Por Bruna Andrade no Blog Memórias Cubanas
Por aqui se ouve muito dizer, pela mídia,
ou por pessoas-que-conhecem-pessoas-que-foram-para-Cuba, que o país
vive sob uma cruel ditadura. Dizem que lá a política é coisa exclusiva
para os altos membros do Partido Comunista Cubano, que para os demais
resta o silêncio e o conformismo. Dizem que as pessoas têm medo de falar
sobre o regime por temerem represálias… Dizem muitas coisas. Vou dizer
também. Mas não o que ouvi, vou dizer o que vi da política em Cuba.
Comitês de Defesa da Revolução
Os Comitês de Defesa da Revolução (CDR’s)
são o que o nome já diz. No entanto, engana-se quem possa pensar que os
CDR’s são organizações militares de defesa armada da Revolução, não que
eles não estejam prontos e dispostos a fazer isso se for preciso. Os
Comitês de Defesa da Revolução são, na verdade, organizações políticas
onde a defesa da revolução acontece no campo das ideias e da
participação.
Precisamente, os CDR’s são organizações
que estão em cada quarteirão de cada bairro de cada município de cada
província do país, e dele fazem parte todos os moradores da quadra que
tenham mais de 14 anos e que desejem participar. É função do CDR, por
exemplo, deliberar sobre as necessidades da comunidade, vigiar para que
não haja crianças sem estudar ou adultos sem trabalhar, escolher o
candidato que vai representar a comunidade nas eleições.
Os CDR’s são a instância do sistema
político cubano onde a população participa diretamente e, de fato,
existe uma grande participação. Andando por Havana, diversas vezes pude
presenciar reuniões desses Comitês, na rua mesmo, em frente à casa do
presidente do CDR. Existe a consciência de que o poder está nas mãos do
povo, e o povo usa o poder que tem. Nas reuniões por que passei havia
sempre cerca de 30, 40 pessoas, desde jovens até idosos. Esse é o número
de pessoas que estavam participando da reunião do CDR da sua quadra,
agora, imagine a expressividade da participação popular se
multiplicarmos isso pelo número de quarteirões de Cuba…
Eleições
Sim, existe eleição em Cuba. E eu tive o
privilégio de acompanhar o pleito do dia 03 de fevereiro, quando foram
eleitos os 612 membros da Assembleia Nacional do Poder Popular e os mais
de 1200 membros das Assembleias Provinciais.
O processo eleitoral cubano é realmente muito diferente do que acontece
no Brasil, a começar pelo lançamento das candidaturas. Uma pessoa não
pode se autoproclamar candidata, ela deve receber tal indicação da sua
comunidade. São os membros dos CDR’s, portanto, que escolhem os
candidatos que, mais tarde, serão votados nas eleições. Um detalhe
muito importante é que não é preciso ser membro do Partido Comunista
Cubano para ser aclamado candidato, basta ser maior de 16 anos e que
essa seja a vontade de seus vizinhos; logo, se a oposição não consegue
ter candidatos não é porque não possa, mas porque os opositores do
regime, que de fato existem, são uma minoria e não são escolhidos como
candidatos pela maioria revolucionária do povo.
Outro ponto fundamental é a campanha eleitoral. Ela é simplesmente a
mesma para todos os candidatos. Não existem cavaletes nas ruas,
santinhos no chão, propaganda em rádio e TV… O que existe é o currículo
dos candidatos, meramente. O que importa não é o candidato com a
campanha mais cara, mais bonita, com as promessas mais mirabolantes,
importa quem é o candidato. Por isso, ficam espalhados pela cidade, em
prédios públicos, escolas, mercados, CDR’s, murais com o perfil de todos
os candidatos, com: nome, idade, escolaridade (a grande maioria com
nível superior), ocupação e um pequeno histórico pessoal e político.
Simples, assim, é a campanha eleitoral.
Quanto às eleições que acompanhei, visitei três colégios eleitorais,
dois em Caimito e um em Guayabal de Caimito. Nos três locais foi tudo
muito tranquilo, chegamos, nos identificamos (estávamos em um grupo de
quatro brasileiros), perguntamos sobre como funcionavam as eleições,
quais eram os cargos em disputa… Acompanhamos as eleições sem nenhuma
burocracia, nos explicaram o processo, nos mostraram as cédulas, os
locais fechados aonde os eleitores vão para anotar seu voto, as urnas.
Nessas cédulas estão os nomes de todos os candidatos, e os votantes
optam por um ou por todos. Nas eleições de 03 de fevereiro, como havia
dois cargos em disputa, eram duas cédulas, cada uma depositada em uma
urna diferente. As urnas são guardadas por crianças do primeiro ao nono
ano, chamadas de Pioneiros de José Martí, que participam das eleições de
forma voluntária. Além disso, os colégios eleitorais são responsáveis
por buscar os votos de idosos e pessoas com dificuldades de locomoção.
Os candidatos são eleitos mediante a maioria dos votos e podem ter seus
mandatos revogados pelo povo a qualquer momento.
A política é realmente uma constante na vida dos cubanos, e ela está
presente nas ruas: através de murais, cartazes, prédios pintados com
temáticas e lemas da Revolução. Fora isso, além dos CDR’s, existe muitas
outras organizações populares de que eles podem fazer parte, como é o
caso da UJC, União de Jovens Comunistas; CTC, Central de Trabalhadores
de Cuba e a FMC, Federação de Mulheres Cubanas.
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