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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Cultura Cubana: os 90 anos do índio Naborí

A austera ternura de um homem inesquecível

Fonte: Granma

Jesus Orta Ruiz, o Indio Naborí
Agora que celebramos o 90º aniversário da Rádio Cubana, cabe lembrar um fato ocorrido em Havana, em 1955, a chamada Controvérsia do Século, entre Angelito Valiente e Jesus Orta Ruiz, o índio Nabori, que teve lugar no programa Competição Nacional de Trovadores, que transmitia o Circuito CMQ.

O programa consistia em animadas controvérsias dos mais notáveis repentistas, entre os quais se destacava o próprio Valiente (San Antonio de los Baños, Artemisa) e o Indio Naborí, que em 30 de setembro, se seu coração não tivesse deixado de bater em 30 de dezembro de 2005, completaria 90 anos de idade.

Naborí esteve sempre junto a seu povo, no coro da melhor poesia cubana contemporânea. Sua voz se destacou de maneira excepcional, por suas singulares características e cuja obra tem raízes na tradição artística popular da música sertaneja, que utiliza como canção folclórica a forma estrófica da décima crioula.

O Indio elevou essa modalidade do gênero musical camponês à mais alta categoria estética. Aportou à décima cubana uma linguagem culta e expressiva e outras conquistas da poesia moderna.

De suas raízes profundas, o poeta deixou fluir seu verso por todos os registros de formas estróficas, sem esquecer as clássicas, nas quais também foi mestre.

Sua poesia expressa com graça inconfundível e perdurável ressonância os mais puros acentos da sensibilidade humana e as mais sagradas aspirações nacionais de soberania, justiça e liberdade.

Ao longo da obra de Naborí, pode-se constatar que foi um poeta do amanhecer. Incontáveis são as vezes em que se refere à paisagem amanhecendo, à saída do Sol ou os acontecimentos mesmos nos seus inícios, às estrelas. Ele foi um poeta da alvorecer tanto, que nomeou sua filha – nascida entre dois meninos, Jesus e Fidel – Alba.


Ángel Valiente e Naborí quando protagonizaram a emblemática Controversia del Siglo



Eles são frutos da história de amor vivida por mais de 50 anos com Eloína Pérez Collazo, sua estrela, a mulher que fazia o melhor chá de Havana, a quem lhe dedicou o comovedor poema Con tus ojos míos, por seu amor e entrega, a cuja missão de guia lhe cantou o poeta - !Ay quién me diría que/ los ojos que ayer canté/ hoy fueran mis propios ojos!

Prêmio Nacional de Literatura destacou-se, também na prosa, reconhecida e laureada, na qual abarca diversos gêneros, ensaios, estudos de tradições, folclore, e uma extensa obra jornalística. Igualmente, resgatou as memórias de Juan Nápoles Fajardo, o Cucalambé em cuja jornada está presente cada ano a recordação de Naborí.

O Indio Naborí ensinou-nos que na Revolução não existem caminhos incertos nem forçados, que a modéstia e a honradez, entre outras, são qualidades essenciais do ser humano.

Não existe melhor biografia de um poeta que seus próprios versos. Comove o homem que está atrás de cada texto, aquele que viu morrer seu primeiro filho, que saiu às ruas para compartilhar o júbilo da queda da tirania batistiana em 1959 e que refletiu sobre a morte, desde o amor à vida. Fontes de inspiração para desnudar sua alma no poema La fuga de Angel, os dez sonetos de Una parte consciente del crepúsculo ou o mais famoso de seus poemas políticos Marcha triunfal del Ejército Rebelde.

Desta vez, Eloína, Alba, Jesus, Fidel, repentistas, admiradores e povo em geral, poderemos compartilhar com ele seus 90 anos de idade. Então, a saudade se torna indestrutível. Tampouco prescindiremos de seu octossílabo infinito. Lembraremos dele, neste 30 de setembro, Dia da Décima Ibero-americana, estabelecido em sua honra, com cantadores da Ilha toda e de outros de fala hispânica, onde prima essa austera ternura que o torna para sempre um homem inesquecível. 

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