quarta-feira, 1 de abril de 2009

Fidel Castro: Outro grande problema do mundo atual


A crise financeira não é o único problema, há outro pior porque tem a ver não com o modo de produção e distribuição, mas com a própria existência. Refiro-me à mudança climática. Ambos estão presentes e serão discutidos simultaneamente.

No próximo domingo 5 de abril serão continuadas em Bonn as conversações da ONU sobre a mudança climática. Aproximadamente 190 países tentam conseguir um acordo sobre a redução dos gases de efeito estufa mais além do ano 2012, quando expira o Protocolo de Kioto.

Os EUA nunca ratificaram esse Protocolo.

O novo Presidente, que herdou o problema de Bush, anunciou no sábado a criação de um foro “sobre a energia e o clima”, que reunirá em Washington, nos dias 27 e 28 de abril, 17 importantes economias mundiais, entre elas, o Brasil, o México, a China e a União Européia.

A reunião de Bonn durará 11 dias e a delegação dos Estados Unidos estará presidida por Todd Stern, que tem previsto ler um comunicado.

Ivo de Boer, máximo responsável da ONU sobre o clima, disse: “espero que Stern fixe as linhas mestras que nortearão os Estados Unidos”.

Existem fortes contradições a respeito da contribuição que devem fazer as economias.

Serão discutidos os limites do dióxido de carbono que devem lançar à atmosfera os diversos países do mundo, um gás que ameaça com liquidar as condições de vida do planeta.

Existem fortes discrepâncias entre os países industrializados e os emergentes, como a China, a Índia e o Brasil; estes expressam que desejam ver primeiro como os países ricos se comprometem a reduzir as emissões de CO2.

Enquanto isso, enormes volumes de água que se acumulam nas montanhas de gelo da região Antártica, se derretem aceleradamente a olho nu, como conseqüência do nefasto gás lançado até hoje, e que continuará sendo lançado durante incontáveis anos. “Os cientistas exageram!”, clamam os céticos e continuam sonhando sobre esperanças tão fracas.

Continuam chegando notícias sobre a crise econômica mundial através das agências noticiosas, incluídas a Xinhua e a TASS. Delas se pode inferir que na opinião do Banco Asiático de Desenvolvimento, a economia chinesa só crescerá 7% no ano 2009. Parece uma ironia se for tido em conta que de acordo com as análises do Banco Mundial, a dos países desenvolvidos que integram a OCDE se reduzirá em 3%; os da zona euro em 2,7%, a dos Estados Unidos em 2,4% e o comércio mundial diminui 6,1%.

O Presidente da Rússia, Dimitri Medvédev, em um artigo publicado pelo The Washington Post, propõe que a Rússia e os Estados Unidos trabalhem juntos na elaboração das medidas para lutar contra a crise financeira e examinem a necessidade da criação da moeda mundial de reserva.

O Presidente da China, Hu Jintao, solicitou fortalecer a coordenação entre diferentes nações com relação as políticas econômicas e envidar esforços conjuntos em contra do protecionismo comercial e de investimento, para ajudar à recuperação da economia mundial. “O sistema financeiro internacional deve empreender as reformas necessárias de maneira integral, equilibrada, gradual e eficaz, para evitar uma crise mundial no futuro”, acrescentou.

George Soros, o famoso magnata norte-americano, de origem húngara, declarou: “A China sairá da recessão mais rapidamente que o resto do mundo”. Sublinhou que “A China tem um sistema que é mais adequado para estas condições de emergência”.

Entre as notícias publicadas ontem se observam opiniões elogiosas semelhantes:

“Desafiando as dificuldades econômicas no país e no exterior, o mercado bursátil chinês concluiu o primeiro trimestre deste ano com um crescimento de 30%, o que o torna, de longe, na Bolsa importante com melhor desempenho no decorrer deste ano”, divulga Reuters, recolhendo opiniões dos analistas.

