Por Lisanka González Suárez no Granma
Cuba não esteve isenta do fenômeno de negar às mulheres os direitos civis e políticos que cabiam a elas como seres humanos. Tal como no mundo todo, aqui também sofreram discriminação, injustiça, talvez de maneira mais severa que noutras nações, dada a herança machista que deixou o colonialismo em todo o continente.
Em 1883, a Ilha teve sua primeira médica e oftalmóloga: Laura Martínez de Carvajal y del Camino, que teve que lutar intensamente para quebrar as barreiras sociais existentes durante o século 19. Inclusive, teve até que realizar as práticas sozinha, aos sábados e domingos, pois a direção da Universidade não lhe permitia a dissecação de cadáveres junto com seus condiscípulos – todos do sexo masculino.
Outro exemplo como o anterior (1819) que mostra o braço longo da discriminação feminina é a história de Enriqueta Faber, de origem suíça, que teve que se disfarçar de homem, não só para estudar Medicina na França, mas para obter um emprego como médico, nesta pequena nação do Caribe.
Segundo o censo de 1953 as cubanas, em sua maioria, estavam confinadas ao lar, ao cuidado dos filhos e ao serviço do esposo: 13.7% das mulheres adultas tinham empregos fora de casa, e mais dum quarto destas eram trabalhadoras domésticas — de um total de mais de 70 mil — delas uma grande proporção eram negras. Algumas trabalhavam por salários de apenas 20 centavos por dia, ou só em troca de abrigo e comida.
Calcula-se que 83% de todas as mulheres empregadas trabalhavam menos de dez semanas por ano, e só 14% o ano todo. De acordo com a mesma fonte, elas constituíam 82% dos professores, 81% dos assistentes sociais e 68% dos farmacêuticos.
Portas fechadas para postos de direção, ou profissões exclusivas para homens. Em troca, estavam abertas para a prostituição, e muitas tiveram necessidade de exercê-la.
Foi apenas depois de 1º de janeiro de 1959 que chegaram a Cuba as grandes mudanças para o denominado sexo “fraco”. Muitas pioneiras do tamanho de Haydée Santamaría, Melba Hernández, Celia Sánchez, Vilma Espín, tiveram um papel determinante antes do triunfo revolucionário, na guerra e na luta clandestina nas cidades, abrindo as portas à participação das mulheres nas transformações que estavam tendo lugar em todas as ordens.
Precisamente foi Vilma Espín a encarregada de organizar a massa de mulheres que queriam participar dessas mudanças, quando foi criada a Federação das Mulheres Cubanas (FMC), em 23 de agosto de 1960.
As oportunidades não faltaram ao envolver-se nos pelotões femininos das milícias, apesar da oposição de pais ou maridos em muitos casos, quando o país se viu ameaçado pelo imperialismo ianque; quase simultaneamente milhares delas se prepararam para alfabetizar, dispersando-se pelo país todo, em planícies ou montanhas. Foram criadas as escolas Ana Betancourt para as meninas que viviam nos locais mais íngremes do país, as escolas de educadoras de círculos infantis, as professoras Makarenko e passo a passo, organizadas e apoiadas por sua organização feminina, as mulheres não só exigiram o lugar que merecem na sociedade, senão foram ganhando-o.
O líder histórico da Revolução Fidel Castro afirmou, em 9 de dezembro de 1966: Este fenômeno das mulheres na revolução é uma revolução dentro de outra revolução. Se nos perguntaram o que é o mais revolucionário que está fazendo a revolução, responderíamos que é precisamente isto: a revolução que está tendo lugar nas mulheres de nosso país!
Muitas de nossas antepassadas nunca teriam podido imaginar que as mulheres poderiam desempenhar profissões como motoristas de ônibus ou caminhões, administradoras de usinas açucareiras, vice-presidentas do governo, deputadas do Parlamento, operadoras de tanques, chefas de assembleias municipais, correspondentes de guerra, pilotos, esportistas, marinheiras e muito menos cientistas de alto quilate.
É certo que ainda os números estão abaixo da aspiração do governo, da FMC e das próprias mulheres; que restam vestígios de “machismo” e discriminação, particularmente no plano trabalhista; que ainda as próprias mulheres podem ser mais impositivas no reclamo da igualdade de gênero, mas cada dia se dão passos de avanço. Caso contrário, vejamos os dados seguintes do Escritório Nacional de Estatísticas. São mulheres 63% dos profissionais e técnicos empregados no país, até fim de 2011; 62.8% dos graduados do ensino superior; 35,6% do ensino técnico e profissional; elas ocupam 36,7% dos postos de direção; são 43,3% dos deputados à Assembleia Nacional do Poder Popular; 46,7% da força de trabalho no setor estatal; constituem 28% dos ministros e 40% dos dirigentes.
E ainda, apesar das longas jornadas de trabalho ou as grandes responsabilidades, a mulher cubana é o sustento de sua família, que a une sob seus cuidados e ternuras.
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