quinta-feira, 3 de maio de 2012

O almiqui cubano, um mamífero misterioso, solitário e raro

Almiqui cubano | Foto: Granma

Do Granma 

Provalvelmente o almiqui seja um dos integrantes da fauna endêmica cubana menos conhecido no mundo. E também o mais procurado pelos próprios cientistas da Ilha.

Durante muito tempo, dezenas de especialistas procuraram por sua conta ou junto aos de outros países, em expedições organizadas por instituições que colaboram com Cuba o Soledonon cubanus, um mamífero insectívoro, qualificado pelos especialistas como um fóssil vivente.

Tanta dedicação se explica não só pelo inato empenho dos pesquisadores em aprofundar os conhecimentos herdados daqueles que os antecederam no estudo de uma espécie que se pensava extinta, mas também para desvendar os mistérios que rodeiam uma criatura pouco agraciada, de hábitos solitários e noturnos e que vive sob a terra, em locais de difícil acesso, características que, segundo os expertos, tornaram muito difícil seu estudo.

Foi descrito como espécie nova em Cuba pelo cientista alemão D. Peters, em 1861, e muito depois, na primeira metade do século 19, pelo cubano Felipe Poey, que o chamou com o nome vulgar de almiqui, que junto ao solenodonte-do-haiti, da Ilha A Hispaniola (República Dominicana e o Haiti), é uma das duas espécie da família dos solenodontídeos.

Não são poucos os especialistas e até neófitos no tema que, depois de andar e tresandar longos e íngremes caminhos, revisar florestas, vasculhar nos matagais e em madrigueiras, durante jornadas intermináveis, tiveram que se resignar com "será a próxima vez", porque em 50 anos foram capturados muito poucos exemplares.

SEUS ÚLTIMOS REDUTOS?

Não foi até fim da década de 1990 que tive os primeiros antecedentes dum projeto executado pela Empresa para a Proteção da Flora e da Fauna do Ministério da Agricultura. Com a colaboração duma instituição internacional e algumas nações se organizaram várias expedições à serra Cristal, encravada no maciço Nipe-Sagua-Baracoa, na região norte-oriental da Ilha, onde certas evidências confirmavam a presença deste insetívoro. O local é conhecido como um dos últimos redutos, apesar de se terem achado fósseis no ocidente e no centro do país.

O sítio natural Pico Cristal é a área protegida mais antiga de Cuba. Tão atrás como em 1930, sua grande biodiversidade, riqueza de formações vegetais endêmicas e da fauna, representada por valiosos exemplares, entre eles o almiqui, assim como sua irrepetível beleza, levou a este sítio ser proclamado o primeiro Parque Nacional da Ilha e, há poucas semanas, Monumento Nacional.

Um dos especialistas que esteve entre os 11 integrantes duma expedição organizada em 1998 para sua busca naquele lugar, deixou constância escrita do trabalho realizado por eles, durante vários dias, onde narra em detalhe a infrutuosa batida para localizar o animal, e refere, também, os valiosos achados de outros membros da fauna, alguns exclusivos da região: espécies endêmicas e autóctones de anfíbios, répteis — em especial lagartos e ofídios —, aves, exemplares de invertebrados de oito grupos, mais de 50 espécies de aranhas, assim como 30 exemplares de caracóis, pois da alta diversidade de moluscos do país, ao redor de 54% dos endêmicos se encontram nessa região.

Mas foi impossível achar o almiqui, objetivo principal da cruzada, apesar das armadilhas colocadas, os rastros seguidos e o conjunto de evidências. Finalmente, a ponto do desânimo, uma fêmea caiu numa das armadilhas.

NÃO HAVERÁ QUE ESPERAR MEIO SÉCULO MAIS

Não tive mais notícias sobre outras cruzadas nem novos achados, até que, há alguns dias, soube de uma equipe de pesquisadores cubanos e japoneses que capturaram sete exemplares adultos, em áreas do Parque Nacional Alexandre von Humboldt.

No próprio Parque foram detectadas, também, diversas evidências sobre a provável presença dum maior número de solenodontes, o que significa que em qualquer ponto de seus 70 mil hectares poderia haver um número considerável deste insectívoro.

Além de ser o hábitat do Solenodon cubanus, a riqueza de sua flora e de sua fauna levou aos conhecedores a afirmar que o Parque Alexandre von Humboldt é a área protegida de maior biodiversidade de Cuba e do Caribe insular; um dos locais de maior endemismo do mundo e está entre os mais valiosos para a conservação da flora endêmica em todo o hemisfério Ocidental, características valoradas na hora de ganhar a categoria de Patrimônio da Humanidade, na 25ª Reunião do Comitê de Patrimônio Mundial da Unesco, celebrada em dezembro de 2001.

O certo é que esta rica e bela região, onde se mesclam montanhas, frondosas e impenetráveis florestas de diversas formações vegetais, rios e quedas d'água, é muito pouco explorada.

Provavelmente continue durante muito tempo sendo refúgio do mamífero mais raro e solitário do Caribe. Os conhecedores estimam que espécies que se consideram extintas foram achadas neste local. Talvez alguma ou outra não descoberta ainda voe ou caminhe entre seus mais agrestes e abruptos sítios.

A bibliografia diz que Solenodon é um gênero de mamíferos placentários. São conhecidos com o nome vulgar de almiquis em Cuba ou solenodontes na Espanhola. São insectívoros próprios das Antilhas e se contam entre os mamíferos mais raros do mundo. Existem duas espécies bastante parecidas: o almiqui de Cuba (Solenodon cubanus) e o solenodonte-do-haiti (Solenodon paradoxus), que habita na Ilha A Espanhola (República Dominicana e o Haiti). Existiram outra duas espécies hoje extintas. Este animal é um verdadeiro fóssil vivente, de cujos antepassados se encontraram ossos que datam de há 30 milhões de anos. É pequeno, de cor parda escura ou preta, com o focinho e os ombros duma cor branca amarelada e possui um comprimento total de 53 centímetros, anda em zigue-zague e sua saliva é venenosa: Sua cabeça apresenta um focinho que termina em ponta moldável e a ambos os lados se localizam as fossas nasais, de olhos pequenos e orelhas quase ralas e arredondadas.

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