sábado, 11 de abril de 2015

Resenha: “Fidel – Grandes Líderes” de John J. Vail

Resenha do Livro - “Fidel – Grandes Líderes” – John J. Vail – Editora Nova Cultural, 1987 | Foto: Reuters 

Por Paulo Marçaioli no Diário Liberdade

Qual é o papel que um indivíduo pode exercer no desenvolvimento da história? O indivíduo quando se converte num líder é a expressão de um movimento objetivo e independente de sua vontade ou é antes de mais nada o verdadeiro portador da “luz” que ilumina os caminhos das massas e dos fatos?

Esta discussão sobre os “Grandes Líderes” na história tem intrigado historiadores e é um campo aberto para filosofia/metodologia da História.

Desde o ponto de vista marxista, entende-se que “os homens fazem sua própria história, mas não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”. (MARX, Karl. O 18 de Brumário. 1852).

E nos momentos de acirramento da luta de classes é comum a polarização política projetar lideranças que expressam os anseios, as expectativas e a consciência de sua respectiva classe ou fração de classe. Mussolini com o seu terror fascista na Itália foi uma expressão do ponto de vista da pequeno-burguesia e da burguesia italiana diante da possibilidade real de revolução na Itália do Pós Guerra.

Lênin foi a maior autoridade da Revolução Russa não só por ser o porta-voz mais perfeito do proletariado e campesinato revolucionário especialmente nos meses que antecedem outubro de 1917, mas por também angariar a confiança das massas trabalhadores da cidade e do campo no sentido de trilhar o caminho da vitória.

O que diferencia Mussolini (um pequeno líder) e Lênin (um grande líder)? O fato de que o segundo não só era a expressão de um momento histórico mas também o porta-voz de um mundo que estava por vir. E o traço essencial do grande líder é: a sua história pessoal acaba se confundindo com a história de seu povo.  Dentro deste critério, podemos também acrescentar como “Grandes Líderes”, Mao Tsé Tung (China), Carlos Fonseca (Nicarágua) e Fidel Castro (Cuba). Conhecer a vida pessoal de cada um deles é entender um pouco mais respectivamente das Revoluções Chinesa, Sandinista e Cubana.

Fidel Castro e a Revolução Cubana

Fidel Castro nasceu em 13 de Agosto de 1927. Seu pai, Angel Castro era um imigrante espanhol em Cuba que se convertera num proprietário de 9300 hectares de terras cultivadas de cana de açúcar. Sua mãe foi uma camponesa que trabalhava como cozinheira. O fato é que na Província do Oriente onde cresceu, Fidel viveu numa família abastada: enquanto os colegas de escola iam descalços para a aula e moravam em casebres, Fidel morava numa ampla casa, com roupas finas e boa alimentação. Eventualmente este choque de realidade deve ter tido o efeito de sensibilizá-lo a seguir os estudos na área de Direito.

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Fidel ingressou na Universidade de Havana em 1945 e desde logo envolveu-se com política e movimento estudantil. Tratava-se de um movimento com bastante ação o que decorria da própria tradição política cubana marcada por corrução, violência e autoritarismo. Assim assinala John Vail:

“Castro e sua geração herdaram um passado político tempestuoso. A independência de Cuba teve início em 1902, quando os Estados Unidos retiraram suas tropas e Tomás Estrada Palma tornou-se o primeiro presidente do país. No entanto, Cuba era uma república independente só no nome. Por três vezes, nos 23 anos que se seguiram, os Estados Unidos enviaram tropas para reprimir revoltas e assegurar a lealdade cubana aos interesses dos norte-americanos. Durante sete anos, nesse período, o governo  de Cuba foi diretamente controlado por representante dos Estados Unidos. Em função disso, os partidos políticos ficaram completamente desacreditados, as eleições eram uma farsa e a corrupção tornou-se um aspecto fundamental da vida política cubana” (Pg. 23).

No dia 10 de Março de 1952 o ex-presidente F. Batista depôs o presidente Carlos P. Socarrás por meio de um golpe militar. Batista suspendeu a liberdade de opinião, proibiu eleições e ainda assim foi prontamente reconhecido pelo governo dos EUA. Diante do estado de exceção, só havia uma solução para derrotar o golpe direitista: a luta armada.

O 26 de Julho de 1953 é uma data chave constituindo o início da Revolução Cubana. Foi quando ocorreu o assalto militarmente frustrado de guarnição militar de Moncada, localizada na Província do Oriente.

O objetivo da ação era: (i) conquistar armas para iniciar a luta armada para derrubar Batista; (ii) inspirar uma revolta popular seguida por uma revolução em toda nação. O ataque foi mal sucedido por questões táticas (falta de preparo entre os combatentes) além da inferioridade numérica. Ainda assim foi tamanho o estrago provocado por aquele pequeno grupo de guerrilheiro (estavam numa proporção de 10 para 1) que Batista exigiu uma punição exemplar e terrorista envolvendo torturas, assassinato de 80 combatentes capturados vivos e prisões de moradores não envolvidos na ação. Esta reação do governo despertou ainda mais o ódio do povo contra o regime.

