quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Pela 26ª vez consecutiva ONU condena bloqueio dos EUA contra Cuba

ONU: votação da resolução contra o bloqueio - 2017: 191 a favor, 2 contra | Arte: CubaMINREX 
Do Opera Mundi 

A Assembleia Geral da ONU aprovou, nesta quarta-feira (01/11), pela 26ª vez consecutiva, uma resolução que condena e pede o fim do bloqueio econômico que os Estados Unidos impuseram sobre Cuba. Foram 191 votos a favor, 2 contra (de EUA e Israel) e nenhuma abstenção.

Ao contrário da votação de 2016, quando os EUA decidiram se abster, a embaixadora do país na ONU, Nikki Haley, votou contra a resolução. O movimento vem no âmbito da troca de governo nos Estados Unidos e do novo posicionamento da administração de Donald Trump em relação à ilha, revertendo a aproximação iniciada pelo ex-presidente Barack Obama.

Apesar das sucessivas aprovações, o governo norte-americano justificava a continuidade do bloqueio dizendo que a decisão de derrubá-lo cabia ao Congresso, e não à Casa Branca.

O chanceler cubano, Bruno Rodríguez, representou o país na Assembleia, e fez um discurso bastante aplaudido pela Assembleia Geral.
Mais uma vitória de Cuba contra os EUA na ONU | Arte: Vermelho

“Nas últimas semanas, o presidente Donald Trump reiterou em quatro ocasiões diferentes que seu governo não levantará o bloqueio a Cuba a menos que esta realize mudanças em seu ordenamento interno. Reafirmo hoje que Cuba jamais aceitará condicionamentos, nem imposições, e recordamos ao presidente e a sua embaixadora [Haley] que este enfoque aplicado por uma dezena de seus predecessores não funcionou, nem funcionará. Será um mais em conta de uma política ancorada no passado”, afirmou.

Assista:
"Bloqueio: a guerra contra Cuba"

Vários países se manifestaram no plenário a favor de Cuba. “A eliminação do bloqueio facilitaria a Cuba a atualização de seu modelo econômico e social, assim como o acesso ao sistema financeiro internacional. Ajudaria a sua pronta recuperação após a passagem do furacão Irma e movimentaria fluxos de comércio e inversão de maneira natural na região”, afirmou o representante do México, segundo o Cubadebate.

O bloqueio foi imposto de maneira oficial em fevereiro de 1962, sob a administração do presidente John F. Kennedy, mas o governo norte-americano já havia imposto algumas sanções em 1959, ano do triunfo da Revolução Cubana. O prejuízo acumulado com quase seis décadas de bloqueio chega a mais de 130 bilhões de dólares. 

As perdas da economia cubana em mais de 50 anos de bloqueio norte-americano superam os 100 bilhões de dólares até 2011, de acordo com autoridades do país. Caso seja levada em conta a desvalorização do dólar frente ao padrão ouro nesse meio século, a cifra superaria 1 trilhão de dólares.

Assista discurso de Cuba na ONU:


Tradução:

Senhor Presidente;

Excelentíssimos Senhores Representantes Permanentes;

Distintos delegados:

Cidadãos norte-americanos e cubanos residentes nos Estados Unidos que se encontram nesta sala:

Gostaria expressar ao povo e governo dos Estados Unidos, ao prefeito Bill De Blasio; ao governador Andrew Cuomo e demais autoridades de Nova Iorque, bem como aos seus cidadãos e muito especialmente aos familiares das vítimas, as mais sentidas condolências em nome do povo e do governo cubanos, pelo ato terrorista que ocorreu na tarde de ontem.

Além disso, expresso sentidas condolências aos povos e governos de Argentina e Bélgica.

Senhor Presidente:

Expresso a mais enérgica condenação às declarações desrespeitosas, ofensivas e ingerencistas da Embaixadora dos Estados Unidos perante as Nações Unidas contra Cuba e contra o governo cubano proferidas há poucos minutos.

Lembro-lhe que os Estados Unidos da América, onde são cometidas flagrantes violações dos direitos humanos que suscitam profunda preocupação da comunidade internacional, não têm nem a mais mínima autoridade moral para criticar Cuba, um país pequeno, solidário, de ampla e reconhecida trajetória internacional; um povo nobre, trabalhador e amistoso.

