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quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Nunca o Brasil correu tanto risco de se transformar em uma Cuba

Fulgencio Batista deu um golpe de estado em 52 e governou Cuba até ser derrubada pela Revolução Popular de 59
Por Florestan Fernandes Jr. para o Jornalistas pela Democracia 

A cada dia que passa ficam mais claras as semelhanças entre o governo do capitão e dos ditadores da América Central alçados ao poder no século passado pelo serviço de inteligência norte-americano. Entre estes estão os Somozas, na Nicarágua, Manuel Noriega, no Panamá, e Fulgencio Batista, em Cuba. 

Todos contaram com apoio incondicional do governo dos Estados Unidos e para ele trabalharam incansavelmente. Um deles, o coronel Fulgencio Batista, chegou a ser presidente eleito antes de se tornar ditador nos anos 1950. Seu governo autoritário suspendeu a Constituição do país, estabeleceu a pena de morte e revogou as liberdades políticas, entre elas o direito de greve. 

Qualquer semelhança com o nosso capitão não é mera coincidência. Os apoiadores de Bolsonaro também defendem abertamente atentados à democracia. Querem, entre outras medidas, que seu líder feche o Congresso e o STF. O próprio filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, chegou a dizer publicamente que para o governo fechar o Supremo bastava um soldado e um cabo. Também como Batista, Bolsonaro conta com apoio dos latifundiários. Em Cuba eles plantavam apenas fumo e cana de açúcar, no Brasil criam gado e plantam soja e algodão.  

Na Cuba de Batista, a economia estagnada ampliou a pobreza, aprofundando ainda mais as desigualdades sociais. Algo que também vem ocorrendo de maneira devastadora em nosso país.  O governo de Batista transferiu para multinacionais americanas o patrimônio e o direito de exploração de propriedades pertencentes ao Estado cubano. 

Algo bem parecido com a privatização em marcha de grandes empresas, como Petrobras e Banco do Brasil, e concessões públicas de aeroportos, portos e ferrovias. Tudo está pronto para ser entregue, até mesmo os santuários da biodiversidade, como a Floresta Amazônica, os Lençóis Maranhenses e o Pantanal.  

No submundo da ditadura cubana pró Estados Unidos os negócios lucrativos estavam nas mãos das máfias em Havana, que dominavam os jogos de azar, a prostituição e o tráfico de drogas. No Brasil de Bolsonaro o submundo do crime é controlado pelas milícias que atuam nas periferias do Rio de Janeiro. Controlam parte do tráfico, a prostituição e os negócios imobiliários clandestinos. 

Alguns estão tão bem de vida que moram no mesmo condomínio do presidente. Outros tinham parentes empregados nos gabinetes dos filhos do capitão.  Bolsonaro não suporta críticas e tem atacado com frequência os jornalistas que cobrem o Planalto. A Secom em sua gestão cortou receitas dos jornais impressos e redirecionou as verbas publicitárias das grandes redes de televisão.  

No poder, Batista impôs censura aos meios de comunicação, perseguiu jornalistas e utilizou o aparelho repressivo para torturar e matar opositores. Tudo no melhor estilo das ditaduras do Cone Sul dos anos 1960/1980, enaltecidas pelo capitão presidente.  Sobre a subserviência de Cuba aos EUA o ex-embaixador americano na ilha, Earl Smith, disse: “Sempre que eu pedia ao presidente Batista o voto de Cuba para apoiar os Estados Unidos nas Nações Unidas, ele instruía seu ministro das Relações Exteriores a que a delegação cubana votasse de acordo com a Delegação dos Estados Unidos e a dar total apoio à delegação americana nas Nações Unidas”.

Bolsonaro inovou. Pretende hoje colocar na Embaixada do Brasil em Whasignton o próprio filho, uma espécie de garoto de recados do governo Trump. Pelo menos em um ponto concordo plenamente com o discurso de Bolsonaro, o Brasil corre mesmo o sério risco de virar uma Cuba: a do coronel Fulgencio Batista.

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