terça-feira, 6 de outubro de 2009

Fidel Castro: A história não pode ser ignorada


O passado primeiro de outubro foi comemorado o 60º Aniversário da República Popular da China.

Naquele histórico dia de 1949, Mao Zedong, como líder do Partido comunista de China, presidiu na Praça de Tiananmen o primeiro desfile do Exército Popular e do povo da China. Os soldados vitoriosos carregaram as armas arrebatadas em combate aos invasores, oligarcas e traidores da sua pátria.   

Ao concluir o Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos, uma das potências  que menos  perdas materiais sofreu na guerra, monopolizava a arma nuclear, mais de 80% do ouro do mundo e desfrutava de um considerável desenvolvimento industrial e agrícola.

A Revolução vitoriosa num imenso país como a China, no ano 1949, alimentou a esperança de grande número de países colonizados, muitos dos quais não levariam muito tempo em livrar-se do jogo imposto.    

Lenine tinha previsto a fase imperialista do capitalismo desenvolvido e o papel que corresponderia na história do mundo para a luta dos países colonizados. A vitória da Revolução Chinesa confirmava aquela previsão.

A República Popular da Coréia foi criada no ano 1948. Na primeira comemoração da vitória chinesa estavam presentes os representantes da URSS que ofereceram mais de 20 milhões de vidas na batalha contra o fascismo; os da República Popular da Coréia que tinha sido ocupada pelo Japão, e os combatentes vietnamitas que, após luta contra os japonês, encaravam heroicamente a tentativa francesa de colonizar  novamente o Vietnã com o apoio dos Estados Unidos.   

Ninguém tinha imaginado então que a menos de quatro anos depois daquela memorável data, sem qualquer outro vínculo que o das idéias, na longínqua Cuba aconteceria o ataque ao Quartel Moncada, em  26 de Julho de 1953 e apenas nove anos depois da libertação da China triunfaria a Revolução Cubana a 90 milhas da metrópole imperialista.   

É ao lumiar destes acontecimentos que observei com particular interesse a comemoração do 60º Aniversário da Revolução Chinesa. É conhecida nossa amizade com aquele país de milenária cultura, a mais antiga das civilizações conhecidas pelo o homem.   

No século XIX, dezenas dos milhares de cidadãos chineses foram enviados ao nosso país como semi-escravos, enganados pelos comerciantes ingleses. Muitos deles se juntaram ao Exército Libertador e lutaram pela nossa independência. Os nossos vínculos com a China partem, no entanto, das idéias marxistas que inspiraram à Revolução Cubana e foram capazes de atravessar as difíceis provas da divisão entre os dois grandes estados socialistas, que tanto dano causou ao movimento revolucionário mundial.   

Nos difíceis dias do desaparecimento da URSS, tanto a China, quanto o Vietnã , Laos e a Coréia mantiveram suas relações fraternais e de solidariedade com Cuba. Foram os únicos quatro países que junto a Cuba mantiveram em alto as bandeiras do socialismo nos dias escuros em que os Estados Unidos, a OTAN, o Fundo Monetário e o Banco Mundial, impunharam o neoliberalismo e o saqueio do mundo.    

A história não pode ser ignorada. Apesar da enorme contribuição do povo da China e a estratégia política e militar de Mao na luta contra o fascismo japonês, os Estados Unidos ignoraram e isolaram o governo do país mais habitado do planeta e o privou do direito de participar do Conselho de Segurança das Nações Unidas;  interpôs sua esquadra para impedir a libertação de Taiwan, uma ilha que pertence a China; apoiou e forneceu os restos de um exército cujo chefe tinha traído todos os acordos subscritos na luta contra os invasores japoneses no decurso da Segunda Guerra Mundial. Taiwan recebeu e ainda recebe o mais moderno armamento da indústria bélica norte-americana.   

Os Estados Unidos não só privaram à China de seus legítimos direitos: interveio no conflito interno da Coréia, enviou suas forças - que à frente de uma coligação militar - avançaram desafiantes para as vizinhanças dos pontos vitais daquele grande país e ameaçou empregar as armas nucleares contra a China cujo povo tanto contribuiu com a derrota do Japão. 

O partido e o povo  heróico da China não hesitaram perante as grosseiras ameaças. Centenas de milhares de combatentes voluntários chineses em enérgico contra-ataque, fizeram recuar às forças ianques até os limites atuais de ambas as Coréias. Centenas de milhares de corajosos combatentes internacionalistas chineses e um número semelhante de patriotas coreanos tombaram ou foram feridos naquela sangrenta guerra. Mais tarde o império ianque matou milhões de vietnamitas.    

Em 1º de outubro de 1949, ao proclamar-se a República Popular, a China não possuía armas nucleares nem a avançada tecnologia militar que hoje dispõe com as quais não ameaça a nenhum outro país.   

O que diria agora Ocidente? A grande imprensa dos Estados Unidos foi, em geral, hostil. Os principais órgãos escritos intitulavam a seus editoriais com frases como: "… pouco interesse pela ideologia", "… um espetáculo de poder", a “China comunista celebra os 60 anos com Espetáculo Militar."   