Ela fala em nome do chefe de um império que é responsável da maior parte das guerras que se levam a cabo hoje no planeta e que assassinam inocentes, e é o fator decisivo de instabilidade mundial e de gravíssimas ameaças para a paz e para a segurança internacional, pisoteando o Direito Internacional e a Carta das Nações Unidas que cinicamente ela acaba de invocar.

Não foram 55 anos, Senhora Embaixadora, engana-se na sua primeira frase, foram 26 destas sessões e mais de um século da origem dos fatos que hoje são discutidos.

Ela mente, usa o mesmo estilo que prevalece hoje na política estadunidense. Tudo começou, inclusive, antes que existisse a Nação cubana. Quando o povo cubano pela primeira vez se alça em armas em 1868, já se tinham desatado os apetites anexionistas e de dominação do que era e é hoje o imperialismo estadunidense. 

Em 1898, usando um pretexto — como caracteriza a história moderna dos Estados Unidos—: a explosão do navio Maine em porto cubano, entraram como aliados das forças independentistas cubanas e ocuparam o país depois como invasores; impuseram a Emenda Platt, cercearam a independência e a soberania de Cuba; realizaram três ocupações militares, impuseram 60 anos de dominação absoluto que terminou no dia 1 de Janeiro de 1959 com a entrada do Exército Rebelde em Havana e a vitória da Revolução Cubana, que até hoje leva a cabo as mesma lutas que inspiraram o nosso povo há mais de 100 anos (Aplausos). 

Ela mente, usou uma frase, supostamente atribuindo a uma fonte cubana uma afirmação sobre a chamada Crise de Outubro ou dos Mísseis, e a convido a que revele a sua fonte, a que revele o seu autor, a que apresente evidências.  Parece um twit dos que proliferam neste país nestes tempos de ódio, divisão e política suja (Aplausos).

Ao triunfo da Revolução Cubana, o governo dos Estados Unidos fixou como objetivo a mudança de regime.  Não é nova a política enunciada pelo presidente Trump em 16 de Junho, é a mesma política, é uma velha política ancorada no passado.

Ela mencionou o ilustre Embaixador norte-americano Adlai Stevenson.  Esqueceu comentar que foi a ele que lhe coube o triste dever, enganado pelo seu governo, de mostrar, em uma sessão do Conselho de Segurança, fotos de supostos aviões cubanos, na verdade estadunidenses, com o emblema da Força Aérea Cubana, que em 15 de Abril bombardearam a cidade de Havana, provocaram numerosas baixas e resultou o prelúdio do ataque da invasão de Playa Girón ou Baia dos Porcos.

Esses bombardeamentos e a mentira involuntária do Embaixador Stevenson, quem fora enganado pelo seu governo, ocorreram, inclusive, antes da declaração do carácter socialista da Revolução Cubana. Esses bombardeamentos foram anteriores à declaração do carácter socialista da nossa Revolução.

Falou em Crise de Outubro.

Fala-se nestes dias do assassinato do presidente Kennedy e a desclassificação de documentos. Foi ocultada ao povo dos Estados Unidos a verdade por demasiado tempo.  Desclassifique-se tudo.

Mas, se ela quiser falar desses temas, sugiro-lhe que leia o livro Treinado para assassinar Castro, do agente da CIA Veciana, que nele conta do seu encontro com o agente da CIA David Phillips e com Lee Harvey Oswald, em Dallas, na terceira semana de Setembro de 1963. 

Tem sido uma história de mentiras e agressões: a Operação Northwoods, a Operação Mangosta. Acaba de desclassificar-se a informação de que naquele momento os Estados Unidos tinham preparados 261.000 soldados prontos para uma invasão direta a Cuba.  Na Flórida funcionava a maior base da CIA da história até esse momento, com mais de 700 oficiais, até a criação da base da CIA, ainda maior, em Saigon.

Ela usa o estilo do julgamento a Alice no país de maravilhas: sentencia primeiro, o julgamento vem depois.

Falo pelo meu povo, e também falo por aqueles que não podem chamar o presidente Trump e à Embaixadora dos Estados Unidos pelos seus nomes, mas sentem e pensam como eu. Pelo menos ela reconheceu o absoluto isolamento dos Estados Unidos nesta sala e neste mundo. Estão sozinhos no tema do bloqueio a Cuba! (Aplausos.) Ela ignora o peso da verdade, subestima a força de uma ideia justa no fundo de uma caverna, mais poderosa do que um exército, como dizia José Martí, que escreveu levando no seu peito, em carta inconclusa, a seguinte frase: “Já estou todos os dias em perigo de dar minha vida pelo meu país, e pelo meu dever (...), de impedir a tempo com a independência de Cuba que se estendam pelas Antilhas os Estados Unidos da América e caiam, com essa força a mais, sobre as nossas terras de América.”

