Por Hermann Hoffman na Página 13
No Brasil, os cartazes ilustram diariamente uma situação que não
queríamos que fosse verdade: Não temos médicos para o atendimento. No
tatame, o Governo versus Conselho Federal de Medicina (CFM).
A dor da indignação supera a dor física naqueles que necessitam dos
serviços médicos no Sistema Único de Saúde (SUS). Muitas vezes por um
simples problema, outras, por está ante a situação mais difícil de ser
enfrentada: a morte aproximando-se pela falta de assistência médica. Os
pacientes, sem o atendimento adequado, são entregues a própria sorte,
restando apenas a esperança de encontrar algum alívio mediante o auxílio
dado por enfermeiros,técnicos e agentes comunitários.
A pregunta que a sociedade faz frente tal situação, é: Cadê o médico?
A resposta nem sempre é tão fácil e pequena como a pergunta. O médico
não está porque sempre chega atrasado à unidade de saúde, pois tem três
locais de trabalho, (quase 30% dos médicos brasileiros possuem quatro ou
mais empregos e o tempo fica curto, é necessário inventar um dia de 48
horas), ou pior, porque simplesmente não existem médicos que ofereçam
cobertura assistencial nas áreas de difícil provimento.
Na busca de uma solução, aqueles quem logicamentedeveriam ser
aliados a esta luta de alta prioridade no Brasil, são os principais que
impõem freios e fazem a oposição aos propósitos do Governo Federal.
A batalha já é épica. Por um lado o Conselho Federal de Medicina,
defendendo a proposta desumana e irresponsável, que o Brasil não
necessita de mais médicos e assim criando obstáculos para registrar
novos profissionais formados no exterior. Por outro, o Governo Federal,
que há poucos dias anunciou que irá contratar mais de 6 mil médicos
cubanos para trabalharem no Brasil, como também a disposição para
aumentar o número das escolas de medicina no país e humanizar a
revalidação dos diplomas de milhares de brasileiros que estudam em
países como Argentina, Bolívia y Cuba.
Mais cédulas verdes dos que células vivas
Ainda não completaram seis meses da publicação de dois estudos do CFM
em parceria com o Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp).
As pesquisas se tratam da “demografia médica no Brasil”, e revelam
situações absurdas que conspiram contra o próprio colégio médico, quando
foi ineficiente para regular a distribuição médica no Brasil e agora
culpa o Governo. Somando-se a tudo, o CFM também tem promovido atos
públicos, com parlamentares e profissionais da saúde, contra a entrada
dos médicos de outros países.
A recente nota do CFM contra a entrada de médicos
estrangeiros, afirma que as entidades médicas envidarão todos os
esforços possíveis e necessários, inclusive as medidas jurídicas
cabíveis para evitar que o Governo concretize o convênio para a chegada
dos médicos cubanos no Brasil.
O jogo do colégio médico é de marcado interesse e agressividade, onde
valem mais as cédulas verdes (dólares) que as células vivas (vida).
O tiro saiu pela culatra
Segundo estudos, em 2011 o Brasil tinha menos de 2médicos para cada
mil habitantes, somente em 2021 chegará próximo a (2,5). Em 2050,
baseado em projeções, teremos 4,3 médicos por 1.000. Ora, diante de uma
realidade como esta, devemos esperar quase 8 anos para ter menos de 3
médicos por 1.000 ?
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização
Pan-americana da Saúde (Opas), esta última que apoia a entrada no Brasil
de médicos cubanos, nossa vizinha, a Argentina, em 2005, possui mais
de 3 médicos por 1.000 habitantes, quantidade que o Brasil somente
alcançará em 2031 neste ritmo. Já Cuba, a título de comparação, ainda em
2008 ostentava quase 7 médicos por 1.000 habitantes.
É confiando na legitimidade dos números apresentados pelo CFM,
“demografia médica no Brasil”, que não vem a ser uma crença, o que os
setores da gestão governamental defendem: aumentando do número total de
médicos em atividade e saúde irá melhorar.
Distorção na distribuição
Quando já é certo que necessitamos de mais médicos, é igualmente correto que a distribuição geográfica deve ser justa.
Em 2011, dos quase 372 mil médicos registrados no Brasil,
aproximadamente 209 mil estavam concentrados na Região Sudeste, e pouco
mais de 15 mil na Região Norte, o cenário fiel da péssima distribuição
no território nacional.
Por parte do Governo Federal estão sendoimplementadas iniciativas que
visam melhorar tal situação distributiva. Uma delas é o Programa de
Valorização do Profissional da Atenção Básica (Provab), lançado
recentemente pelo Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e que promoverá a
atuação de mais de 4.000 médicos nos serviços da Atenção Primária,
beneficiando a população de 1.407 municípios do Brasil.
Outra iniciativa, que está sendo criminalizada pelo CFM, é a ótima
proposta do Senador Cristóvão Buarque. Que os médicos brasileiros
formados nas universidadespúblicas brasileiras trabalhem 2 anos em
pequenos municípios carentes para que o seus registros médicos sejam
reconhecidos. Seria uma forma de melhorar o atendimento onde muitos
médicos não querem se fixar.
E agora?
Reduzir o caos da saúde pública no Brasil somente a desigual
distribuição dos médicos e a questão do precário financiamento (sabemos
que não é possível fazer mais com menos) é tornar o problema
superficial, no afã de converter-se em vítima.
Uma coisa é certa! É necessário urgência para a resolução deste
flagelo, que seja num ambiente tranquilo, sem que os burocratas do CFM
convertam a tal situação numa arena de mais agressão, típico deles.
Clamamos para que o CFM baixe a guarda, assuma sua posição e respeite
a decisão do Governo Federal de melhorar a saúde dos brasileiros
aumentando o número total de médicos a partir da cooperação
internacional.
Confiamos na vontade do Governo de nosso país e em um amanhã com
saúde para todos, e dizemos em voz alta: bem vindos sejam os médicos
cubanos e de todas as partes, desde que ajudem a melhorar a saúde
dos
brasileiros.
Hermann Hoffman, sergipano, acadêmico do 5° ano de Medicina. Membro do Núcleo Internacional do PT em Cuba.
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