Rodar de moto por Cuba é descobrir um mundo surpreendente ( e apaixonante )
Quando cheguei a Portugal, depois de ter cumprido meu percurso pelos cinco continentes, precisava definir uma rota para voltar para casa. Voltar pelo lado oeste da América do Sul se mostrou uma alternativa interessante, afinal, eu passaria por Cuba, um velho sonho meu – e esta seria minha conexão entre Europa e América do Sul.
Comecei a acionar vários contatos e entidades para definir como eu poderia entrar, rodar com minha moto e, depois, sair de Cuba. As barreiras e dificuldades pareciam confirmar os conselhos que recebi para desistir dessa idéia. Chegaram a me dizer que seria “impossível”, que ninguém teria levado sua própria moto para lá e que eu estaria em “busca de problemas”. Mas a vontade de realizar meu sonho colocou minha moto encaixotada no Terminal de Cargas do Aeroporto de Havana.
NA TERRA DE FIDEL
Começaram, então, minhas peripécias com a Alfândega e o Departamento de Trânsito. Não havia um caso similar e tampouco um procedimento formalmente estabelecido para tratar do meu caso. Foi estipulado, então, um novo procedimento para garantir que eu entrasse e saísse com minha moto. Recebi uma placa provisória e uma autorização temporária de circulação pela ilha. Vale lembrar que, com oficiais me ajudando em um ambiente de colaboração e brincadeiras, percebi que em Cuba tudo seria diferente ( para o bem e para o mal ).
Comecei a acionar vários contatos e entidades para definir como eu poderia entrar, rodar com minha moto e, depois, sair de Cuba. As barreiras e dificuldades pareciam confirmar os conselhos que recebi para desistir dessa idéia. Chegaram a me dizer que seria “impossível”, que ninguém teria levado sua própria moto para lá e que eu estaria em “busca de problemas”. Mas a vontade de realizar meu sonho colocou minha moto encaixotada no Terminal de Cargas do Aeroporto de Havana.
NA TERRA DE FIDEL
Começaram, então, minhas peripécias com a Alfândega e o Departamento de Trânsito. Não havia um caso similar e tampouco um procedimento formalmente estabelecido para tratar do meu caso. Foi estipulado, então, um novo procedimento para garantir que eu entrasse e saísse com minha moto. Recebi uma placa provisória e uma autorização temporária de circulação pela ilha. Vale lembrar que, com oficiais me ajudando em um ambiente de colaboração e brincadeiras, percebi que em Cuba tudo seria diferente ( para o bem e para o mal ).
MOTOS
Em Cuba há muitas motos, principalmente, side-cars. A frota reflete a história do país. A influência norte-americana dos anos 1950 deixou muitas Harley-Davidson por lá. Elas estão impecavelmente conservadas e rodam por Havana. Do mesmo período são algumas raras e lindas motos europeias, como BMW R69, Triumph, Norton e até Matchless. O período pós-revolução e de influência soviética deixou um parque de modelos da Ural, CZs e Jawas, a maioria, em versão side-car. As indestrutíveis motos alemãs orientais MZ também são dessa época.
FOCO DAS ATENÇÕES
Imagine, então, como é rodar por lá com uma BMW GS, toda equipada e “cheia de botõezinhos”? A atração é garantida, no sinal, nas ruas ou estradas. E, como a BMW GS é um dos melhores produtos que a “sociedade de consumo” já produziu, imagine o reflexo disso. Rodando em plena Cuba socialista, poderia ser quase uma provocação, mas, ao final, torna-se um excelente pretexto para longas conversas com os cubanos, que são inteligentes e vivem intensamente a própria história.
GENTE BOA
Os primeiros dias em Havana me foram estranhos. Tudo funciona diferentemente do que conhecemos. E não havia como não tentar entender a vida daquele povo. As relações são fáceis e se estabelecem rapidamente. Não demorou para eu estar com o pessoal em um moto clube local. Reunimo-nos, montamos uma rota para as semanas seguintes e as pessoas das principais cidades foram acionadas. como se não bastasse, veicularam uma reportagem sobre o assunto no rádio. Algumas vezes, quando chegava a um local, alguém se lembrava da notícia, o que facilitava os contatos. Sempre fiquei hospedado em casas de cubanos. Às vezes pagando, às vezes como convidado.
