Por João Batista Damasceno no O DIA
Rio - A exaltação pela mídia da blogueira cubana Yoani Sánchez faz lembrar de Armando Valladares, igualmente festejado na metade dos anos 80 do século 20 e tratado como intelectual, cuja obra não nos era dada conhecer pela censura do governo de Cuba. Valladares pediu asilo aos EUA, o que foi concedido.
Adquiriu a cidadania norte-americana e foi nomeado embaixador na Comissão de Direitos Humanos da ONU nas administrações Reagan e Bush-pai. Depois nunca mais se ouviu falar dele. Seu livro, pela sofrível qualidade, não mereceu reedição. Trata-se de um raro caso de ‘intelectual’ asfixiado pela liberdade.
Yoani reclama que a censura não lhe permite acesso à imprensa cubana, que na maior parte do tempo sua página na internet fica fora do ar e que por isso não é conhecida no seu país. Se Yoani morasse na periferia do Rio de Janeiro ou usasse a internet pelo meu provedor de acesso, teria maiores motivos para reclamar.
Dizemo-nos em liberdade no Brasil apesar da fila do SUS, do chicoteamento pelos seguranças da SuperVia, do controle das empresas de comunicação por apenas seis famílias, do assassinato de uma juíza pela polícia do Estado, em razão de sua atividade profissional, e da cobrança judicial de ‘taxa de segurança’ por milícias, a pretexto de ‘condomínio de rua’.
Ainda assim consideramos que falta liberdade é em Cuba, onde vacina contra alguns tipos de câncer foi descoberta, mas poucos sabem disto, dada a liberdade das empresas de comunicação em não nos informar.
Brizola dizia que alguns empresários da mídia brasileira tratam aqueles que não lhes defendem os interesses como pessoas a serem isoladas ou mandadas para a Sibéria. No máximo a elas se referem negativamente. Uma empresa aproveitou o mote e em sua propaganda inverteu a lógica. Na sua concepção, isolados na Sibéria estão os que não adquirem seus produtos, e não aqueles proibidos de aparecer positivamente em seus noticiários. Skavurska!
João Batista Damasceno é doutor em Ciência Política pela UFF e juiz de Direito. Membro da Associação Juízes para a Democracia.
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