Por Luciana Araujo direto de São Paulo para o site Opera Mundi
Em dia de lembrança pelos 58 anos da tomada do Quartel de Moncada, em Santiago de Cuba, o cônsul cubano em São Paulo, Aldo Fidel Cruces Amaro, e Carlos ‘Calica’ Ferrer (foto), amigo de infância de Che Guevara, de 82 anos, se reuniram para analisar os feitos dessa data, marco da queda de Fulgêncio Batista e da instituição do socialismo em Cuba. O evento, organizado pelo Movimento Paulista de Solidariedade a Cuba, aconteceu nesta última terça-feira (26/07) no auditório do Sindicato dos Jornalistas.
Para Ferrer, “graças à revolução vivemos na América Latina outros ares que não os da época do Plano Condor [operação articulada pelas ditaduras do continente para exterminar opositores aos regimes], quando todos os povos estavam presos a um capataz comandado pelos Estados Unidos”. Segundo o argentino, “Lula, Dilma, [Néstor] Kirchner, Cristina, Chávez etc, todos os movimentos novos na América Latina, devem à revolução cubana.”
Para Ferrer, “graças à revolução vivemos na América Latina outros ares que não os da época do Plano Condor [operação articulada pelas ditaduras do continente para exterminar opositores aos regimes], quando todos os povos estavam presos a um capataz comandado pelos Estados Unidos”. Segundo o argentino, “Lula, Dilma, [Néstor] Kirchner, Cristina, Chávez etc, todos os movimentos novos na América Latina, devem à revolução cubana.”
Infelizmente, afirmou Ferrer, a imagem do colega, Che, funciona hoje como uma arma comercial. “A começar pelas camisetas e alguns filmes, à exceção de Diários de Motocicleta e Che, com Benício Del Toro, que são muito respeitosos”. Mas lembrou que mesmo a utilização distorcida da figura do líder revolucionário deriva do peso histórico da trajetória de Guevara, que seus inimigos não conseguem sepultar.
Em 26 de julho de 1953, Ferrer e o recém formado médico Ernesto Guevara de La Serna estavam na Bolívia, em meio à segunda “expedição” latino-americana empreendida pelo futuro integrante da revolução cubana. No ano da tomada de Moncada, Carlos e Ernesto, então com 24 e 25 anos, iniciaram a viagem que, na opinião de Carlos, fez do amigo o “Che”.
Em 2005, Ferrer publicou o livro De Ernesto a Che: a segunda e última viagem de Guevara pela América Latina, no qual relata a aventura que reforçou no amigo a necessidade de se dedicar à ação política para mudar o mundo e combater as desigualdades sociais. Recentemente, o cineasta argentino residente no Brasil Carlos Pronzato lançou o documentário Carlos ‘Calica’ Ferrer, a última viagem de Ernesto Guevara pela América Latina (40 min./2011), sobre a experiência a partir de depoimentos de Ferrer.
Mudanças em Cuba
Antes de ontem, na cidade cubana de Ciego de Ávila, o vice-presidente do país, José Ramón Machado Ventura, falou sobre as reformas em curso no modelo econômico e no sistema político da ilha durante as comemorações do 26 de julho. As mudanças aprovadas no último Congresso do Partido Comunista Cubano e incluem a limitação de mandatos eletivos, a demissão de 500 mil funcionários públicos e a autorização para a abertura de negócios em regime de cooperativa na agricultura, transportes, construção civil e alguns setores de serviços.
Segundo o cônsul cubano em São Paulo, “tratamos de manter os princípios da revolução que se constrói há mais de 50 anos, sem medo de reconhecer que podemos ter cometido erros, porque esta é a única forma seguir com a revolução”. E disse ainda que as mudanças respondem às mudanças do mundo. “Não podemos pensar que no século XXI a revolução possa ser feita da mesma forma que se fez em 1959”, afirmou.
O diplomata acrescentou que o governo cubano não teme as críticas que vem sofrendo em razão das reformas. “Algumas pessoas falam que queremos fazer um capitalismo diferente, seguindo o modelo chinês ou da antiga União Soviética, mas sabemos que o triunfo da revolução só será possível se conseguirmos êxito no modelo cubano”.
O diplomata afirmou ainda que “Cuba não pode renunciar às posições antiimperialistas porque o imperialismo, não só o norte-americano, é inimigo não só de Cuba, mas de todos os povos”, e mencionou a ditadura militar no Brasil como exemplo disso.
Os Cinco e o bloqueio
Durante a manifestação foram lembrados os cinco cubanos presos nos EUA desde 1998. Gerardo Hernández, René González, Antonio Guerrero, Ramon Labañino e Fernando González foram condenados a penas que vão de 15 anos a prisão perpétua. Cuba questiona diversos erros processuais e considera os presos como heróis do país.
Também foi ressaltada a manutenção do bloqueio econômico imposto ao país pelos sucessivos governos norte-americanos desde 1961. Segundo os presentes, o atual presidente, Barack Obama, prometeu rever o embargo, mas não avançou.
Na semana passada, o Comitê de Relações Exteriores da Câmara de Representantes dos EUA aprovou uma emenda restabelecendo as restrições de viagens e remessas financeiras à ilha. A mudança era a mais significativa na relação entre os dois países e passou a vigorar em 19 de janeiro de 2009 possibilitando uma visita de cubanos-americanos ao país a cada três anos e o envio limitado de dinheiro a familiares.
A emenda ainda precisa ser discutida e votada no Congresso mas, diante da crise econômica norte-americana, a expectativa dos parlamentares republicanos e democratas que apóiam a proposta é a de que a retomada dos padrões originais do bloqueio se dê mais facilmente.
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