Embaixadora, tudo começou há muito mais do que 26 anos, muitíssimo mais do que 55 anos. Junto da agressão militar, a fabricação de pretextos, os planos para uma invasão direta, as medidas de asfixia da nossa economia, o terrorismo de Estado, a desestabilização e a subversão, propuseram-se —e cito o memorando infame do subsecretário de Estado Lester Mallory, assinado em 6 de Abril de 1960— “…provocar o desengano e o desânimo mediante a insatisfação econômica e a penúria (...), negando a Cuba dinheiro e fornecimentos, no intuito de reduzir os salários nominais e reais. Com o objetivo de “provocar fome, desespero e o derrubamento do governo”, foi criado o bloqueio contra Cuba. 

Contudo, quando o presidente Raúl Castro Ruz e o presidente Barack Obama realizaram aqueles inesperados e encorajadores anúncios de 17 de Dezembro de 2014, o presidente Obama, qualificou o bloqueio como fracassado e obsoleto, ineficaz com relação aos seus objetivos, causante de prejuízos ao povo cubano e de isolamento ao governo dos Estados Unidos. Depois o descreveu como inútil para fazer avançar os interesses estadunidenses e o qualificou de falido, sem sentido, inviável e uma carga para os cidadãos.

Mas nunca o bloqueio foi reconhecido como sendo uma violação flagrante, maciça e sistemática dos direitos humanos dos cubanos, o que omitiu cinicamente a Embaixadora dos Estados Unidos há umas horas; nem foi reconhecido como um quebrantamento do Direito Internacional ou um ato de genocídio, segundo a Convenção de Genebra; nem se renunciou aos seus fins de submissão do nosso povo.  Não obstante, na altura o Presidente dos Estados Unidos declarou reiteradamente a sua decisão de utilizar as suas faculdades executivas e de trabalhar junto do Congresso para levantar o bloqueio.

Um reflexo prático dessa vontade foi o voto em abstenção dos Estados Unidos, em 2016, desta resolução, sobre o que a Embaixadora dos Estados Unidos acaba de burlar-se.

Neste período, aconteceram progressos substanciais em matéria de relações diplomáticas, diálogo e cooperação em áreas de mútuo interesse e benefício; mas o bloqueio, nestes dois anos decorridos, em tudo o fundamental, se manteve, embora foram adaptadas algumas decisões executivas que alteraram a sua aplicação de forma muito limitada, mas na direção positiva. Foi significativa a forma em que, dentro da proibição legislativa de viajar a Cuba, que constitui uma violação dos direitos e das liberdades civis dos cidadãos estadunidenses — que ela também não menciona—, porém, foi expandido o uso das licenças de viagens. 

Também foram alcançados resultados tangíveis em matéria de cooperação bilateral, em benefício mútuo, em âmbitos tão importantes como o do enfrentamento ao terrorismo, ao narcotráfico ou ao crime digital.

Senhor Presidente:

No passado 16 de Junho o presidente  Donald Trump proclamou o bloqueio como um eixo fundamental da sua política anticubana e anunciou um grupo de medidas encaminhadas aos seu endurecimento.

Em um discurso antiquado e hostil, próprio da  Guerra fria, e perante um auditório composto, entre outros, por rançosos batistianos, anexionistas e terroristas, o governante estadunidense retomou gastadas alegações sobre supostas violações dos direitos humanos em Cuba para justificar o fortalecimento do bloqueio. Nesta tribuna, hoje de manhã, foi escutado o seu eco, a sua caixa-de-ressonância.

O presidente Trump não tem a menor autoridade moral para pôr em causa a Cuba. Preside um governo de milionários destinado a aplicar medidas selvagens contra as famílias de menos rendas e os pobres deste país, as minorias e os imigrantes. Segue um programa que alenta o ódio e a divisão. Prega uma perigosa excepcionalidade e supremacia, disfarçada de patriotismo, que provocará mais violência. Ignora a vontade dos eleitores: dois terços dos estadunidenses e também dos cubanos residentes nos Estados Unidos que apoiam o fim do bloqueio.

As políticas vigentes nos Estados Unidos prejudicam os cidadãos, impera a corrupção da política, sequestrada pelos chamados “interesses especiais”, isto é, os interesses e o dinheiro corporativos; a falta de garantias de educação, saúde e segurança social, as restrições à sindicalização e a terrível discriminação de gênero.

