Praça da Revolução em Havana, Cuba | Foto: Shutterstock |
Por Célio Martins no Gazeta do Povo
Entrevista com Jorge Cumberbatch Miguen, especialista para Assuntos Multilaterais do Ministério de Relações Exteriores de Cuba.
É possível listar os setores do país mais prejudicados com o bloqueio?
O bloqueio é o principal obstáculo para o desenvolvimento cubano e afeta todos os setores. Mas, no momento, o setor mais afetado é o das transações financeiras internacionais, basicamente o setor externo do país. Cuba não tem acesso ao crédito das instituições financeiras internacionais. Isso nos obriga a buscar créditos mais caros. Qualquer transação, como comprar um equipamento ou alimentos no exterior, acaba se tornando um problema. Qualquer operação comercial, por mínima que seja, leva a uma transação internacional, e todas essas funcionam por meio de crédito, com bancos financiando a operação. Não temos acesso ao PayPal e outras tecnologias.
O bloqueio afeta as empresas privadas, mas Cuba tem feito negócios...
Há algumas [empresas] que se permitem, devido ao seu tamanho, comercializar com Cuba, sem se importar com o que ocorre. Muitos países têm produzido leis-antídoto contra o bloqueio. O principal é que a opinião pública internacional rechaça essa política.
Há ações práticas para melhorar as relações com os EUA?
Mais de uma vez, o governo cubano ofereceu publicamente a possibilidade de estabelecer um diálogo sério, bilateral, em igualdade de condições, que não afete a soberania de ambos, para falar de temas como o bloqueio até fronteiras, tráfico de pessoas, terrorismo e outros que supostamente são de interesse das partes. A resposta que sempre recebemos é que Cuba teria de mudar [seu sistema político]. A posição é de que temos que mudar nosso sistema para que eles comecem a considerar. Como somos um povo que luta há tantos anos por nossa independência e soberania, não conversamos absolutamente nada.
Como Cuba conseguiu apoio quase unânime da comunidade internacional?
Trata-se de uma política totalmente imoral. Isso é o primeiro ponto que faz a imensa maioria da comunidade internacional não apoiar o bloqueio. O segundo ponto é a pretensão de legislar para terceiros. É dizer: não basta que os cidadãos norte-americanos não possam comprar produtos cubanos; é preciso que terceiros também sejam impedidos. Isso obviamente afeta todos os países.
Como outros países, como o Brasil, também são afetados?
Um produto, por exemplo, precisa ter menos de 10% de componentes cubanos para ser vendido nos EUA. Não basta impedir que os EUA comercializem com Cuba, mas também impedir que terceiros o façam. Multam e pressionam para que não o façam. Significa legislar para terceiros. Se algum país quiser comprar algo cubano não poderá usar dólares, mas outra divisa.
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