segunda-feira, 27 de maio de 2013

Preconceito com Cuba!

Por Zeca Dirceu*
Fonte: BRASIL 247 
O Brasil tem hoje um déficit de 168.424 médicos, e o Ministério da Saúde quer alcançar a meta de 2,7 médicos por mil habitantes, a mesma proporção do Reino Unido
O anúncio feito recentemente pela presidente Dilma sobre a possível vinda de 6 mil médicos estrangeiros para trabalhar em áreas absolutamente carentes desses profissionais foi recebido negativamente pelo Conselho Federal de Medicina.

O governo pretende tomar a medida diante de uma dura realidade: o Brasil tem hoje um déficit de 168.424 médicos, e o Ministério da Saúde quer alcançar a meta de 2,7 médicos por mil habitantes, a mesma proporção do Reino Unido, que, depois do Brasil, tem o maior sistema público de saúde orientado pela atenção básica do mundo.


Contamos atualmente com 1,8 médico para cada grupo de mil habitantes, número inferior a países como Argentina (3,2), Espanha e Portugal (4).

Um estudo realizado pelo Ipea apontou que 58,1% das pessoas destacam a falta de médicos como principal problema do SUS.

O mercado brasileiro oferece muitas possibilidades, o que faz com que os médicos optem por não trabalhar na atenção básica, e principalmente queiram permanecer nos grandes centros. Dos 371.788 médicos brasileiros, 260.251 estão nas regiões Sul e Sudeste. Nos anos de 2009 e 2010, foram criadas 19.361 vagas de primeiro emprego para médicos, sendo que, no mesmo período, foram graduados 13 mil profissionais, o que nos leva a concluir que boa parte dos egressos já tem pelo menos dois empregos formais no primeiro ano de trabalho.

Fui prefeito de Cruzeiro do Oeste, no Paraná e conheço as dificuldades com a falta desses profissionais. As prefeituras oferecem salários muitas vezes fora da realidade dos municípios, e mesmo assim não conseguem preencher as vagas.

A estratégia mais urgente é que o Brasil se baseie em experiências de países que optaram pelo intercâmbio de profissionais estrangeiros como uma alternativa. Na Inglaterra, 40% dos profissionais foram atraídos de outros países. Os EUA contam com 25% de médicos estrangeiros, e o Canadá, com 22%. O Brasil estuda parcerias com diversos países, entre eles Portugal e Cuba.

Embora as entidades médicas tenham adotado uma postura defensiva e preconceituosa diante da possível vinda de médicos de Cuba para o Brasil, ao ponto de questionarem a qualidade dos profissionais cubanos, é importante que a sociedade esteja esclarecida a respeito do assunto: Cuba é reconhecida por grandes êxitos na medicina e tem 6,7 médicos por mil habitantes.

Segundo o “New England Journal of Medicine”, “o sistema de saúde cubano parece irreal. Há muitos médicos. Todo mundo tem um médico de família. Tudo é gratuito, totalmente gratuito. Apesar do fato de que Cuba dispõe de recursos limitados, seu sistema de saúde resolveu problemas que o nosso [dos EUA] não conseguiu resolver ainda. Cuba dispõe agora do dobro de médicos por habitante do que os EUA”.

Não é momento para reações corporativistas e preconceituosas.

(*)-Deputado federal (PT-PR) e vice-líder do partido na Câmara.

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