Merecem condenação o uso da tortura, o assassinato de afro-americanos pela polícia, as mortes de civis pelas suas tropas, o uso indiscriminado e racialmente diferenciado da pena de morte, o assassinato, a repressão e vigilância policial de imigrantes, a separação de famílias e a detenção ou deportação de menores e as medidas brutais com que ameaça os filhos de imigrantes ilegais que cresceram e se educaram nos Estados Unidos. 

É o governo que perdeu o voto popular.

A Embaixadora dos Estados Unidos nos exteriorizou o seu sonho. Prefiro exteriorizar o de Martin Luther King, quando disse: Sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado do seu credo. Todos os homens são criados iguais. Que repique a liberdade (Aplausos). 

Ela veio a dizer-nos que reconhece que o futuro da ilha descansa nas mãos do povo cubano. Mente rotundamente, jamais foi assim em toda a história. É a história da tentativa de dominação e de hegemonia sobre Cuba.

A política anunciada se propõe reverter as relações a um passado de confronto para satisfazer espúrios interesses de círculos extremistas da direita estadunidense e de uma frustrada e envelhecida minoria de origem cubana na Flórida.

O “Memorando Presidencial estabelecendo a política para com Cuba, inclui, entre outras medidas, novas proibições às relações econômicas, comerciais e financeiras de companhias estadunidenses com empresas cubanas. Restringe adicionalmente a liberdade de viajar dos cidadãos estadunidenses com a eliminação das viagens individuais na categoria de intercâmbios chamados de “povo a povo”, e medidas de vigilância sobre o resto dos visitantes desse país.

Nas últimas semanas, o presidente Donald Trump reiterou em quatro oportunidades diferentes, (incluída a que fez perante esta Assembleia no passado mês de Setembro,) que o seu governo não levantará o bloqueio a Cuba a não ser que esta realize mudanças no seu ordenamento interno.

Reafirmo hoje que Cuba jamais aceitará condicionamentos nem imposições e lhe recordamos ao Presidente e à sua Embaixadora que este enfoque, aplicado por uma dezena dos seus predecessores, nunca funcionou nem vai funcionar. Será mais um no cômputo de uma política ancorada no passado.

Mais recentemente, sob o pretexto das afeções à saúde de alguns diplomatas em Havana, sem que exista a menor evidência sobre a sua causa e origem —porque mentem quando falam em ataques ou incidentes—, nem resultados das investigações em curso, o governo dos Estados Unidos da América adaptou novas medidas de natureza política contra Cuba, que aprofundam o bloqueio e afetam as relações bilaterais no seu conjunto.

Entre elas, suspendeu a emissão de vistos de viageiros e de emigrantes cubanos no seu Consulado em Havana, o que prejudica o direito dos cidadãos de viajarem livremente e visitar esse país por períodos breves, como têm feito neste ano mais de 163.000 cubanos, ou dificulta seriamente a reunificação familiar de outros sob o acordo bilateral de conceder não menos de 20.000 vistos anuais de imigrantes. A exigência de uma entrevista presencial aos viageiros de Cuba nos consulados estadunidenses em terceiros países, e aos emigrantes na seção consular estadunidense em Bogotá, encarecerá  enormemente os trâmites e os tornará inviáveis para uma boa parte deles. Onde estão os direitos deles no discurso dos Estados Unidos? 

Não tem forma de justificar o fato de que se prejudiquem pessoas e as famílias para tentar alcançar objetivos políticos contra a ordem constitucional em Cuba.

O governo estadunidense, com o propósito político de limitar as viagens e prejudicar o turismo internacional a Cuba, também emitiu uma infundada e absolutamente mendaz advertência aos cidadãos estadunidenses para que evitem visitar o nosso país.

Mediante a injustificada expulsão do pessoal do nosso Consulado Geral em Washington, único nos Estados Unidos, tem limitado gravemente a capacidade deste para fornecer serviços aos viageiros estadunidenses e especialmente aos cubanos residentes aqui, que têm absoluto direito a visitar e relacionar-se com normalidade com a sua nação.

Igualmente, reduziu de maneira arbitrária e infundada o pessoal da nossa Embaixada, o qual tem provocado, entre outras consequências, o desmantelamento do seu Escritório Econômico-Comercial, com o perverso propósito político de privar de interlocução o setor empresarial estadunidense, genuinamente interessado em explorar as oportunidades de negócios existentes mesmo dentro do marco restritivo das regulações do bloqueio.