Enquanto a China, por sua parte, declara que é preciso criar uma nova moeda internacional de reserva, o Presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, declara que “O dólar continuará sendo a principal moeda de reserva… Um sistema baseado no dólar e a fortaleza do dólar serão fundamentais para nos tirar deste poço... Será preciso mais do que uma Cúpula do Grupo dos 20 países mais industrializados e em vias de desenvolvimento para estabelecer uma nova moeda de reserva”.

O Banco Mundial sustenta que a economia do mundo encara um ano perigoso e que poderá se afundar ainda mais na recessão. Admitiu que a China irá crescendo, mas a um ritmo menor.

Os países mais desenvolvidos –opina o Banco– estão em uma situação pior, visto que sofrerão uma clara contração. É provável –afirma– que a necessidade de financiamento externo dos países em desenvolvimento, aumente para 1,3 milhões de milhões de dólares em 2009. Com a diminuição do fluxo de capitais, isto geraria uma fenda que flutuaria entre 270 e 700 bilhões de dólares.

Por isso, em seu critério, nenhum deles escapará das conseqüências da crise econômica global, sobretudo os mais pobres, onde em muitos deles fará cacos dos anos de progresso. O mundo em desenvolvimento corre perigo de pagar um pesado tributo pela crise originada nos países do norte.

O Diretor da Organização de Comércio, Pascal Lamy, insta o G-20 a resistir o protecionismo e evitar ações de “baixa intensidade”, destinadas a proteger suas indústrias de um eventual colapso.

Por sua parte, a OCDE anteriormente mencionada por seus critérios a respeito da queda do PIB, ao abordar o desemprego, assinala que aumentará fortemente e ultrapassará 10%, “quase se duplicará” com relação a seu nível de 2007 nos países do G-7: os Estados Unidos, o Japão, a Alemanha, a Grã-Bretanha, a França, a Itália e o Canadá.

O Presidente do Euro-grupo, Jean-Claude Juncker, pediu “valor” aos membros europeus que participarão na Cúpula do G-20 para reclamar a inclusão de vários estados e territórios dos Estados Unidos na lista negra de paraísos fiscais nocivos. “Que o senhor Brown diga a Obama que ponha término aos paraísos fiscais que se encontram em território americano”, declarou em uma Comissão de Assuntos Econômicos e Monetários do Parlamento Europeu.

A futura regulação do sistema financeiro internacional se tornou em um ponto de fricção entre Londres e Washington por um lado, e Paris pelo outro.

Abunda a informação e os dados que ilustram esta fricção.

Por sua parte, o Presidente da União Européia, José Manuel Durão Barroso expressou mais diplomaticamente sua certeza de que será atingido um consenso, negando que as posições da União Européia e dos Estados Unidos sejam excludentes. Afirma que “devemos voltar a colocar a ética no sistema”, clamando por medidas contra os paraísos fiscais.

A OXFAM, uma conhecida Organização Não Governamental, declara que com 8,42 milhões de milhões de dólares de dinheiro público comprometidos pelos governos do mundo rico para o resgate do setor bancário, poderia ser eliminada a pobreza mundial durante os próximos 50 anos. Abunda também em argumentos a favor das centenas de milhões de pobres no mundo que se afundarão ainda mais na pobreza e a favor das mulheres, que são as mais duramente golpeadas pela crise.

Os sindicatos, através de seus organismos internacionais, demandam do G-20 que seja prestada a devida atenção ao desemprego que acompanha as crises e clamam para que na Declaração da Cúpula se refiram ao trabalho digno e aos direitos do trabalho.

Amanhã começa o Clássico entre as maiores economias do mundo, as mais desenvolvidas e as que estão por se desenvolver. As regras do jogo não estão bem claras. Veremos o quê se discute e como se discute. Estará elaborada já e aprovada de antemão uma declaração final? Talvez sim, talvez não. Contudo, será bem interessante conhecer, no meio de tanta diplomacia, quais posições adota cada um. De uma maneira ou de outra, não haverá segredo possível. Tudo tem mudado.

1º de Abril de 2009.

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