na agenda, lançar um pacote de reformas histórias defendidas pelo Presidente, Raúl Castro.
Em uniforme militar e galardões de general, nesta renovada mostra das Forças Armadas Revolucionárias (FAR) como garantes do sistema cubano, Castro esteve rodeado das principais figuras do partido e de membros do Governo, presidindo à parada na Praça da Revolução, habitual palco dos comícios maciços do regime comunista. O evento assinalava ali e hoje o 50º aniversário da vitória cubana na batalha da Baía dos Porcos, sobre os Estados Unidos, e homenageou o “comandante em chefe da Revolução Cubana”, Fidel Castro, que entregou o poder nas mãos do irmão mais novo em Julho de 2006 por razões de saúde.
Fidel, aos 84 anos, esteve ausente da parada, mas não deixou de ser mencionado como grande herói da “primeira derrota do imperialismo americano na América Latina” e “da proclamação do carácter socialista da revolução”, que o ancião ditador cubano declarou em Abril de 1961, dois anos após a sua chegada ao poder.
Ontem mesmo, de resto, foi publicado um dos habituais textos de Fidel no “Granma”, jornal oficial do PCC, em que o antigo líder cubano tece uma série de juízos de valor sobre o ex-Presidente norte-americano Dwight Eisenhower (no poder até Janeiro de 1961), sob cujo mandato a invasão da Baía dos Porcos foi planeada e preparada, mas só executada já pelo seu sucessor, John F. Kennedy. “Como se explica que um homem sério tenha sido conduzido a perpetrar actos tão criminosos e hipócritas como aquele ataque contra a independência e a justiça? [Eisenhower ] não era um criminoso. O responsável foi o sistema capitalista, primado dos privilégios dos ricos em detrimento dos direitos mais elementares do povo”.
Por se realizar apenas de cinco em cinco anos, este congresso do PCC – em que participam mil delegados eleitos de entre os 700 mil militantes do partido – deverá ser o último que conta com a presença da geração histórica da revolução cubana. O Presidente, de 79 anos, e o vice-presidente, Ramiro Váldes, um ano mais novo, são já os únicos veteranos comandantes guerrilheiros que permanecem activos no Governo de Cuba e no núcleo do politburo.
Nele, e a partir do meio-dia (local, 21h00 em Lisboa), Raúl Castro quer dar arranque a uma crucial transição com uma agenda exclusiva de reformas económicas, que já receberam o aval das FAR e do Ministério do Interior, mas carecem ainda da legitimação dos delegados do congresso, de acordo com a Constituição.
À cabeça destas reformas – no total de 291 medidas registadas no documento intitulado Projecto de Delineamento da Política Económica e Social – estão uma maior abertura à autonomia de empresas privadas e limitação da autoridade do Governo na Administração Pública, alargamento do regime das cooperativas permitindo que tenham relações horizontais com o Governo e as microempresas privadas e ainda a fixação de uma nova política agrícola que inclui mudanças de fundo ao actual monopólio estatal de distribuição de produtos alimentares e eventuais alterações ao sistema de senhas de racionamento.
Ao longo dos últimos dias têm surgido indicações nos meios oficiais do regime de que Raúl Castro deverá enfrentar “fortes resistências” no congresso a este plano de reformas económicas ao sistema cubano, que sofre de uma ineficiência produtiva crónica.
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