Também não surpreende, com o que tem dito a Senhora Embaixadora aqui, nem antes os seus líderes, que o Presidente dos Estados Unidos não leve em conta o apoio internacional unânime aos progressos que agora reverte, nem o similar reclamo ao cessar imediato, total e incondicional do bloqueio.

Senhor Presidente:

Como expressou o presidente Raúl Castro Ruz, no dia 14 de Julho passado, “reafirmamos que qualquer estratégia que pretenda destruir a Revolução, ora mediante a coerção e as pressões ora recorrendo a métodos subtis, fracassará.  [...]  Cuba tem a vontade de continuar negociando os assuntos bilaterais pendentes com os Estados Unidos, na base da igualdade e do respeito à soberania e à independência do nosso país, e de prosseguir o diálogo respeitoso e a cooperação em temas de interesse comum com o governo norte-americano.

Cuba e os Estados Unidos podem cooperar e conviver, respeitando as diferenças e promovendo tudo aquilo que beneficie a ambos os países e povos, mas não deve esperar-se que para tal Cuba realize concessões inerentes à sua soberania e independência [...] ou que negocie os seus princípios ou aceite condicionamentos de tipo nenhum, como o não temos feito nunca na história da Revolução.”  Fim da citação (Aplausos).

Senhor Presidente:

Cuba apresenta hoje pela 26ª ocasião consecutiva perante a Assembleia Geral das Nações Unidas o projeto de resolução (titulado) “Necessidade pelo fim ao bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos da América contra Cuba”.

Na atual conjuntura, este texto cobra especial relevância diante do retrocesso que significam as ações do novo governo dos Estados Unidos contra Cuba.

O bloqueio constitui o maior entrave para o desenvolvimento econômico e social do país e para a implementação do Plano Nacional, em linha com a Agenda 2030 das Nações Unidas. É o principal empecilho para o desenvolvimento das relações econômicas, comerciais e financeiras de Cuba com os Estados Unidos e o resto do mundo.

Segundo os cálculos realizados de forma rigorosa por instituições cubanas, o bloqueio causou, no ano decorrido desde Abril de 2016 até Abril de 2017, perdas à economia cubana na ordem dos 4, 305 bilhões de dólares.

Essa cifra é aproximadamente o dobro daquilo que se necessitaria como investimento estrangeiro direto anual para que a economia cubana possa avançar substancialmente rumo ao desenvolvimento. 

Os prejuízos acumulados alcançam a enorme cifra de 822, 280 bilhões de dólares, calculados tomando em conta a depreciação do ouro. A preços correntes, equivalem a 130,178 bilhões de dólares.

Dezenas de bancos de terceiros países foram afetados no último período pela extrema e tenaz perseguição das transações financeiras cubanas.

O bloqueio é contrário ao Direito Internacional e a sua aplicação agressivamente extraterritorial prejudica a soberania de todos os Estados. Também lesa os interesses econômicos e empresariais em todas as latitudes.

Senhor Presidente:

A Embaixadora dos Estados Unidos omitiu mencionar que o bloqueio constitui uma violação flagrante, maciça e sistemática dos direitos humanos das cubanas e cubanos e classifica como ato de genocídio de acordo com a Convenção para a Prevenção e Sanção do Delito de Genocídio de 1948. Também resulta um obstáculo para a cooperação internacional que Cuba oferece em áreas humanitárias a 81 países do Sul.

Resultam incalculáveis os prejuízos humanos que tem produzido a aplicação desta política. Não tem família cubana nem serviço social em Cuba que não sofra as privações e consequências do bloqueio. A emigração cubana também sofre discriminação e prejuízos.

Durante o último ano, a empresa cubana importadora e exportadora de produtos médicos, Medicuba S.A., realizou pedidos para comprar insumos a 18 companhias estadunidenses que rejeitaram ou nunca responderam.

Outras, como a corporação estadunidense Promega, reconhecida pela elaboração de kits de diagnósticos para determinar a carga virosa em pacientes portadores de HIV-SIDA, hepatite C ou patologias renais, negou-se em Junho de 2017 a vender os seus produtos a Medicuba S.A, alegando que o Departamento do Tesouro mantém sanções comerciais que proíbem a venda dos seus produtos à ilha.