BELAS PARAGENS
Em meio a tudo isso, rumei para Cienfuegos, na costa sul. O lugar tem um charme todo especial pela influência dos colonos franceses do século passado. ali, a arquitetura está preservada, seja nas casas coloniais ( com colunas e varandas no centro ) ou nas antigas mansões à beira-mar. Já na pequena Trinidad, surge o velho estilo colonial espanhol e as ruas estreitas são divididas por turistas estrangeiros e camponeses. À noite, música da melhor qualidade ecoa por todos os lados.
MAIS ESTRADA!
Retomei a estrada em direção ao extremo oriente da ilha. Cheguei a Santiago de Cuba apenas dez dias após o furacão Sandy ter passado por ali. Ventos de até 300km/h arrasaram a área rural, acabando com as plantações e derrubando mais de 10 mil árvores. Obviamente, o abastecimento da cidade foi afetado nos primeiros dias, mas tudo voltou à normalidade. A rede elétrica já fora restabelecida nas casas, mas as ruas ainda estavam às escuras.
TRADIÇÃO MUSICAL
Santiago tem uma pulsação forte e diferente de Havana. É o berço dos maiores mitos da música tradicional cubana. Em pleno dia, na praça da catedral, a Orquestra Municipal faz seu show no mais alto nível técnico, empolgando a todos.
PERCALÇOS
Geralmente, as estradas cubanas são boas e tranquilas. Nas cidades, algumas ruas são esburacadas e as faixas centrais concentram uma incrível quantidade de óleo, devido aos carros e caminhões velhos em circulação. Há gasolina e borracharias por todos os cantos. Os mecânicos cubanos são ótimos e criativos. Minha GS, que nunca teve vazamentos em seus 80.000km, apresentou este problema no motor e no cardã, ao mesmo tempo. O vazamento do motor foi fácil arrumar, mas o do cardã foi na base do “jeitinho”, até que eu chegasse à América do Sul para um reparo definitivo. A polícia cubana me parou várias vezes, mas nunca me pediu os documentos. Sempre foi para saber se precisava de alguma coisa ou para fazer perguntas sobre a moto. Ali, basta respeitar as regras essenciais e andar de luz apagada durante o dia.
CAMAGUEY
Também passei alguns dias em Camaguey e tive uma experiência especial. É uma cidade de porte médio, bem conservada e com um padrão aparentemente acima da média do país. Apesar do agito do comércio local, as pessoas parecem levar a vida sem estresse. No final da tarde, as mesinhas das docerias, bares e casas de xadrez ficam cheias. São famílias ou grupos de amigos jogando conversa fora e apreciando o fim do dia.
PAIXÕES
Além do xadrez e do baseball, outra paixão cubana é tomar um sorvete na Coppelia, ótima sorveteria estatal, com filiais por quase todas as cidades do país. As crianças saem da escola e fazem uma farra gostosa pelas ruas. Uma turminha me provocou para que eu levasse a moto, à noite, na praça, quando todos já teriam jantado e trocado de roupa. E assim o fiz, travando conversas gostosas com a criançada e com alguns de seus pais. Ainda em Camaguey, conheci Peter, um canadense. Este velho motociclista mudou-se para Camaguey, onde comprou uma bela casa. Orgulhoso de sua opção, ele me explicou: “Apesar de não ter acesso aos produtos que costumava comprar em Vancouver, vivo sem nenhuma preocupação, com segurança.”
NOVOS CAMINHOS
No caminho de volta para Havana, parei alguns dias em Remédios, uma pequena cidade no litoral norte, de onde é possível ir até a famosa Ilha Cayo Sta.Maria. rodei quase 3 mil km por Cuba, coheci lugares de beleza ímpar, ouvi música excelente e fui a praias dignas de cartão postal… Mas o melhor de Cuba são os cubanos. Ou, melhor dizendo, a experiência de viver entre eles. Cuba é um país onde as pessoas não sabem o que são problemas de segurança, drogas ou miséria. Deixei Cuba para trás, sabendo que era hora de embarcar para a Colômbia e, de lá, descer a América do Sul, até voltar para casa.
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