Manifestação de apoio ao governo socialista de Raúl Castro | Foto: Granma |
Por Valter Pomar na revista Teoria e Debate
Entre 28 de abril e 1º de maio de 2013, uma delegação do Partido
dos Trabalhadores visitou Havana, em Cuba. O grupo foi composto por Rui
Falcão, presidente nacional do PT; Iriny Lopes, secretária de Relações
Internacionais; João Vaccari, secretário de Finanças; José Guimarães,
líder do partido na Câmara dos Deputados; Ângela Portela, senadora;
Francisco Campos e Valter Pomar, integrantes do Diretório Nacional.
A programação incluiu entrevistas aos meios de comunicação; reuniões com integrantes do Comitê Central do Partido Comunista, entre os quais José Ramon Balaguer e Machado Ventura; contatos com integrantes do governo e do Parlamento, entre os quais Marcelino Medina, vice-ministro do Ministério de Relações Exteriores, Ana María Mari Machado, vice-presidenta da Assembleia Nacional do Poder Popular, Marino Murillo Jorge, vice-presidente do Conselho de Ministros, Kenia Serrano, deputada e presidenta do Instituto Cubano de Amizade com os Povos (Icap), além de Miguel Mario Díaz-Canell, membro do Buró Político del Comité Central del Partido Comunista de Cuba e primeiro vice-presidente do Conselho de Estado e do Conselho de Ministros da República de Cuba.
A delegação também participou do V Encontro de Petistas e Núcleos do PT no Exterior; manteve contato com a Agência de Promoção das Exportações do Brasil (Apex) em Cuba e com o embaixador do Brasil no país, José Eduardo Martins Felicio; participou da reunião do Grupo de Trabalho do Foro de São Paulo, realizou um intercâmbio com familiares dos cubanos presos nos Estados Unidos e esteve na comemoração do Dia Internacional dos Trabalhadores.
A programação incluiu entrevistas aos meios de comunicação; reuniões com integrantes do Comitê Central do Partido Comunista, entre os quais José Ramon Balaguer e Machado Ventura; contatos com integrantes do governo e do Parlamento, entre os quais Marcelino Medina, vice-ministro do Ministério de Relações Exteriores, Ana María Mari Machado, vice-presidenta da Assembleia Nacional do Poder Popular, Marino Murillo Jorge, vice-presidente do Conselho de Ministros, Kenia Serrano, deputada e presidenta do Instituto Cubano de Amizade com os Povos (Icap), além de Miguel Mario Díaz-Canell, membro do Buró Político del Comité Central del Partido Comunista de Cuba e primeiro vice-presidente do Conselho de Estado e do Conselho de Ministros da República de Cuba.
A delegação também participou do V Encontro de Petistas e Núcleos do PT no Exterior; manteve contato com a Agência de Promoção das Exportações do Brasil (Apex) em Cuba e com o embaixador do Brasil no país, José Eduardo Martins Felicio; participou da reunião do Grupo de Trabalho do Foro de São Paulo, realizou um intercâmbio com familiares dos cubanos presos nos Estados Unidos e esteve na comemoração do Dia Internacional dos Trabalhadores.
De abril de 1961 até hoje, Cuba busca construir o
socialismo. Numa primeira etapa, tentou um caminho próprio, do ponto de
vista tanto político quanto econômico. Simbolicamente, essa etapa
“experimental” pode dar-se por finda em 8 de outubro de 1967, quando Che
Guevara foi assassinado na Bolívia. Naquele momento ficou claro que,
pelo menos temporariamente, estava encerrado um ciclo revolucionário
latino-americano e caribenho, obrigando Cuba a depender do apoio
soviético mais do que os cubanos certamente gostariam.
Numa segunda
etapa, a transição socialista em Cuba tornou-se altamente dependente do
modelo soviético. E, por decisão unilateral no período Gorbachev, essa
etapa foi interrompida de maneira abrupta com a dissolução da URSS, em
1991.
Entre 1989 e 1991, entre a dissolução dos regimes
socialistas no Leste Europeu e o fim da URSS, as exportações cubanas se
reduziram em 62% e as importações caíram pela metade.
Ao mesmo
tempo, os Estados Unidos ampliaram o bloqueio e todo tipo de sabotagem
contra a ilha, na expectativa de que Cuba tivesse o mesmo destino dos
regimes dirigidos pelos partidos comunistas do Leste Europeu.
Durante
essa terceira etapa, há um forte debate sobre como sobreviver e
prosseguir socialista, nas terríveis condições dos anos 1990, com
unilateralismo, neoliberalismo e colapso do socialismo.
O
problema de fundo enfrentado por Cuba é clássico: uma revolução num país
de baixo desenvolvimento capitalista, cercado e hostilizado pelo
imperialismo, só pode realizar uma transição socialista exitosa se
contar com apoio externo e/ou achar maneiras próprias de desenvolver sua
capacidade econômica, suas forças produtivas.
