Visita de Papa Francisco a Cuba, em 2015 | Foto: Tony Gentile/Reuters |
Por Sturt Silva
Em entrevista ao canal da Associação Cultural José Martí do Rio Grande do Sul (assista na íntegra abaixo), Frei Betto, escritor e frade dominicano, fez um balanço de sua relação com Cuba nos últimos 40 anos.
Frei Betto escutou falar de Cuba quando começou a militar no movimento estudantil pela Juventude Estudantil Católica (JEC), organização que na época tinha ligação com a juventude comunista, em 1957. Já durante a ditadura militar, aumentou seu grau de conhecimento sobre a Revolução Cubana quando passou a ouvir a Rádio Havana Clube na prisão, entre os anos de 1969 e 1971.
Apoiador e simpatizante da Revolução Cubana de 1959, o frade só tem contato direto com Cuba e sua Revolução quando encontra Fidel Castro em visita à Nicarágua, em 1980.
Em 1981 faz sua primeira visita a Cuba. Convidado por Fidel Castro, coordenou ao longo da década de 80 as primeiras conversas de dirigentes comunistas com padres e bispos da Igreja Católica cubana.
Foi também na década de 80 que nasceu "Fidel e a Religião", obra que aborda o histórico da religião na Revolução. Escrito com base nas conversas que o escritor teve com o líder cubano a partir de 1985, o livro foi relançado em 2016.
Livro Fidel e a Religião | Foto: Frei Betto |
O trabalho de assessoria religiosa durou até 1991. No entanto, o brasileiro continuou sua relação de amizade com a ilha socialista. Na década de 90 ajudou a criar o Centro de Educação Popular Martin Luther King, à luz do método Paulo Freire e com a coordenação da Igreja Batista cubana. Atualmente é assessor da FAO (organização da ONU para alimentação e agricultura) e do governo cubano na elaboração de um plano de soberania alimentar e educação nutricional.
Liberdade religiosa em Cuba
Segundo o religioso, apenas 5% dos cubanos são católicos praticantes, porém festas religiosas são muito populares no país. A principal delas é a Festa de São Lázaro que ocorre em dezembro e para toda Havana. Portanto, a religiosidade extrapola o limite institucional da igreja.
Como em Cuba há liberdade religiosa, além da Igreja Católica e das religiões de matrizes africanas, há também às igrejas protestantes de perfil pentecostal. Segundo Frei Betto, as neopentecostais são proibidas, por que representaria os interesses dos EUA com objetivo de sabotar a Revolução. Ele ainda afirma que o socialismo cubano não exige que as igrejas apoie o processo, porém Cuba não permite que elas sejam instrumentos do imperialismo. As igrejas protestantes foram introduzidas no país por pastores estadunidenses e sempre apoiaram a Revolução Socialista.
Já a Igreja Católica, de herança franquista, apesar de ter dado apoio aos revolucionários de 59, antes mesmo de Fidel Castro ter declarado o caráter socialista da Revolução, já tinha começado a agir contra o novo governo. Na época das nacionalizações das empresas estrangeiras e da reforma agrária os católicos romperam com a Revolução. Muitos padres participaram de sabotagem contra o governo de Fidel Castro, alguns foram presos, mas nenhum foi fuzilado. Na invasão da Baia dos Porcos, em 1961, havia 10 padres entre os contrarrevolucionários. Mas por coordenação de Frei Betto, a Igreja Católica reaproximou do governo revolucionário e os últimos três papas visitaram Cuba, inclusive, Papa Francisco visitou cuba por duas vezes.
Estado Laico
Cuba é um estado laico desde 1992, quando uma emenda na Constituição de 1976 mudou o caráter ateu da lei maior da Nação. O Partido Comunista, instituição de direção e organização da sociedade cubana, por sua vez também passou a aceitar religiosos em suas fileiras.
Ditadura em Cuba?
Questionado se Cuba tem um governo ditatorial, o brasileiro afirmou que democracia depende da ótica de análise. A democracia política é uma farsa se não estiver embasada na democracia econômica. Ou seja, se não há partilha dos bens da terra e dos frutos do trabalho humano, a democracia é uma farsa. E em Cuba há uma democracia popular. Mas, segundo o brasileiro, existe também um governo autocrático devido ao estado permanente de guerra que permanece desde 1959.
Mas os presidentes cubanos são eleitos e o regime político cubano é parlamentarista, embora a mídia ocidental não divulgue o processo eleitoral cubano, justamente por que não segue o modelo de democracia burguesa dos EUA. Já em relação a não adotar o pluripartidarismo, o escritor afirma que isso se deve por que significaria permitir ao inimigo ter representação politica, coisa que não é aceita dentro da concepção revolucionária. Mas todas as correntes políticas favoráveis à Revolução são aceitas, inclusive o Partido Comunista Cubano é resultado de três correntes políticas: Movimento Estudantil, Movimento 26 de Julho e o Partido Socialista.
Frei Betto defende que Cuba deve adotar o liberalismo político só depois do fim do bloqueio dos EUA.
O povo apoia o socialismo
Em Cuba nunca se presenciou uma grande manifestação contra o socialismo, apenas meia dúzia que protestam e que ganha espaço na mídia ocidental. A população cubana apoia a Revolução e seu modelo político e econômico, inclusive muitos cubanos que moram no exterior. Em Cuba não há problemas sociais típicos de países capitalistas.
E por que os EUA não invadem a ilha socialista como fez no Afeganistão e Iraque? Para Frei Betto, um governo você derruba, um povo jamais. E os estadunidenses aprenderam isso na guerra do Vietnã e na invasão da Bahia dos Porcos. Na visão do escritor, a Revolução Cubana não é apenas um governo, é todo um povo.
"Fidel deu comida a quem tinha fome, água a quem tinha sede e saúde a quem estava doente"
Quem é Frei Betto?
Frei Betto | Foto: Smetal |
Viva Cuba
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