Crédito: Célio Martins/ Gazeta do Povo |
A disputa entre o governo brasileiro e o Conselho Federal de Medicina (CFM) envolvendo a vinda de médicos estrangeiros para o Brasil é apenas um dos pontos polêmicos relacionados ao exercício da profissão no país. Outra questão que vem causando controvérsias diz respeito aos estudantes que estão no exterior, entre eles o grupo de 594 jovens brasileiros que atualmente estudam na Escola Latino-americana de Medicina (ELAM), em Cuba.
Vídeo: Brasileiros buscam em Cuba o sonho de ser médico
A preocupação desses jovens é com a integração ao sistema de saúde no Brasil quando estiverem formados. Muitos reclamam de corporativismo por parte do CFM, ao exigir deles um exame que não é aplicado aos formados no Brasil.
“Outros países que têm estudantes aqui procuraram criar condições
para que seus novos médicos possam prestar serviços em sua terra natal,
ajudar o seu povo. No Brasil só dificultam”, diz Gustavo de Paulo, de
Brasília.
Paulo Vítor, da Bahia, diz que há protecionismo a quem estuda nas
escolas brasileiras. “Porque o governo não discute com a Elam uma forma
de nos integrar ao sistema de saúde no Brasil?”, questiona.
O CFM diz que não há discriminação nem corporativismo. “A legislação é
clara. Para trabalhar no Brasil qualquer médico de outro país precisa
fazer o Revalida, que é um exame de conhecimentos básicos. Os estudantes
brasileiros em Cuba precisam estudar mais para passar. Dado o baixo
nível de aprovação no Revalida, acho que eles não estão estudando”, diz
Gerson Zafalon Martins, segundo secretário do CFM, morador em Curitiba.
Martins afirma que o CFM não está impedindo ninguém de trabalhar,
seja dos EUA, Espanha ou Cuba. “Temos problemas não só com os estudantes
vindos de Cuba, mas também da Bolívia, do Paraguai e de outros países”,
acrescenta ao admitir que se o Revalida fosse aplicado a formados nas
escolas brasileiras, provavelmente muitos não seriam aprovados.
Indicação
Todos os estudantes da Elam conseguiram vaga por meio da indicação de
organizações do movimento social, como MST e Movimento de Luta pela
Moradia, entidades religiosas, partidos políticos e outras organizações
da sociedade civil.
Além de ter estudado em escola pública, o candidato não pode ter mais
de 25 anos e estar com suas obrigações eleitorais em dia. Os estudantes
recebem material escolar, alimentação, moradia, assistência médica e um
salário mínimo de ajuda, em torno de R$ 38 por mês. Antes de ingressar
no curso de Medicina, com duração de 6 anos, eles passam um ano
estudando ciências básicas e espanhol.
A Elam tem hoje cerca de 14 mil estudantes de 128 países, incluindo
87 dos Estados Unidos. Até agora, 489 brasileiros se formaram médico
pela instituição.
“Defendemos as leis de cada país, mas há muitas formas de integração”
Entrevista com Yoandra Muro Valle, vice-reitora da Faculdade Latino-americana de Medicina.
Quais os principais problemas enfrentados pelos alunos da faculdade?
A integração dos novos médicos em seus países é um problema que nos preocupa. No Brasil, por exemplo, está em debate formas de integrá-los à comunidade médica. Entendemos e defendemos que a legislação de cada país deve ser respeitada, mas há muitas medidas que podem ser tomadas para avançarmos nessa integração. Todos temos a ganhar.
E internamente, como é gerenciar uma instituição com estudantes de países tão diferentes?
É como cuidar de uma grande família, com tudo que implica a educação de jovens e adolescentes. Procuramos aqui dar o suporte aos jovens como se eles estivessem em suas próprias casas. São todos nossos filhos e precisamos zelar para o bem de todos eles.
Como definir os objetivos da Escola Latino-americana de Medicina?
Nossa missão é formar médicos com base na ciência e na consciência. Procuramos formar profissionais com competência e que coloquem a saúde da população acima dos interesses mercantilistas, que nunca vão deixar uma pessoa carente de recursos financeiros sem atendimento.
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