Porém, não foi possível ignorar a luta. Através de todos os meios foi reiterada a idéia de que era uma demonstração de poder. As notícias foram centralizadas essencialmente nas imagens do desfile militar. 

Não esconderam a admiração deles pela ampla divulgação do desfile que a televisão chinesa ofereceu à opinião pública internacional.   

O fato de a China ter introduzido 52 novos tipos de armas, incluindo tanques de guerra de última geração, veículos anfíbios, radares, aviões de reconhecimento e sofisticados equipamentos de comunicação, não passou despercebido, mas sim espantou. 

Os meios da imprensa destacavan a presença de mísseis intercontinentais DF-31 capazes de bater com ogivas nucleares alvos localizados a 10 mil quilômetros de distância, bem como os mísseis de meio alcance e as defesas antimísseis.  

Os 151 aviões de caça, os bombardeiros pesados, meios modernos de observação aérea e helicópteros surpreenderam os ávidos caçadores de notícias e os técnicos militares. “O exército chinês tem agora a maioria das armas sofisticadas que fazem parte dos arsenais dos países ocidentais”, foi uma declaração do Ministro da Defesa chinês que a imprensa ocidental salientou.

Os 500 veículos blindados e os carros alegóricos civis que desfilaram perante o mausoléu causaram um profundo impacto.

A avançada tecnologia era uma prova irrefutável da capacidade militar desenvolvida, que há alguns decênios partiu de zero. O insuperável era o fator humano. Nenhum país ocidental desenvolvido poderia conseguir o nível de precisão e de organização mostrado pela China nesse dia. Com certo desprezo falou-se de oficiais e soldados marchando a 115 passos de ganso por minuto.

As diferentes forças que desfilaram lá, homens ou mulheres, o fizeram com porte e elegância insuperáveis. Qualquer pessoa poderia negar-se a acreditar que milhares de seres humanos fossem capazes de conseguir uma organização tão perfeita. Tanto os que marchavam a pé, quanto os que desfilavam em seus veículos desfilaram frente à tribuna e cumprimentavam com precisão, ordem e marcialidade difíceis de atingir.

Se essas qualidades pareciam ser resultado da disciplina militar e do rigor das práticas, mais de 150 mil cidadãos da enorme colméia humana de civis, homens e mulheres jovens em sua esmagadora maioria, surpreenderam por sua capacidade de atingir maciçamente o nível de organização e de aperfeiçoamento conseguido por seus compatriotas armados.

O início da comemoração e o cumprimento das tropas realizado pelo Chefe de Estado e Secretário Geral do Partido Comunista, foi uma cerimônia impressionante. Foi possível observar uma enorme identificação entre a direção e o povo.

O discurso de Hu Jintao foi breve e preciso. Em apenas menos 10 minutos exprimiu muitas idéias. Nesse dia ultrapassou Barack Obama na capacidade de síntese. Quando fala representa a quase cinco vezes mais população do que o presidente dos Estados Unidos. Não tem que fechar centros de tortura, não está em guerra com nenhum outro estado, não envia seus soldados a mais de 10 mil quilômetros de distância para intervir e matar com sofisticados meios de guerra, não tem centenas de bases militares em outros países, nem poderosas frotas que navegam por todos os oceanos; não deve bilhões de dólares e em meio a uma colossal crise financeira internacional e oferece ao mundo a cooperação de um país cuja economia não está em recessão e cresce a elevados ritmos.

Idéias essenciais transmitidas pelo Presidente da China:

“No dia de hoje há sessenta anos, após mais de cem anos de batalhas sangrentas travadas desde o início da história contemporânea, o povo chinês conseguiu, finalmente, a grande vitória da revolução chinesa e o presidente Mão Zedong proclamou aqui mesmo, perante o mundo, a fundação da República Popular da China, o que permitiu ao povo chinês levantar-se em pé desde então e que a nação chinesa, que tem uma história de civilização de mais de 5.000 anos, entrasse numa nova era de desenvolvimento e de progresso.”

“O desenvolvimento e o progresso conseguidos nos sessenta anos da Nova China mostraram plenamente que apenas o socialismo pode salvar a China e que só a reforma e a abertura podem permitir o desenvolvimento da China, do socialismo e do marxismo. O povo chinês tem confiança e a capacidade para construir bem seu país e realizar suas devidas contribuições ao mundo.”

“Aderimo-nos firmemente aos princípios da reunificação pacífica...”

“...continuaremos trabalhando, junto aos diversos povos do mundo, para estimular a nobre causa da paz, do desenvolvimento da humanidade e da construção de um mundo harmônico baseado na paz duradoura e na prosperidade comum.”

“A história indica-nos que o caminho do avanço nunca é plano, mas que um povo unido que toma o destino nas próprias mãos vencerá, sem nenhuma dúvida, todas as dificuldades, criando continuamente grandes epopéias históricas.”

São respostas lapidárias à política belicista e ameaçadora do Império.

6 de outubro de 2009.

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