Cuba é um farol que ilumina os países do mundo na tarefa de atingir a soberania alimentar, afirmou em Havana o especialista da Comissão Internacional de Agricultura Sustentável, Peter Rosset, da organização internacional Via Camponesa, a qual aglutina inúmeras associações de todo o mundo.
O especialista, que participou do 2º Encontro Internacional de Agroecologia, elogiou a estratégia desenvolvida pela Associação Nacional de Agricultores Pequenos (ANAP), para produzir alimentos duma maneira mais sadia, conforme ao meio ambiente e mais a serviço dos consumidores do país.
O importante — indicou —- é como a ANAP percebeu a necessidade de colocar a família camponesa como protagonista da transformação de sua própria realidade, a partir do início do movimento agroecológico em Cuba nos finais da década de 1990.
Rosset precisou que em apenas 10 anos, 110 mil famílias transformaram sua produção até uma mais ecológica, as quais não se limitam somente aos membros da Associação, há um efeito também em seus vizinhos, de maneira que muito mais da metade da família camponesa cubana já aplica práticas agroecológicas; diminuíram sua dependência dos insumos importados, e incrementaram a produção com um alimento muito sadio.
“As práticas agroecológicas são muito importantes por várias razões: em primeiro lugar pelo alto preço dos alimentos produzidos com agroquímicos, pois se vinculam ao custo do petróleo; algo que não podemos tolerar mais em nossos países; mas também o modelo convencional de agricultura baseada em agrotóxicos prejudica o meio ambiente, destrói a produtividade do solo para o futuro, envenena os agricultores e provoca efeitos nocivos na saúde dos consumidores”, assegurou.
Quanto à situação que enfrentam os agricultores do México, seu país de residência, refletiu que os camponeses se enfrentam a um desastre total, ao estarem imersos em crises políticas, econômica e numa guerra de bandos de narcotraficantes, que na opinião dele têm sua raíz no próprio governo.
“Mas estamos depositando a esperança nos movimentos sociais, sobretudo no indígena, que é aquele que tem mais clareza sobre o futuro do país”.
Globalizar a agroecologia
Em visitas a fazendas, quintais, Cooperativas de Produção Agropecuária e de Créditos e Serviços, os mais de 170 delegados de 25 países que assistiram ao Encontro Internacional, constataram o desenvolvimento cubano na implementação de técnicas ecológicas e a consciência atingida pelos camponeses na importância de seu uso.
Em Cuba há mais de 200 mil fazendas nas quais se realizam diversas práticas agroecológicas, como o uso de meios biológicos, as plantas repelentes para o controle de pragas e doenças, reflorestamento, rotação de cultivos e conservação de alimentos por métodos tradicionais.
O presidente da ANAP, Orlando Lugo, explicou que num início se considerou utilizar esta estratégia como uma solução momentânea para enfrentar à escassez de combustível e adubos, gerada pelo período especial e o recrudescimento da guerra econômica dos Estados Unidos contra Cuba.
Depois — lembrou — veio uma agressão ianque, lançaram-nos a praga trhys palmi, que praticamente acabou com nossas colheitas de batata e feijão no ocidente do país e não tínhamos produtos químicos, nem dinheiro para comprá-los, nem bibliografia para combatê-la; tudo isso foi levando-nos a conscientizar que era necessário e inadiável criar um movimento dessa natureza.
O dirigente camponês explicou que a partir desse momento reestructuraram a ANAP para um trabalho ecológico, foi criado um grupo nacional para este setor e membros da organização foram treinados para que fossem organizadores do processo em cada província, município e localidade.
Atualmente, em todas as cooperativas existem os denominados monitores, que se encarregam de trabalhar com os camponeses em função da estratégia, qualificada de necessidade econômica para a Ilha pois, em nível mundial, os insumos agrícolas são cada vez mais caros e a alimentação da população já é para o país caribenho um assunto de segurança nacional.
Lugo argumentou que na Maior das Antillas são construídas pequenas casas rústicas para a criação de minhocas na produção de humos, que, segundo suas previsões, superará neste ano as 120 mil toneladas.
Um dos maiores sucessos que ostenta hoje a Associação Nacional de Agricultores Pequenos é que já há mais de 150 mil camponeses produzindo adubo orgânico.
De camponês a camponês
A entrega de terras mediante o decreto-lei 259 gerou um movimento solidário de capacitação. Os novos camponeses são capacitados por seus vizinhos no plantio, na colheita, na arada da terra com tração animal, na preparação do viveiros, entre outras atividades agrícolas.
Esta metodologia denominada de camponês a camponês, eminentemente cubana, é produto natural da adaptação das técnicas agroecológicas à realidade do país.
Por acaso é possível realizar numa manhã, num só país, 5 mil oficinas para adestrar pessoas sobre a implementação de práticas ecológicas na agricultura? Em Cuba sim, porque existe uma grande decisão política para desenvolver este movimento, argumentou o presidente da Associação Nacional de Agricultores Pequenos.
Em coordenação com o Ministério da Agricultura, do Açúcar e com os institutos de pesquisa dessas entidades governamentais se ministram cursos de capacitação sobre as novas tendências na agricultura a camponeses experientes, que depois servem de promotores em seu território.
A agroecologia será eterna, sempre haverá algo a fazer, mas o principal é que fomos atingindo a consciência dos homens de campo, sentenciou.
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