“O Ataque ao Moncada foi uma derrota militar mas como Castro havia predito, transformou-se numa importante vitória política. Ele e seus partidários tornaram-se ídolos de uma nova geração de cubanos” (Pg. 30).

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Em 1955, Fidel e seus camaradas são exilados e desde o México tramam uma nova ação que teria início no dia 02 de Dezembro com o Desembarque em Cuba no iate Granma, um barco bastante castigado pelo tempo. Havia a expectativa que concomitantemente ao desembarque houvesse um levante em Santiago organizado pelo Movimento 26 de Julho, movimento que resultou frustrado. O início da luta era nas condições mais adversas e ainda assim o que é marcante naqueles revolucionários é a certeza da vitória, o que é produto da íntima convicção da justeza de sua causa:

“Os rebeldes marcharam sem comida e água por três dias. Em 5 de dezembro, sem saber que um fazendeiro local os delatara às tropas do governo, os homens pararam para descansar em um canavial. O campo foi cercado pelos soldados que abriram fogo sobre os rebeldes. No mínimo vinte homens de Castro morreram na emboscada. Alguns se entregaram e foram mortos; outros poucos foram capturados e levados a julgamento; o resto escapou em pequenos grupos. Com dois ou três sobreviventes, Castro escondeu-se dos soldados do governo durante vários dias” (Pg. 36)

A guerra de guerrilha a partir da Sierra Maestra para se desenvolver teve de ir ganhando a confiança dos camponeses, o que não era difícil frente a forte diferença moral das tropas revolucionárias do movimento fidelistas e das tropas de Batistas que indistintamente torturavam e matavam qualquer suspeito de colaborar com os guerrilheiros. Greves começaram a estourar nas cidades e a entrevista de Fidel Castro junto ao jornalista Herbert Matthews correspondente do New York Times deu projeção internacional ao movimento oposicionista em Cuba. Os estudantes entraram em cena e tentaram assaltar o palácio governamental. Em setembro de 1957, a guarnição naval de Cietrifuegos amotinou-se assumindo o controle da cidade, ainda que a rebelião tenha sido logo debelada. Rebeldes lançavam bombas em edifícios governamentais. Finalmente, em 31 de Dezembro de 1958, Santa Clara capitula ante as tropas de Che Guevara e no dia subsequente, sem qualquer condições de resistir, Batista Foge de Cuba.

Alguns dias depois Fidel Castro e seus camaradas entram triunfantes em Havana e designam um governo Provisório.

As primeiras medidas do governo revolucionário dirigido pelo 26 de Julho foram: (i) redução dos alugueis; (ii) novos níveis salariais; (iii) substituição dos diretores dos órgãos governamentais por oficiais  revolucionários. O novo governo atacou com rigor a prostituição e o jogo que eram suportes do comércio nos tempos de Batista.

Logo depois viriam medidas que iriam de encontro aos interesses dos EUA, como a reforma agrária e as nacionalizações, dando início e um longo tensionamento político-diplomático junto ao imperialismo norte-americano.

Desde então são mais de meio século de resistência da brava revolução cubana, em que pese todos os seus erros e acertos, o que é natural num processo de experimentação política na perspectiva do socialismo – aliás, o socialismo como modelo de governo seria formalizado apenas em 1961.

E neste pequeno laboratório grandes feitos foram realizados e estão guardados no patrimônio das experiências socialistas:

Educação

“Em 1961, designado o “Ano da Educação” foi iniciada campanha maciça de alfabetização para crianças e adultos. Mais de 100 000 alunos das escolas secundárias das grandes e médias cidades foram enviados ao campo para ensinar as primeiras letras para a população analfabeta. No final do ano, os princípios básicos da leitura tinham sido ensinados a cerca de 700 000 adultos. (...) Mais de um terço da população (3,5 milhões de pessoas) estava matriculada em escolas, incluindo quase todas as crianças de 6 a 14 anos de idade. O índice de analfabetismo caiu para 4%. A revolução estava conseguindo vencer o analfabetismo.” (Dados de 1986) 

Saúde 

“A saúde dos cidadãos cubanos melhorou notavelmente depois da revolução. As faculdade de medicina foram requisitadas para desenvolver um trabalho na área rural. Grandes programas preventivos e campanhas de vacinação em massa eliminaram a poliomielite, reduziram a febre tifoide e a malária. Doenças tipicamente associadas à pobreza, como diarreia aguda e a tuberculose, deixaram de figurar entre as principais causas de mortalidade. A expectativa de vida dos cubanos elevou-se de 57 anos em 1958, para 73 anos em 1983 e houve uma enorme queda nos índices de mortalidade infantil. Em 1983, este índice foi de 16,3 (por 1000 nascimentos) o que colocava Cuba ao lado dos mais avançados do mundo." (Dados de 1986). 

Não deve haver aqui qualquer vacilação. Os marxistas-leninistas devem estar hoje, em 2015, ao lado da Revolução Cubana, defendendo sua história, seu patrimônio histórico e solidários sempre a seu povo heroico que ainda resiste as tentativas de restauração capitalista patrocinadas pelo imperialismo.

Paulo Marçaioli é escritor. 

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