Por Eric Nepomuceno na Carta Maior
Sempre que penso no repórter Fernando Morais, penso num obcecado. Mais
do que persistente, mais do que meticuloso, um obcecado. Quando pega um
tema ou um personagem, não larga mais. Passa a conviver com ele cada
minuto do dia e da noite. E não se trata de um obcecado qualquer:
Fernando Morais tem um radar formidável para descobrir temas e
personagens. Seu novo livro, Os últimos soldados da Guerra Fria,
chega às livrarias dia 19 de agosto para comprovar que ele não só não
mudou, como cada vez mais intensifica essa sua vertente.
Aliás, convém recordar que é assim desde sempre. Em 1973, por exemplo, cismou de ir para Cuba. É bem verdade que muitos brasileiros visitavam a ilha da Revolução, mas nenhum deles vivia no Brasil: eram exilados ou expatriados. Fernando moveu mundos e fundos, até que, depois de dois anos de insistência sem trégua nem pausa, conseguiu. Foi o primeiro repórter brasileiro desde a instalação da ditadura, em 1964, a visitar Cuba, voltar e contar o que havia visto. Seu livro ‘A Ilha’ apareceu em 1976 e se tornou ponto de referência. Um ano depois ele entrevistou Fidel Castro. De novo, o primeiro repórter brasileiro a ser recebido pelo líder cubano.
Aliás, convém recordar que é assim desde sempre. Em 1973, por exemplo, cismou de ir para Cuba. É bem verdade que muitos brasileiros visitavam a ilha da Revolução, mas nenhum deles vivia no Brasil: eram exilados ou expatriados. Fernando moveu mundos e fundos, até que, depois de dois anos de insistência sem trégua nem pausa, conseguiu. Foi o primeiro repórter brasileiro desde a instalação da ditadura, em 1964, a visitar Cuba, voltar e contar o que havia visto. Seu livro ‘A Ilha’ apareceu em 1976 e se tornou ponto de referência. Um ano depois ele entrevistou Fidel Castro. De novo, o primeiro repórter brasileiro a ser recebido pelo líder cubano.
De lá para cá, suas reincidências foram se acumulando. Cismou com Olga Benário, depois com Assis Chateaubriand, revelou o drama dos japoneses que se negavam a aceitar o fim da II Guerra, contou a história de uma agência de publicidade que marcou época, mergulhou na vida de um marechal do ar, Casemiro Montenegro, que revolucionou a pesquisa tecnológica e o ensino da engenharia no Brasil, desvendou a vida de um personagem meticulosamente construído para se tornar famoso escrevendo livros – enfim, navegou por águas de diferentes densidades e profundidades sem jamais perder o rumo.
Num certo dia de 1998, Fernando estava dentro de um táxi, no trânsito infernal de São Paulo, quando seu radar disparou sinais de alarma: ouviu pelo rádio a notícia da prisão, nos Estados Unidos, de dez agentes cubanos de inteligência. Pouco depois viajou para Cuba, e tentou escarafunchar o assunto. Em vão: o assunto era segredo de Estado. Não fosse o obcecado que é, ele teria esquecido a história. Foi preciso que se passassem dez anos para que os cubanos aceitassem abrir o jogo. E quando aceitaram, o jogo foi aberto de verdade. Graças aos contatos construídos e mantidos ao longo de quase quarenta anos, Fernando Morais teve acesso à mais incrível documentação sobre o trabalho dos agentes de inteligência de Cuba, cuja ação supera a imaginação do mais delirante dos autores de livros de espionagem. Foram dezenas de viagens para entrevistas e leitura de documentação altamente secreta, de conversas com terroristas mercenários presos e condenados em Cuba e com agentes do FBI nos Estados Unidos.
Além da formidável história da rede de agentes cubanos infiltrados entre os grupos terroristas baseados na Flórida, Os últimos soldados da Guerra Fria desvenda a impressionante ousadia com que atuam os grupos radicais que partem do território dos Estados Unidos para realizar ações em Cuba. Foram quase 130 ataques terroristas em cinco anos, um tema que a grande imprensa prefere deixar de lado. O vasto e eletrizante rosário de histórias que Fernando Morais desfia ao longo de Os últimos soldados da Guerra Fria faz do livro um registro esclarecedor de parte do drama vivido pela população de uma pequena ilha que teima em ser altiva – justamente a parte que costuma ser ignorada por quem adora criticar o seu duro cotidiano.
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