sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Cemitério de Colón: uma joia mundial

Por Mireya Castañeda
Fonte: GRANMA

Além da tristeza inevitável que desperta um cemitério, o de Colón em Havana provoca admiração. Em seus 57 hectares acumula um conjunto considerável de obras de arte, com mais de 50 mil mausoléus, capelas, panteões, galerias ou ossuários.

A riqueza da estatuária funerária e da diversidade de estilos arquitetônicos constitui uma das características mais notáveis deste campo-santo pelo qual muitos especialistas o situam como um dos três mais luxuosos e grandes do mundo.

Nessa relação, a necrópole de Colón é precedida somente pelo cemitério monumental de Staglione (Gênova, Itália, inaugurado em 1851 e famoso por suas esculturas) e pelo de Montjuic, em Barcelona, Espanha (inaugurado em 1883, que guarda os restos de artistas, como o do músico Isaac Albéniz (1860-1909); a soprano Victoria de los Ángeles (1823-1905) e o pintor Joan Miró (1893-1983).

Há que adicionar o Père Lachaise, de Paris (nomeado assim em homenagem ao padre François de la Chaise – (1624 -1709) – confessor do rei Luis XIV). A importância do campo-santo parisiense, um dos mais conhecidos do mundo, sustenta, mais que em seu valor arquitetônico ou suas esculturas, nos ilustres personagens que nele descansam para sempre.

Alguns nomes para recordar: Guillaume Apolinaire (1880-1918); Miguel Ángel Astúrias (1899-1974); Honoré de Balzac (1799-1850); María Callas (1923-1977); Frédéric Chopin (1810-1849); Jacques-Louis David (1748–1825); Isadora Duncan (1877–1927); Georges Méliès (1861-1938); Molière (1622–¿1673?); Yves Montand (1921–1991); Jim Morrison (1943–1971); Édith Piaf (1915–1963), e Oscar Wilde (1854–1900).

Atendendo a essa relevância mundial da necrópole havanesa (Monumento Nacional), o Gabinete do Historiador da Cidade projetou e está realizando um plano geral de conservação e restauração, que já se pode apreciar.

BREVES DADOS DA SUA HISTÓRIA

Em 1854, o então governador espanhol de Cuba, Marquês de la Pezuela, projetou a construção de uma nova necrópole para Havana, ideia que não pode ser realizada até 1870, quando se deram a conhecer as bases de um concurso público para sua construção, ganho pelo arquiteto Calixto Loira Cardoso.

A primeira pedra foi colocada em 30 de outubro de 1871 e as obras foram concluídas em 2 de julho de 1886, com uma primeira ampliação em 1934. Sua entrada é um régio pórtico, de 34 metros de largura e 21 de altura, obra do arquiteto espanhol Calixto de Loira.

Anos mais tarde, em 1901, foi coroado com uma escultura de mármore de Carrara, realizada pelo cubano José Vilalta de Saavedra, que intitulou As três virtudes teologais, fé, esperança e caridade, incluindo a inscrição Janua Sum Pacis, pelo qual o pórtico é conhecido como Porta da Paz.

As grades de ferro foram gravadas com as letras C, em homenagem ao grande navegante, Cristóvão Colombo, descobridor da Ilha e que disse “é a terra mais linda que olhos humanos viram”. É uma ironia que o cemitério seja dedicado ao grande Almirante, repleto de famosas esculturas, e não tenha uma com seu nome.

Ao trespassar a gigantesca porta aparece a necrópole, pensada e construída de forma retangular como um acampamento romano, com calçadas e ruas numeradas. A avenida central, entre a capela e o pórtico, foi batizada, naturalmente Cristóvão Colombo.

ALGUNS LUGARES DE INTERESSE

A avenida Colón está sendo cuidadosamente restaurada. Possui dos dois lados alguns desses monumentos e esculturas que o enaltecem. A primeira de todas, uma magnífica réplica de La Pietá, de Miguel Angelo, da Basílica de São Pedro, no Vaticano.

Encontra-se no centro do panteão de don Miguel González de Mendoza y Pedroso, um ilustre personagem nascido em Havana, em meados de século 19, no seio de uma família influente.

Também está o conjunto escultórico dedicado a um grupo de bombeiros, mortos tragicamente em 1890, em serviço, no incêndio da Ferreteria Isasi. É uma obra funerária de uns 10 metros de altura, realizada pelo escultor espanhol Agustín Querol Subirats.

O panteão dos bombeiros é coroado por um anjo com um bombeiro morto nos braços. Este anjo descansa num pedestal de vários metros de altura, de onde aparecem brasões e armas dos bombeiros, e quatro colossais esculturas. Aspecto relevante do monumento é o fato de que representa aos falecidos com seus verdadeiros rostos.

Ao final da avenida Colón está a capela, de forma octogonal. Na parede do altar, está pintada uma alegoria sobre o Juízo Final, do mestre José Melero, primeiro diretor da Academia de Artes de San Alejandro.

Bem perto, encontra-se o túmulo mais visitado, o de Amelia Goira, uma dama da alta sociedade havanesa, conhecida como A Milagrosa. A jovem de 23 anos faleceu no momento do parto e sua filha, também. Foi enterrada com a menina a seus pés. Conta a lenda que quando a tumba foi aberta, um tempo depois, a menina estava em seus braços e seu esposo desesperado José Vicente Adot, regressava cada tarde ao cemitério e a chamava tocando nas aldabas de bronze. Fez isso até sua morte, 17 anos depois. Converteu-se em lenda e centro de peregrinação.

Outras curiosidades podem ser uma lousa talhada com uma pedra de dominó, o Doble Tres, porque uma anciã fanática deste jogo perdeu com essa pedra na mão; ou uma pirâmide egípcia, templos romanos e gregos e castelos medievais.

A grandeza da necrópole não se circunscreve a seus tesouros de mármore, bronze e vitrais; também à história de pessoas que ali foram sepultadas. Aqui descansam Leonor Pérez e Mariano Martí, pais do Apóstolo da independência, José Martí; o dominicano Generalíssimo Máximo Gómez, que lutou nas duas guerras independentistas no século 19 e, entre as figuras importantes da intelectualidade cubana, Alejo Carpentier, Nicolás Guillén, Gonzalo Roig; Ignacio e María Cervantes, Eliseo Diego, René Portocarrero; Juan Marinello; José Antonio Portuondo, Hubert de Blanck; Amelia Peláez.

A fama da necrópole de Colón, por seus numerosos monumentos funerários, sua arquitetura, suas majestosas esculturas, suas decorações art déco e art nouveau, todos de altíssimo valor artístico, é lugar imprescindível de todo turista visitante da cidade. Eles terão um respeitoso olhar para este parque funerário, museu ao ar livre, certamente, mas campo-santo para os havaneses.


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