O apoio externo,
proveniente da União Soviética, entre 1961 e 1991, permitiu a Cuba
manter um padrão de vida superior à sua própria capacidade produtiva. O
desaparecimento da URSS obrigou a superestrutura cubana a depender de
uma economia marcada por fortes limitações.
Cuba foi colocada
diante da necessidade de substituir as importações baratas, oriundas
principalmente da URSS e do Leste Europeu, por produção nacional e/ou
importações caras vindas do mundo capitalista, alternativa que implicava
gerar divisas em moeda estrangeira, para pagar as importações.
No
curtíssimo prazo, as receitas (em moeda conversível) necessárias para
isso vieram em parte do turismo, em parte de exportações. Mas,
especialmente no contexto do bloqueio, o total arrecadado não era
suficiente para financiar o funcionamento geral da economia, as
políticas públicas e os salários bancados pelo Estado, o que foi gerando
um crescente déficit.
Cuba segue, hoje, diante da necessidade de garantir segurança alimentar, autonomia energética e industrial.
Ao
longo da terceira etapa (1991-2013), o governo cubano experimentou três
políticas distintas. A primeira ficou conhecida como “período
especial”, em que foi adotada uma “economia de guerra em período de
paz”. O segundo tipo de política foi adotado quando teve início o ciclo
de vitórias eleitorais das forças progressistas e de esquerda na América
Latina e Caribe. E o terceiro começa depois que Raúl Castro assume o
governo, devido ao afastamento de Fidel, por motivos de saúde.
A política atual está descrita num documento chamado "Lineamientos para la Política Económica y Social del Partido y la Revolución", um conjunto de orientações aprovadas pelo VI Congresso do Partido Comunista de Cuba, em 2011.
Tendo como objetivo construir um “socialismo próspero y sostenible”, os “Lineamientos” reafirmam a propriedade social dos meios de produção fundamentais e falam em “atualização do modelo”.
A leitura dos “Lineamientos”
e as ações práticas decorrentes não constituem, entretanto, uma mera
“atualização”, mas sim o abandono de um determinado “modelo” de
construção do socialismo, baseado na quase exclusiva propriedade estatal
dos meios de produção, em favor de um caminho que, para desenvolver as
forças produtivas indispensáveis ao socialismo, apela para diferentes
formas de propriedade privada e relações de mercado.
Esse
caminho, na medida em que busca dar uso produtivo para a capacidade de
trabalho de amplos setores da população cubana, também implica legalizar
e em alguns casos ampliar a desigualdade social – o que tanto resolve
velhos problemas como cria outros.
As reformas (termo mais
adequado que “atualização do modelo”) geram polêmicas. De um lado, a
direita não gosta da reafirmação do socialismo nem da manutenção do
Partido Comunista no comando do Estado: Raúl Castro deixou claro que não
foi eleito para fazer Cuba voltar a ser capitalista. De outro, setores
de esquerda não apreciam as “concessões ao capitalismo”, além dos que
defendem maior debate e democracia popular para acompanhar o processo de
reformas, inclusive para tratar das citadas desigualdades.
Além
dessas polêmicas, há a conjuntura internacional e latino-americana. O
resultado da eleição venezuelana de 14 de abril mostra, entre outras
coisas, os riscos embutidos em qualquer dependência. Há o fator Estados
Unidos, que mantêm o bloqueio, embora seu almejado fim contenha também
perigos: uma invasão de dólares. Além disso, há as dificuldades em si do
processo de reformas, entre as quais aquelas derivadas de mais de
cinquenta anos de poder, com suas conquistas, mas também com suas
debilidades, sentidas com muita força pelas gerações mais recentes.
Essas
dificuldades exigem manter e aprofundar nossas relações com Cuba. Claro
que as reformas na ilha abrem espaço para negócios que interessam a
setores empresariais. Claro, também, que o fortalecimento de Cuba
interessa à política de integração regional, que de fato constitui uma
política de Estado, para além da esquerda. Mas, no caso específico do
Partido dos Trabalhadores e de outros setores da esquerda brasileira, a
decisão de manter e aprofundar as relações com o país incluem motivações
de outra natureza.
Cuba é um dos pontos altos da luta anti-imperialista, pela soberania
nacional, contra a ingerência externa, e essa luta nos diz respeito.
Cuba constitui a primeira tentativa de construir um país socialista na
nossa região do mundo, e essa luta também nos diz respeito. Portanto, o
sucesso de Cuba é, pelo menos em alguma medida, também nosso sucesso.
Vale dizer que o governo cubano e o Partido Comunista apreciam tremendamente as relações com o governo Dilma e o apoio constante do PT. A recíproca é e deve continuar verdadeira.
Valter Pomar é membro do Diretório Nacional do PT e secretário executivo do Foro de São Paulo.
Vale dizer que o governo cubano e o Partido Comunista apreciam tremendamente as relações com o governo Dilma e o apoio constante do PT. A recíproca é e deve continuar verdadeira.
Valter Pomar é membro do Diretório Nacional do PT e secretário executivo do Foro de São Paulo.
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