Nessa própria data, e com o mesmo argumento, recebeu-se a negativa para o fornecimento a Cuba por parte da companhia New England Biolabs Inc., que comercializa um amplo leque de enzimas, como a Proteinase K, que é um reagente que permite diagnosticar doenças virosas como o dengue, o zika e o chikungunja, assim como outras enzimas com múltiplos usos para o diagnóstico de malformações congênitas dos fetos e para determinar a compatibilidade que existe entre os doadores de órgãos e os pacientes que serão transplantados de rim, medula óssea, fígado, entre outros.

Com o mesmo argumento essa companhia se negou a realizar fornecimentos de natureza totalmente humanitária a Cuba.

Em Abril de 2017, o fornecedor alemão Eckert & Ziegler Radiopharma Gmbh lhe negou à mesma companhia médica cubana o Gerador Ge-68/Ga-68, com os seus componentes, que é um equipamento utilizado no diagnóstico do cancro de próstata. Segundo a companhia, não era possível fornecer o produto diretamente a Cuba, nem através de um terceiro país, visto que o bloqueio o impede. 

O serviço de cardiologia do Hospital Clínico-Cirúrgico “Hermanos Ameijeiras”, precisa imperiosamente de um dispositivo de assistência circulatória para poder tratar o choque de origem cardíaca, a cardiologia intervencionista e para a electrofisiologia, que permita a recuperação de falhas cardíacas e o prolongamento da vida do paciente.

A companhia estadunidense Abiomed, líder no mercado mundial nesses produtos, possui o sistema Impella, ideal para tratar esses danos. Em Setembro de 2016 e em Fevereiro de 2017, a empresa MEDICUBA S.A., contactou a referida companhia com o objectivo de estudar a possibilidade de incorporar o produto ao sistema de saúde em Cuba, a qual, até este minuto, tem rejeitado responder.

Senhor Presidente:

Agradecemos profundamente a todos os governos e povos, parlamentos, forças políticas e movimentos sociais, representantes da sociedade civil, organizações internacionais e regionais que contribuíram com a sua voz e o seu voto, ano após ano, a fundamentar a justeza e a urgência da abolição do bloqueio. 

Estendemos também a nossa gratidão à ampla maioria do povo estadunidense pelo seu apoio a este louvável propósito.

Ofende a consciência da humanidade que a Embaixadora dos Estados Unidos se referisse dessa maneira ingerencista e inaceitável ao governo bolivariano da Venezuela. Ofende o heroico povo venezuelano, a sua união cívico-militar, ao governo bolivariano e chavista, encabeçado pelo presidente Nicolás Maduro Moros. 

Mente o governo dos Estados Unidos quando declara Venezuela uma ameaça para a sua segurança nacional, que é, curiosamente, a primeira reserva certificada de hidrocarbonetos no planeta.

Como escreveu o Libertador Simón Bolívar, “… os Estados Unidos parecem destinados pela providência a colmatar de miséria a América em nome da liberdade”.  Respondo-lhe à Embaixadora com as palavras de Bolívar.

Estamos no meio de um limpo e constitucional processo eleitoral em Cuba, onde não se compram cadeiras nem prevalecem interesses especiais, onde não tem campanhas mendazes onde comanda o dinheiro; eleições nas quais não se manipula a vontade dos eleitores; eleições nas quais não se ateia a divisão e o ódio.

Senhor Presidente:

Encomiamos muito especialmente a todos os que têm expressado preocupação e rejeição pelas medidas coercitivas anunciadas pelo atual governo estadunidense.

O povo cubano não renunciará jamais a construir uma Nação soberana, independente, socialista, democrática, próspera e sustentável (Aplausos).

Persistiremos, com o consenso do nosso povo e especialmente o compromisso patriótico dos cubanos mais jovens, na luta anti-imperialista e na defesa da nossa independência, pela qual já morreram dezenas de milhares de cubanos e temos corrido os maiores riscos, como demonstramos em Playa Girón e frente a todas as ameaças.  

Guardaremos eterna lealdade ao legado de José Martí e de Fidel Castro Ruz (Aplausos).

Senhor Presidente;

Distintos representantes permanentes;

Estimadas delegadas e delegados:

O nosso povo acompanha com esperança este debate. No seu nome lhes solicito votar a favor do projeto de resolução A/72/L.30, “Necessidade de pôr fim ao bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos da América contra Cuba”.

Muito obrigado (Aplausos prolongados)

Exclamações de: “’Viva Cuba!” “Cuba sim, bloqueio não!”

Tradução: Cubaminrex.

Edição: Surt Silva/Blog Solidários.

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