Vindo de onde veio e publicado por quem publicou, até que o conteúdo não é tão ruim, embora nossa cautela e objeções pontuais.
Fonte: ÉPOCA
A diretora da instituição Center for Democracy in the Americas afirma que não cabe aos Estados Unidos interferir em assuntos internos do vizinho caribenho.Teresa Perosa
Sarah Stephens, diretora do Center for Democracy in the Americas,
defende uma nova abordagem dos EUA para Cuba
(Foto: Ralph Alswang)
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Sarah Stephens é diretora do Center for Democracy in the Americas há seis anos, desde sua fundação, e atua ao lado de políticos, jornalistas e entidades da sociedade civil na promoção de debates sobre a política externa dos EUA em relação à América. Segundo ela, o governo americano não pode impor seu modelo de democracia a Cuba. “Para mim, o jeito certo é apoiar e encorajar os passos que já estão sendo tomados em Cuba, que estão levando a mais aberturas, levando os cubanos a terem mais controle sobre suas próprias vidas”, afirma.
ÉPOCA – O Center for Democracy in the Americas se opõe ao embargo. Por quê?
Stephens – O embargo se provou ineficaz durante esses 50 anos, simplesmente não funcionou. Além disso, nós discordamos de seu propósito. Nós viajamos frequentemente a Cuba, vamos para lá quatro ou cinco vezes por ano, fazemos isso há anos e inclusive levamos congressistas para lá. O que nós aprendemos sobre o país, falando com a população nas ruas, em suas casas, é que Cuba quer decidir seu futuro por si mesma. Por haver essa relação histórica entre EUA e Cuba, os cubanos são particularmente sensíveis ao fato de meu país dizer a eles o que Cuba deve ser. Há resistência entre toda a população a essa ideia. Então, me parece que a medida certa e inteligente seria observar e aprender com o que está acontecendo em Cuba, apoiando e encorajando as coisas que nós consideremos positivas.
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ÉPOCA – Desde sua imposição, o embargo parece não ter ocasionado o efeito esperado – a queda do regime de Castro. Podemos dizer que o embargo perdeu sua relevância como fator de pressão?
Stephens – Cuba está passando por mudanças muito importantes sob o governo de Raúl Castro. E essas mudanças têm muito pouco a ver com os Estados Unidos. Nós teremos que lidar com o fato de que o governo cubano está enfrentando a crise em que se encontra e tomando medidas pragmáticas para sair dessa crise. Mas eles estão fazendo isso no tempo e nos termos deles. Esse é o modelo cubano, não chinês ou vietnamita. Ao mesmo tempo, as mudanças na nossa política, colocadas em prática pelo presidente Obama nos últimos dois anos, contribuíram para o que Raúl está tentando fazer na ilha. A atividade, o nível de atividade, viagens e de envio de remessas e a interação entre a população cubano-americana e os cubanos é enorme, vibrante e é parte da mudança que está ocorrendo em Cuba. O embargo perdeu de fato sua relevância como fator de pressão. As mudanças que estão ocorrendo do nosso lado e do deles são prova disso.
ÉPOCA – A ala mais radical pró-sanções diz que acabar com o embargo é uma maneira de apoiar o regime dos Castros. Se as sanções perderam seu efeito, como os EUA podem estimular uma transição democrática na ilha?
Stephens – Obviamente, o embargo não é o único componente de nossa política externa. Nós temos o programa USAID (de assistência externa), o programa de promoção de democracia, que tem a intenção de estimular uma transição democrática, de apoiar e sustentar “dissidentes na ilha”. Francamente, não acho que isso seja eficaz também. Eu acho que é a abordagem errada. Em Cuba, os programas de promoção de democracia do USAID são ilegais. Então, eles estão sendo desenvolvidos de maneira antagônica, numa maneira ameaçadora ao governo de Cuba. Para mim, portanto, o jeito de fazer isso, de ser eficaz é apoiar e encorajar os passos que já estão sendo tomados em Cuba, que estão levando a mais aberturas, levando os cubanos a terem mais controle sobre suas próprias vidas. Raúl Castro tem feito uma série de coisas, principalmente em termos de economia, abrindo oportunidades no setor privado, encolhendo o tamanho do estado cubano, estimulando a produção de alimentos no país, por meio da distribuição de terras da União para cubanos. Ele está correndo contra a corrupção no governo também e mudando as leis de propriedade, permitindo que cubanos comprem suas casas. Isso é importante. Você vê placas de “vende-se” por todos os lados ao sair de Havana. A vida de cubanos está mudando e eu acho que são essas mudanças que a comunidade internacional deveria elogiar e apoiar.
ÉPOCA – Obama então deveria responder mais efetivamente às mudanças que estão ocorrendo na ilha?
Stephens – O presidente Obama enfrenta um problema de imobilidade em termos de política interna. Eu não acho que ele necessariamente tenha que dar discursos apoiando o governo de Raúl, mas existem tantas outras maneiras em que ele poderia estar sinalizando apoio e ele não está fazendo.
ÉPOCA – Que maneiras seriam essas?
Stephens – Essencialmente encerrar todas as restrições de viagem e envio de remessas para famílias cubanas. Eu também acho que permitir viagens para outros cidadãos americanos é extremamente importante, porque dá a oportunidade de mais contato interpessoal e se soma às aberturas que estão ocorrendo no país. Outra coisa que está acontecendo é que o governo americano está dando muitos vistos para cubanos - acadêmicos, artistas, intelectuais, pessoas que vêm aos EUA para falar do processo que está ocorrendo em Cuba. Isso é extremamente importante.
ÉPOCA – Se nada mudar na política americana, o que podemos esperar de Cuba na próxima década?
Stephens – Eu estou muito otimista. Acho que o presidente Raúl Castro está inclinado e tem a intenção de abrir a vida política e econômica em Cuba o máximo possível, sem criar instabilidade ou perder as conquistas que foram construídas pela Revolução. Podemos esperar uma abertura muito maior na economia e, no lado político, vem aí uma nova geração de líderes políticos com ideias novas e diferentes. Nós definitivamente vamos ver uma mudança. O que ela vai ser exatamente, ninguém pode dizer. O Partido Comunista ainda vai estar no poder? Provavelmente, mas eu acho que o próprio partido vai estar muito diferente em 10 anos. Eu acho que é tão importante pensar nos termos em que os cubanos pensam e não impor a nossa visão do que um regime democrático aberto deve parecer.
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