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sábado, 27 de outubro de 2012

Quando Fidel perfilou o que seriam depois as linhas fundamentais da saúde pública cubana

Por Orfilio Peláez no GRANMA

DECORRIAM os últimos meses de 1962 e Cuba fervilhava, em meio dum convulso panorama, marcado pelos efeitos do recém-instaurado bloqueio econômico, comercial e financeiro, os atos terroristas da contrarrevolução interna, e o perigo cada vez mais próximo duma agressão militar direta do governo dos Estados Unidos.

Em meio de tão difíceis circunstâncias e alentados por essa nação do Norte, tinha lugar o êxodo de profissionais de diversos ramos, especialmente médicos. Já naquele tempo, mais de três mil médicos tinham abandonado o país, metade dos que havia em 1959.

A resposta da Revolução foi aceitar tão difícil desafio e pôr em andamento um audacioso programa para a formação em massa de médicos, cujo anúncio aconteceu no ato de abertura do Instituto das Ciências Básicas e Pré-clínicas (ICBP) Victoria de Girón, inaugurado em 17 de outubro de 1962.

Aquela histórica cerimônia foi mais além da simples formalidade do início dum ano letivo ou do início do funcionamento dum novo centro docente. Foi a ocasião em que, pela primeira vez, de maneira pública, Fidel Castro perfilou o que seriam as linhas fundamentais da saúde pública cubana para os anos futuros, incluída a concepção do novo profissional da Medicina, que precisava a Pátria.

O comandante-em-chefe expressou então: “Com que se pode contar, já, desde agora? Com várias centenas de magníficos companheiros que irão graduando-se todos os anos e irão reforçando o contingente de médicos revolucionários, e que irão dando ao país a contribuição duma mentalidade nova, duma concepção nova da função do médico; que tal como a do professor, o povo deve ter na mais alta estima... e essa massa já significará uma contribuição por ano e uma consciência firme, limpa, de médicos despojados de todo sentido egoísta e mercantil”.

E acrescentava: “Onde está a verdadeira e definitiva solução do problema, onde? Com vista ao futuro, a única, a verdadeira, a definitiva solução é a formação em massa de médicos. E a Revolução tem forças e tem recursos e tem organização e tem homem, homens! que é o mais importante, para começar um plano de formação de médicos, nas quantidades que forem necessárias. E não só bons como médicos, mas bons como homens e mulheres, como patriotas e revolucionários”.

Foi também no memorável ato que Fidel perfilou a grande aspiração de ir passando da Medicina terapêutica à preventiva, através das vacinações em massa contra doenças como o tétanos, a difteria e o coqueluche, e expôs a necessidade de enviar 50 médicos voluntários para ajudarem o povo argelino, recém-liberado do colonialismo francês.

Com uma matrícula próxima dos dois mil alunos, começou esse primeiro ano.letivo, o embrião da colossal obra que converteu a saúde numa das conquistas mais prezadas do projeto socialista, ao garantir o pleno acesso de cada cubano aos serviços gratuitos.

Mas apenas começadas as aulas, deflagrou a Crise dos Mísseis e os jardins e áreas exteriores da Escola de Medicina se converteram em sólidos emprazamentos artilheiros, prontos a defender a soberania da nação, perante a iminente invasão norte-americana.

Perante a ameaça de extermínio que pairava sobre o país, a totalidade dos alunos ocuparam, sem hesitar, seus postos de combate, e permaneceram mobilizados até desaparecer o perigo imediato da agressão.

Dentro do primeiro grupo de estudantes do ICBP Victoria de Girón figuraram os jovens bolivianos Mario Gutiérrez Ardaya e Freddy Maimura, que estando no terceiro ano da carreira abandonaram seus estudos para integrar a guerrilha de Che Guevara na Bolívia, onde morreram combatendo pela liberdade do irmão país latino-americano.

No decurso destes cinquenta anos, a instituição multiplicou grandemente seus propósitos fundacionais, ao graduar milhares de jovens cubanos e de outros noventa países, em Medicina, Odontologia, Licenciatura em Enfermagem e Tecnologias da Saúde.

Hoje, é uma das doze faculdades de Medicina da Universidade das Ciências Médicas de Havana, nela estudam jovens de aproximadamente 40 nacionalidades e desenvolve importantes ações de superação e capacitação de pós-graduação, promove a pesquisa científica e funciona como centro reitor para a área da Biomedicina e da criação do modelo de policlínica universitária.

O surgimento de Girón, como preferem chamá-la alunos e professores, foi a gênese dos sonhos da máxima direção do país, na área da saúde, verdadeiro centro para a formação de profissionais do setor comprometidos com o povo.

Teve o mérito de converter os estudantes em parte essencial da obra da Revolução, demonstrando de maneira fidedigna que era possível mesmo construir um sistema social com homens e mulheres que praticassem a solidariedade e fizessem do atendimento ao paciente um sacerdócio.

A insigne escola foi capaz de incutir-lhes a ideia de que seu dever era estar onde mais precisassem deles, que o sofrimento humano não poderia tratar-se como simples mercadoria, e que em qualquer lugar sempre deviam ressaltar pela modéstia, a ética, o desinteresse, a elevada preparação profissional e o bom tratamento, esgotando todas as possibilidades para salvar uma vida ou evitar o aparecimento de doenças.

Depois de meio século percorrido, há fartos exemplos para compreender a certeza das sugestões feitas por Fidel quando fundou Girón. Basta assinalar que apenas no passado ano letivo 2011-2012 em nossas universidades se formaram, aproximadamente, onze mil médicos, quase o dobro dos que havia quando triunfou a Revolução, enquanto o número total de médicos graduados ultrapassa os cem mil desde 1959 até o momento, dos quais algo mais de 73 mil exerciam sua profissão a plenitude, no fechamento do primeiro semestre de 2011.

Sirva também esta data para honrar os médicos que ficaram junto ao povo, e puseram todo seu talento e energia a serviço de formar os novos profissionais da saúde, em meio dos esforços mais intensos do império por derrocar o jovem poder revolucionário, verdadeira proeza da qual os cubanos sentimos sadio orgulho.

- Esta escola marcou o início da formação em massa de médicos.

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