sábado, 15 de maio de 2010

Guerra mediática contra Cuba na Administração Reagan (1980/88)

Por Jacinto Valdés-Dapena Vivanco*

Em 1980, quando Ronald Reagan assumiu a presidência dos Estados Unidos, começaram a ser operadas mudanças substanciais na política para Cuba.

Uma de suas direções principais consistiria em promover a propaganda subversiva.


O neo-conservadorismo de extrema direita, inimigo visceral da Revolução cubana, se apoderou do poder executivo na Casa Branca.

A partir desse momento, como consta em documentos públicos, a Comunidade de Inteligência estadunidense se propôs, entre seus maiores objetivos, reestruturar o sistema de propaganda para que seu conteúdo estivesse em correspondência direta com os planos dirigidos a criar as condições que fomentassem um movimento interno de oposição.

Nesse contexto iniciou-se o projeto de criar uma emissora radial dirigida a cumprir tais fins.

Um exame da guerra mediática dos Estados Unidos contra a Ilha, no período 1980-1988, permite definir que o plano estratégico essencial consistia em justificar, sobre a base da desinformação, o engano, a mentira, a calúnia, bem como a tergiversação dos fatos e a falsa objetividade, a política dos Estados Unidos para Cuba que apontava, no caso de julgar conveniente, ao desencadeamento de medidas de agressão militar, e de reforço à guerra econômica e à punição das relações de Cuba com os países da América Latina.

Os temas tratados nas diferentes campanhas de propaganda postas em marcha durante a Administração Reagan refletem os enfoques fundamentais dos programas de desestabilização dos Serviços de Inteligência norte-americanos.

Entre os aspectos que os meios mais manipularam, destacam-se as "despesas de exportação" da Revolução, a "violação" de direitos humanos, "vínculos" com terrorismo e narcotráfico, "formas totalitárias" no sistema político, "fracasso" do socialismo em Cuba e "repressão".

Na realidade, os grupúsculos contra-revolucionários financiados por agências federais dos Estados Unidos com o manto de ajuda humanitária constituem uma "oposição" virtual exportada desde os centros de propaganda do governo norte-americano.

Em uma análise da guerra mediática deve incluir-se, por sua dimensão histórica e significação política, uma referência ao Projeto Verdade.

Em novembro de 1981, o diretor da Agência de Informação dos Estados Unidos (USIA), Charles Wick, anunciou o início deste projeto, orientado a desestabilizar o socialismo no campo da cultura e da ideologia, mediante o emprego intensivo e diferenciado dos meios de comunicação social.

Aprovado pelo presidente Reagan e pelo Conselho de Segurança Nacional, o Projeto foi organizado com a participação ativa do Executivo, do Conselho de Segurança Nacional, do Departamento de Estado, da Agência para o Controle de Armas e o Desarmamento, da CIA, do Departamento de Defesa e dos chefes do Estado Maior Conjunto.

Eram as operações Pluto e Mangosta no terreno da ideologia e cultura, com a intenção de erodir o socialismo por dentro, fomentando uma "quinta coluna".

Cuba era um alvo priorizado e neste mecanismo entraria a atuação da emissora subversiva Rádio Martí.

A 22 de setembro de 1981, Reagan assinou a Ordem Executiva 12323 que estabelecia a "Comissão Presidencial para Rádio-emissões e Idéias para Cuba".

Quatro meses mais tarde, a 20 de janeiro de 1982, foram designados os 10 integrantes da Comissão, formada por homens de negócios vinculados à extrema direita do Partido Republicano, especialistas na guerra psicológica e representantes da Fundação Nacional Cubano-Americana.

Investigações realizadas posteriormente revelaram, que emissoras como RIAS (que transmitia contra a República Democrática Alemã de Berlim Ocidental), Rádio Libertem e Rádio Europa Livre (contra a URSS e países socialistas da Europa do Leste), operaram como instrumentos de guerra cultural, e que a CIA, através de seus agentes, buscou e obteve informações de caráter político, econômico, social e biográfico, como uma via para abastecer de informação à guerra mediática.

A Rádio Martí não foi uma exceção.

Um elemento singular a levar em consideração é que Rádio Martí, diferentemente da RIAS, Rádio Europa Livre e Rádio Libertem, foi incluída na estrutura da USIA.

Deste modo, um centro de subversão política incorporou-se oficialmente a uma estrutura de governo.

A Administração Reagan decidiu legalizar as operações subversivas contra Cuba através das transmissões radiais.

Mais que "piratas do éter" estas seriam "corsários da guerra mediática" contra a Revolução.

Para presidir o Conselho Assessor do Executivo para as transmissões de Rádio Martí, Reagan nomeou Jorge Mas Canosa, agente da CIA desde os anos sessenta e presidente da Fundação Nacional Cubano-Americana.

Até sua morte, Mas Canosa ocuparia a posição de assessor presidencial para as transmissões da Rádio Martí.

A 20 de maio de 1985, depois que Reagan assinou uma diretiva de segredo máximo autorizando o início das transmissões radiais da USIA para o território cubano, a emissora subversiva Rádio Martí foi ao ar, segundo os meios, métodos e técnicas desenhados pelos especialistas da subversão política da comunidade de inteligência dos Estados Unidos.

Mas que impacto teve e tem tido a emissora subversiva Rádio Martí na sociedade cubana?

Apesar dos empenhos das diferentes administrações norte-americanas, a emissora não constituiu, nem constitui um efetivo instrumento da guerra mediática contra a nação cubana.

Carece de credibilidade e objetividade em suas informações; observa-se a falta de profissionalismo nas análises políticas sobre a situação nacional e política exterior de Cuba, bem como é incapaz de projetar alternativas críveis em torno da realidade sócio-histórica concreta que é a Revolução cubana e não apresenta novidade aos enfoques dos acontecimentos que se desenvolvem na ilha.

Em 1988, houve, em média, 120 a 123 horas diárias de transmissões radiais contra Cuba de emissoras e redes contra-revolucionárias promovidas e/ou toleradas pelo governo dos Estados Unidos.

Entre as principais registram-se Rádio Martí, A Cubanísima, WRHC, Corrente Azul, a Voz dos Estados Unidos (VOA), Voz de Alpha 66, Rádio Caimán, Rádio Libertem Cubana, Rádio Camilo Cienfuegos, Rádio Antonio Maceo, etc.

A guerra mediática contra Cuba é de longa data. O povo cubano está instruído e educado; é culto e tem aprendido que todo que proceda dos meios de difusão vinculados à política exterior dos Estados Unidos em relação com Cuba deve ser submetido ao escrutínio rigoroso da análise revolucionária e do pensamento crítico.

A verdade é sempre revolucionária e a guerra mediática é essencialmente contra-revolucionária, por não transmitir a verdade.

(*) O autor é especialista do Centro de Investigações Históricas da Segurança do Estado (CIHSE).

rr/jvdv/cc
Modificado el ( sábado, 15 de mayo de 2010 )

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