Por Célio Martins no Gazeta do Povo
Se há uma coisa que todo cubano tem orgulho são as conquistas de seus
atletas. Não é para menos. O pequeno país ganhou 72 medalhas de ouro em
Jogos Olímpicos. Pode parecer pouco, mas quando comparado com o Brasil,
que tem 23, e o Chile, que conquistou apenas dois ouros, é possível
estabelecer um parâmetro do sucesso da ilha.
Mas o que poderia ser unicamente motivo de comemoração tem também o
seu lado controverso. Nos últimos anos mais e mais atletas deixaram a
pátria em busca de fortuna e fama no exterior – em Cuba os atletas
ganham o mesmo que qualquer trabalhador, não mais que R$ 60 por mês.
“Trabalhamos duro para formar nossos atletas, mas muitos se casam no
exterior, deixam o país durante competições e não voltam mais”, lamenta o
técnico da seleção cubana de voleibol masculino, Orlando Samuel.
As deserções atingem os esportes em que Cuba mais se destaca, como
beisebol, boxe, ginástica, atletismo e lutas. Até o Brasil já foi
envolvido no drama do abandono de estrelas do esporte cubano.
Os boxeadores Guillermo Rigoundeaux e Erislandy Lara deixaram a
delegação cubana durante o Pan 2007, no Rio de Janeiro. Na época, o
governo acusou empresários de ganância e assédio aos atletas. Do outro
lado, empresários reclamam que as autoridades cubanas não aceitam vender
o passe de seus atletas.
Para boa parte da população, a ida para outro país significa traição.
E o governo não apresenta alternativa; quem sai não pode voltar. A
perda é dupla: a sociedade não recebe retorno do investimento que fez
nos campeões que vão embora e o país não pode contar com os talentos
desertores em competições futuras.
O modelo
O sistema que transformou Cuba em potência esportiva tem nas escolas
primárias a sua base. É o que o Instituto Nacional de Desportes,
Educação Física e Recreação (Inder) chama de massificação esportiva.
Desde os primeiros anos escolares os alunos que se destacam começam a
ser selecionados e encaminhados para as competições. As Olimpíadas
Escolares criam as condições para que os melhores mostrem os seus
talentos. Depois dessa fase, os destaques entram para o grupo de atletas
de alto rendimento, quando são preparados para as disputas
internacionais.
A tática do jogo se complementa com uma série de instituições de
apoio, como indústria de fabricação de vestuário e equipamentos
esportivos e institutos para pesquisa.
Outros problemas além da perda de talentos? Faltam recursos para
melhorar a infraestrutura, remunerar melhor os atletas e importar
equipamentos para as mais variadas modalidades, como esgrima e tiro.
“Não se pode estabilizar um grupo para as competições.”
Entrevista com Orlando Samuel, técnico da Seleção Cubana de Voleibol Masculino.
Como Cuba conseguiu atingir esse nível de excelência?
O apoio do poder público, desde a escola, e o esforço e dedicação de
treinadores e atletas são fundamentais. O trabalho visando o longo prazo
também é decisivo.
E qual é o principal problema?
A perda de atletas. A sociedade investe, nós trabalhamos firme
para formar a meninada e depois eles vão para outros países. É a
sociedade cubana quem perde com isso por que não tem nenhum retorno.
Quais são as consequências imediatas da perda de atletas?
Não se pode estabilizar um grupo para as competições. Não há
continuidade. Na seleção de voleibol masculino, por exemplo, eu tenho
hoje apenas dois dos atletas que disputaram o Mundial de 2010.
Em relação ao Brasil, só vale a rivalidade?
Buscamos maior relacionamento com o esporte brasileiro. O Brasil pode
nos dar grande contribuição no futebol. Devemos ampliar a troca de
experiências. Os dois países sairão ganhando.
Beisebol, uma paixão nacional
Em Cuba, domingo à tarde é dia de ir ao estádio. Mas não para ver
futebol. O nome do jogo é beisebol. Os ingressos para os jogos custam R$
0,08.
Não existem ligas profissionais no país. Todos os ídolos do esporte
nacional são amadores. Mas mesmo assim, o desempenho dos jogadores faz
inveja a qualquer país.
A seleção cubana de beisebol é a primeira no ranking mundial da
modalidade. São 25 títulos mundiais, contra apenas 3 dos EUA e 3 da
Venezuela, os segundo e terceiro colocados respectivamente.
Nos Jogos Olímpicos não é diferente. Das cinco competições disputadas
desde que o beisebol estreou em Olimpíada, em 1992, Cuba ganhou três.
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